quinta-feira, 31 de março de 2011

Os super-ricos do mundo

Os multimilionários prosperam e as desigualdades aprofundam-se quando as economias "recuperam"

por James Petras

As operações de salvamento de bancos, especuladores e industriais cumpriram o seu verdadeiro objectivo: os milionários passaram a multimilionários e estes ficaram ainda mais ricos. Segundo o relatório anual da revista de negócios Forbes, há 1210 indivíduos – e em muitos casos clãs familiares – com um valor líquido de mil milhões de dólares (ou mais). O seu valor líquido total é de 4,5 milhões de milhões de dólares, maior do que o valor total de 4 mil milhões de pessoas em todo o mundo. A actual concentração de riqueza ultrapassa qualquer período anterior da história; desde o Rei Midas, os Marajás, e os Barões Ladrões [1] até aos magnates de Silicon Valley [2] e Wall Street na actual década.

Uma análise da origem da riqueza dos super-ricos, a sua distribuição na economia mundial e os métodos de acumulação esclarece diversas diferenças importantes com profundas consequências políticas. Vamos identificar essas características especiais dos super-ricos, a começar pelos Estados Unidos e faremos depois uma análise ao resto do mundo.

Os super-ricos nos Estados Unidos: os maiores parasitas vivos

Os EUA têm a maior parte dos multimilionários do mundo (413), mais de um terço do total, a maior proporção entre os grandes países do mundo. Um olhar mais de perto também revela que, entre os 200 multimilionários do topo (os que têm 5,2 mil milhões de dólares ou mais), 57 são dos EUA (29%). Mais de um terço fez fortuna através da actividade especulativa, da predação da economia produtiva e da exploração do mercado imobiliário e de acções. Esta é a percentagem mais alta de qualquer dos principais países na Europa ou na Ásia (com a excepção da Inglaterra). A enorme concentração de riqueza nas mãos desta pequena classe dirigente parasita é uma das razões por que os EUA têm as piores desigualdades de qualquer economia avançada e se situa entre as piores em todo o mundo. Os especuladores não empregam trabalhadores, servem-se de expedientes fiscais e de operações de salvamento e depois pressionam cortes no orçamento social, dado que não precisam de uma força de trabalho saudável e instruída (excepto no que se refere a uma pequena elite). Em 1976, 1% da população mundial detinha 20% da riqueza; em 2007 dominava 35% da riqueza total. Oitenta por cento dos americanos possuem apenas 15% da riqueza. As recentes crises económicas, que inicialmente reduziram a riqueza total do país, fizeram-no de modo desigual – atingindo de modo mais grave a maioria dos operários e empregados. A operação de salvamento Bush-Obama levou à recuperação económica, não da "economia em geral", mas restringiu-se a reforçar ainda mais a riqueza dos multimilionários – o que explica porque é que a taxa de desemprego e subemprego ficou praticamente na mesma, porque é que a dívida fiscal e o défice comercial aumentam e o estado baixa os impostos às grandes empresas e reduz os orçamentos municipais, estatais e federais. O sector "dinâmico" formado por capitalistas parasitas emprega menos trabalhadores, não exporta produtos, paga impostos mais baixos e impõem maiores cortes nas despesas sociais para os trabalhadores produtivos. No caso dos multimilionários dos EUA, a sua riqueza é fortemente acrescida através da pilhagem do erário público e da economia produtiva e através da especulação no sector das tecnologias de informação que alberga um quinto dos multimilionários do topo.

BRIC: Os novos multimilionários: A explorar o trabalho da natureza

Os principais países capitalistas emergentes, Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC), elogiados pelos meios de comunicação pelo seu rápido crescimento na última década, estão a produzir multimilionários a um ritmo mais rápido do que qualquer bloco de países do mundo. Segundo os últimos dados no Forbes (Março de 2011), o número de multimilionários no BRIC aumentou mais de 56% de 193 em 2010 para 301 em 2011, ultrapassando os da Europa.

O forte crescimento do BRIC levou à concentração e centralização de capital, em todos os casos promovidos pelas políticas de estado que proporcionam empréstimos a juros baixos, subsídios, incentivos fiscais, exploração ilimitada de recursos naturais e mão-de-obra, expropriação dos pequenos proprietários e privatização de empresas públicas.

O crescimento dinâmico de multimilionários no BRIC levou às desigualdades mais flagrantes em todo o mundo. Nos países do BRIC, a China lidera o caminho com o maior número de multimilionários (115) e as piores desigualdades em toda a Ásia, em profundo contraste com o seu passado comunista quando era o país mais igualitário do mundo. Um exame da origem da riqueza dos super ricos na China revela que provém da exploração da força de trabalho no sector da manufactura, da especulação no imobiliário e da construção e comércio. EM 2011, A China ultrapassou os EUA enquanto maior fabricante do mundo, em consequência da super-exploração da mão-de-obra na China e do crescimento de capital financeiro parasitário nos EUA.

Em contraste com os EUA, a classe trabalhadora da China está a fazer incursões significativas nas receitas da sua elite de manufacturas e de imobiliário. Em consequência da luta da classe trabalhadora, os salários têm vindo a aumentar entre 10% a 20% nos últimos 5 anos; os protestos dos agricultores e das famílias urbanas contra as expropriações feitas pelos especuladores imobiliários e sancionadas pelo estado ultrapassaram os 100 mil por ano.

A riqueza dos multimilionários russos, por outro lado, resultou do violento roubo dos recursos públicos (petróleo, gás, alumínio, ferro, aço, etc.), explorados pelo anterior regime. A grande maioria dos multimilionários russos depende da exportação de bens, da pilhagem e da devastação do ambiente natural sob um regime corrupto e sem regulamentação. O contraste entre as condições de vida e de trabalho entre os multimilionários virados para o ocidente e a classe trabalhadora russa é sobretudo o resultado do escoamento da riqueza para contas ultramarinas, investimentos offshore e luxos pessoais extraordinários, incluindo propriedades de muitos milhões de dólares. Em contraste com a elite industrial da China, os multimilionários da Rússia parecem-se com os 'senhorios' parasitas que se encontram entre os especuladores de Wall Street e os xeiques do Golfo Pérsico.

Os multimilionários da Índia são uma mistura de ricos antigos e novos ricos que amontoam a sua riqueza através da exploração dos trabalhadores industriais de salários baixos, das populações de bairros pobres expropriados e dos povos tribais, assim como da posse diversificada de imobiliário, tecnologia informática e software. Os multimilionários da Índia acumularam a sua riqueza através das suas ligações familiares com os escalões mais altos, muito corruptos, da classe política, assegurando monopólios através de contratos com o estado. O forte crescimento da Índia na última década (7% em média) e a explosão de multimilionários de 55 para 2011, estão ambos ligados às políticas neo-liberais de desregulamentação, privatização e globalização, que concentraram a riqueza no topo, corroeram os produtores em pequena escala e espoliaram dezenas de milhões.

A classe multimilionária do Brasil aumentou rapidamente, em particular sob a direcção do Partido dos Trabalhadores, para 29, acima do número de um só dígito uma década antes. Hoje, mais de dois terços dos multimilionários da América Latina são brasileiros. A peça central da riqueza dos super ricos do Brasil é o sector finanças-banca que beneficiou fortemente das políticas monetária, fiscal e neo-liberal do regime de Lula da Silva. Os banqueiros multimilionários têm sido os principais beneficiários da economia de exportação agro-mineral que floresceu na última década, à custa do sector de manufacturas. Apesar das afirmações dos líderes do Partido dos Trabalhadores, as desigualdades de classe entre a massa dos trabalhadores de salário mínimo (380 dólares por mês em Março de 2011) e os super-ricos continuam a ser as piores da América Latina. Uma análise da origem da riqueza entre os multimilionários brasileiros revela que 60% aumentaram a sua riqueza no sector finanças, imobiliário e seguros (FIRE) e só um deles (3%) no sector de capital ou manufactura intermédia. A explosão do Brasil em crescimento económico e em multimilionários encaixa no perfil de uma 'economia colonial': com grande peso no consumo excessivo, na exportação de bens e presidido por um sector financeiro dominante que promove políticas neoliberais. No decurso da última década, apesar do teatro político populista e dos programas de pobreza paternalistas patrocinados pelo Partido dos Trabalhadores "centro-esquerda", o principal resultado sócio-económico foi o crescimento duma classe de multimilionários "super-ricos" concentrados na banca com poderosas ligações aos sectores do agro-mineral. A classe financeira-agro-mineral, de forte crescimento via mercado livre, degradou o sector de manufactura, principalmente os têxteis e os sapatos, assim como os produtores de bens de capital e intermédios.

Os países BRIC estão a produzir mais, e a crescer mais depressa do que as potências imperialistas estabelecidas na Europa e nos EUA, mas também estão a produzir desigualdades e concentrações monstruosas de riqueza. As consequências sócio-económicas já se manifestaram no aumento do conflito de classes, principalmente na China e na Índia, onde a exploração intensiva e a expropriação provocaram a acção das massas. A elite política chinesa parece estar mais consciente da ameaça política colocada pela concentração crescente da riqueza e encontra-se em vias de promover aumentos substanciais de salários e um maior consumo local que parece estar a reduzir as margens de lucro nalguns sectores da elite de manufacturas. Talvez que a 'memória histórica' da 'revolução cultural' e a herança maoista desempenhe o seu papel no alerta da elite política para os perigos políticos resultantes dos "excessos capitalistas" associados aos altos níveis de exploração e ao rápido crescimento duma classe de clãs politicamente relacionados, baseados em multimilionários.

Médio Oriente

Na última década, o país mais dinâmico no Médio Oriente foi a Turquia. Dirigido por um regime democrático liberal de inspiração islâmica, a Turquia tem liderado a região no crescimento do PIB e na produção de multimilionários. O desempenho económico turco tem sido apresentado pelo Banco Mundial e pelo FMI como um modelo para os regimes pós ditatoriais no mundo árabe – de 'alto crescimento', uma economia diversificada baseada na crescente concentração de riqueza. A Turquia tem mais 35% de multimilionários (37) do que os estados do Golfo e do Norte de África em conjunto (24). O 'segredo' do crescimento turco é as altas taxas de investimento em diversas indústrias e a exploração intensiva da força de trabalho. Muitos multimilionários turcos (14) obtêm a sua riqueza através de 'conglomerados', investimentos em diversos sectores de manufactura, finança e construção. Para além dos multimilionários de 'conglomerados', há 'multimilionários especialistas' que acumularam a sua riqueza a partir da banca, da construção e do processamento de alimentos. Uma das razões de a Turquia ter censurado e desafiado o poder de Israel no Médio Oriente é porque os seus capitalistas estão ansiosos por projectar investimentos e penetrar nos mercados do mundo árabe. Com excepção do sistema político americano, fortemente sionizado, as elites governantes e o público na Europa e na Ásia encararam favoravelmente a oposição da Turquia aos massacres israelenses em Gaza e à violação da lei internacional em águas marítimas. Se um moderno regime islâmico liberal pode crescer rapidamente através da rápida expansão duma classe diversificada de super-ricos, o mesmo acontece com Israel, um moderno estado judaico-neoliberal baseado no rápido crescimento duma classe de multimilionários altamente diferenciada.

Israel, com 16 multimilionários é um país em que as desigualdades de classe crescem mais rapidamente na região – com o mais alto número de multimilionários per capita do mundo… Os "sectores de crescimento" de Israel, software, indústrias militares, finança, seguros e diamantes e investimentos ultramarinos em metais e minas, são liderados por multimilionários e multi-multimilionários que beneficiaram das dádivas financeiras induzidas pelos sionistas, provenientes da pilhagem de recursos feita pelos EUA nos países da ex-URSS e da transferência de fundos pelas oligarquias russas-israelenses e também de empreendimentos conjuntos com multimilionários judaico-americanos em empresas de software, principalmente no sector de "segurança".

A alta percentagem de multimilionários em Israel, numa época de profundos cortes nas despesas sociais, desmente a sua afirmação de ser uma 'social-democracia' no meio dos 'xeicados'. A propósito, Israel tem o dobro de multimilionários (16) da Arábia Saudita (8) e mais super-ricos do que todos os países do Golfo juntos (13). O facto de Israel ter mais multimilionários per capita do que qualquer outro país não impediu os seus apoiantes sionistas nos EUA de pressionarem por uma ajuda adicional de 20 mil milhões de dólares na década passada. Contrariamente ao passado, a actual concentração de riqueza de Israel tem menos a ver com o facto de ser o maior recebedor de ajuda estrangeira… as doações a Israel são uma questão política: o poder sionista sobre a bolsa do Congresso. Dada a riqueza total dos multimilionários de Israel, um imposto de cinco por cento seria mais que compensador de qualquer corte da ajuda externa dos EUA. Mas isso não vai acontecer apenas porque o poder sionista na América impõe que os contribuintes americanos subsidiem os plutocratas de Israel, pagando-lhes o seu armamento ofensivo.

Conclusão

As "crises económicas" de 2008-2009 infligiram apenas perdas temporárias a alguns multimilionários (EUA-UE) e a outros não (asiáticos). Graças às operações de salvamento de milhões de milhões de dólares/euros/ienes, a classe multimilionária recuperou e alargou-se, apesar de os salários nos EUA e na Europa terem estagnado e os 'padrões de vida' terem sido atingidos por cortes maciços na saúde, na educação, no emprego e nos serviços públicos.

O que é chocante quanto à recuperação, crescimento e expansão dos multimilionários mundiais é como a sua acumulação de riqueza depende e está baseada na pilhagem de recursos do estado; como a maior parte das suas fortunas se basearam nas políticas neoliberais que levaram à apropriação a preços de saldos de empresas públicas privatizadas; como a desregulamentação estatal permite a pilhagem do ambiente para a extracção de recursos com a mais alta taxa de retorno; como o estado promoveu a expansão da actividade especulativa no imobiliário, na finança e nos fundos de pensões, enquanto encorajava o crescimento de monopólios, oligopólios e conglomerados que captaram "super lucros" – taxas acima do "nível histórico". Os multimilionários no BRIC e nos antigos centros imperialistas (Europa, EUA e Japão) foram os principais beneficiários das reduções fiscais e da eliminação de programas sociais e de direitos laborais.

O que é perfeitamente claro é que é o estado, e não o mercado, quem desempenha um papel essencial em facilitar a maior concentração e centralização de riqueza na história mundial, quer facilitando a pilhagem do erário publico e do ambiente, quer aumentando a exploração da força de trabalho, directa e indirectamente.

As variantes nos caminhos para o estatuto de 'multimilionário' são chocantes: nos EUA e no Reino Unido, predomina o sector parasita-especulativo sobre o produtivo; entre o BRIC – com excepção da Rússia – predominam diversos sectores que incorporam multimilionários da manufactura, do software, da finança e do sector agro-mineral. Na China, o abissal fosso económico entre os multimilionários e a classe trabalhadora, entre os especuladores imobiliários e as famílias expropriadas levou ao aumento do conflito de classes e a desafios, forçando a aumentos significativos de salários (mais de 20% nos últimos três anos) e à exigência de maiores gastos públicos na educação, saúde e habitação. Nada de comparável está a acontecer nos EUA, na UE ou noutros países do BRIC.

As origens da riqueza dos multimilionários são, quando muito, devidas apenas em parte a 'inovações empresariais'. A sua riqueza pode ter começado, numa fase inicial, a partir da produção de bens ou serviços úteis; mas, à medida que as economias capitalistas 'amadurecem' e se viram para a finança, para os mercados ultramarinos e para a procura de lucros mais altos, impondo políticas neoliberais, o perfil económico da classe multimilionários muda para o modelo parasita dos centros imperialistas instituídos.

Os multimilionários nos BRIC, a Turquia e Israel contrastam fortemente com os multimilionários do petróleo do Médio Oriente que são rentistas que vivem das 'rendas' da exploração do petróleo, do gás e dos investimentos ultramarinos, em especial do sector FIRE. Entre os países BRIC, só a oligarquia multimilionária russa se parece com os rentistas do Golfo. O resto, em especial os multimilionários chineses, indianos, brasileiros e turcos, tiraram partido das políticas industriais promovidas pelo estado para concentrar a riqueza sob a retórica de 'paladinos nacionais', que promovem os seus próprios 'interesses' em nome duma 'economia emergente de sucesso'. Mas mantêm-se as questões básicas de classe: "crescimento para quem? e a quem é que beneficia?" Até agora, o registo histórico mostra que o crescimento de multimilionários tem-se baseado numa economia altamente polarizada em que o estado serve a nova classe de multimilionários, sejam especuladores parasitas como nos EUA, rentistas saqueadores do estado e do ambiente, como na Rússia e nos estados do Golfo, ou exploradores da força de trabalho como nos países BRIC.

Post Scriptum

A revolta árabe pode ser vista em parte como uma tentativa de derrubar os 'clãs capitalistas de rentistas. A intervenção ocidental nas revoltas e o apoio das elites militares e políticas da "oposição" é um esforço para substituir uma classe governante capitalista 'neoliberal'. Essa "nova classe" será baseada na exploração da mão-de-obra e na expropriação dos actuais possuidores dos recursos clã-família-amigos. As principais empresas serão transferidas para multinacionais e capitalistas locais. Muito mais promissoras são as lutas internas dos trabalhadores na China e, em menor grau, no Brasil e no campesinato rural maoista e movimentos tribais na Índia, que se opõem à exploração e à expropriação de rentistas e capitalistas.

NT
[1] Barão ladrão – termo pejorativo usado para um poderoso homem de negócios e banqueiro americano do século XIX.
[2] Sillicon Valley – situa-se a Sul da área da baía de S. Francisco, na Califórnia. Esta região alberga muitas das maiores companhias de tecnologia electrónica do mundo.

O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=23907 .
Tradução de Margarida Ferreira.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

EUA: Mantendo aparências

por William Bowles







"Os EUA assinalaram que a comunidade internacional deveria "ir além" de uma zona de interdição de voo na Líbia, sugerindo pela primeira vez a intervenção". — "West should 'go beyond' no-fly zone, US says" The Daily Telegraph, 20 March 2011

Então porque não há uma "zona de interdição de voo" sobre a Costa do Marfim, ou o Iémen ou o Bahrain ou na verdade sobre qualquer país onde o Estado esteja a matar os seus cidadãos? O que é que torna a Líbia diferente? Pode ser que a campanha de propaganda histérica quanto aos abusos de direitos humanos de Kadafi nos media ocidentais esteja relacionada com o que o responsável da NATO Anders Fogh Rasmussen disse aos seus ouvintes polacos:

"Quando olho para a Europa central e oriental fico extremamente optimista acerca do futuro que podemos alcançar na África do Norte" — 'NATO: Libya Military Intervention: Model For North Africa' , Reuters, 17 March 2011

Refere-se aos derrubes com êxito dos antigos membros do Bloco do Leste e, naturalmente, à destruição da Jugoslávia. Assim, a Líbia está para ser o primeiro dentro muitos países que, de acordo com Rasmussen, estão em vias de obter "assistência humanitária" estilo NATO.

Na realidade, tendo sido apanhada a dormitar na região, a invasão nominalmente apoiada pela ONU é uma tentativa do Império para recuperar o controle não só da resultante da rebelião da Líbia como também para estabelecer o cenário para muito mais — e não para a democracia ou direitos humanos mas sim para assegurar controle sobre os activos petrolíferos vitais (para o Ocidente) da Líbia, os maiores da África, e para assegurar o controle geral do Império sobre a região.

Como escrevi anteriormente, criar uma "zona de interdição de voo" é um acto de guerra, ponto de vista que é confirmado pelo embaixador dos EUA na ONU, Rice:

"Um diplomata no conselho de segurança disse à Associted Press que Rice afirmara que o objectivo deveria ser expandido para além da criação de uma zona de interdição de voo para proteger civis. Para isto, a comunidade internacional deve dispor de todas as ferramentas necessárias – incluindo autorização para utilizar aviões, tropas ou navios para travar ataques das forças de terra, mar e ar de Kadafi... o Pentágono descreveu [a zona de interdição de voo) como uma medida equivalente à guerra". — 'Authorise Libya air strikes, US urges UN' The Guardian, 17 March 2011

A "zona de interdição" é de facto um acto de guerra contra a Líbia pois para impô-la é preciso primeiro destruir a capacidade militar do inimigo para actuar, do contrário seriam apenas palavras. Mas pior ainda é a gigantesca mentira que foi impingida pelo Império quanto a acontecimentos na Líbia utilizados para justificar esta acção horrenda, todos os quais tem ocorrido. Já a relatos de mortes civis decorrentes dos ataques de mísseis do Império. Tudo isto é asquerosamente previsível.

Enquanto isso, a esquerda ocidental, tal como ela é, e da mesma forma deprimentemente previsível, agora está numa aflição real. Um jornalista "de esquerda", Gilbert Achcar, escrevendo para a ZCommunications disse o seguinte:

"Assim, para resumir, acredito que de uma perspectiva anti-imperialista ninguém pode nem deveria opor-se à zona de interdição de voo, uma vez que não há alternativa plausível para proteger a população em perigo. O egípcios segundo dizem estão a proporcionar armas à oposição líbia — e isso é bom — mas em si mesmo isso não poderia ter feito uma diferença que salvasse Bengazi a tempo. Mas, mais uma vez, deve-se manter uma atitude muito crítica em relação ao que as potências ocidentais podem fazer". —'Libyan Developments', March 19, 2011

Será isto a "esquerda" a falar numa bem conhecida plataforma "de esquerda"? Por que neste mundo Achcar pensa que o Egipto, ainda uma ditadura militar, está interessada em direitos humanos na Líbia? Achcar justifica isso utilizando o mesmo argumento do Império, de que isto está a ser feito para impedir que Kadafi cometa atrocidades. Então porque Achcar não advogou uma "zona de interdição de voo" há muito mais tempo se ele acredita que isso teria impedido atrocidades de Kadafi? Por falar nisso, porque o Império não o fez?

Perco a esperança...

Absorto em todas as alegações de um "reino de terror" de Kadafi, armado pelos mesmos que estão agora ocupados a destruí-lo, ao invés de centrar nos motivos porque o Império estava tão preocupado com o regime de Kadafi, na verdade a armar Israel quando este dizimava Gaza, esta "esquerda" é agora apanhada no assalto propagandístico do ocidente acerca da defesa de "direitos humanos"! Recordo a propósito que os media de referência fazem grande estardalhaço quando propagandeiam a favor Império, declarando em numerosas ocasiões que só deveria ser utilizada a força para defender civis.

Mas tal como a infame Resolução da ONU que levou à invasão da Líbia, "defender civis" é uma declaração vazia e totalmente vaga que pode ser interpretada de qualquer modo.

O que não entendo é porque a Rússia e a China abstiveram-se de votar excepto pela afirmação feita pelo responsável do Partido Comunista da Rússia, Gennady Zyuganov, de que:

"Foram feitas mudanças no documento pouco antes da votação, embora tenham sido acordadas pelas partes. Estas mudanças são de facto alçapões para o lançamento de uma intervenção terrestre em grande escala" — 'Russian Communist leader slams Moscow's passive stance on Libya', RT , 18 March 2011

Contudo, a Rússia tendo já apoiado a ideia de uma "zona de interdição de voo" tinha de saber o que isso realmente implicava. O embaixador da Rússia na ONU justificou a sua abstenção como se segue:

"Asseverando que a Rússia não vetou a resolução porque estava "orientada pela necessidade de proteger civis e por valores humanitários gerais", ele permanecia convencido de que "um cessar-fogo imediato é o modo mais rápido para a segurança confiável da população pacífica e para a estabilização a longo prazo na Líbia"".

É vergonhoso por parte da Rússia após todo o ar quente acerca de se opor veementemente a qualquer intervenção estrangeira nos assuntos internos da Líbia. Adiante...

"Revolução" da Líbia inspirada e arquitectada pelos EUA?

Desde o princípio, a rebelião líbia foi apresentada como uma continuação das rebeliões em outras partes do Médio Oriente/África do Norte e os Estados/media de referência frequentemente utilizam as "revoluções" alhures como justificação para apoiar a "revolução" líbia, deixando de mencionar naturalmente que até agora não tem havido revoluções em qualquer parte do Médio Oriente ou África do Norte. De facto, o oposto é que tem sido o caso, com o Estado a assassinar seus cidadãos no Bahrain, na Arábia Saudita e no Iémen e nenhum sinal de os mísseis do Império choverem sobre o Bahrain, o Iémen ou Arábia Saudita abastecidos com arsenais dos EUA.

"Numa iniciativa para impor novas restrições ao governo líbio, o Departamento do Tesouro sancionou o ministro dos Negócios Estrangeiros do país, que foi activo chave da CIA ao longo de anos" — 'US Tightens Screws On Libya, Sanctioning Foreign Minister And 16 Companies' , New York Times, 15 March, 2011

O que sabemos é que a CIA e a National Endowment for Democracy (NED), a trabalharem em conjunto para o governo estado-unidense, estão fortemente envolvidas no apoio à "revolução" líbia e, como ilustra a notícia acima do NYT, os EUA têm agentes dentro do governo Kadafi desde há anos.

"A FNSL faz parte da National Conference for the Libyan Opposition estabelecida em Londres em 2005 e estão a ser utilizados recursos britânicos para apoiar a FNSL e outras "oposições" na Líbia. A FNSL foi realmente formada em Outubro de 1981 no Sudão sob o coronel Jaafar Nimieri – o fantoche estado-unidense que era amplamente conhecido como operacional da Central Intelligence Agency e que dominou o Sudão implacavelmente desde 1977 até 1985. A FNSL realizou o seu congresso nacional nos EUA em Julho de 2007. Relatórios de "atrocidades" e mortes civis estão a ser canalizados para imprensa ocidental a partir de operações em Washington DC, e a oposição FNSL está confirmadamente a organizar resistência e ataques militares tanto dentro como fora da Líbia". — 'Petroleum and Empire in North Africa. NATO Invasion of Libya Underway' , By Keith Harmon Snow, 2 March 2011.

Um estratagema esperto foi tramado pelo Império e seus cúmplices bem antes da invasão de ontem incluindo, estou certo, envolvimento directo na rebelião. [1]

Primeiro, esperar e ver se os rebeldes podem encenar um golpe com êxito. Se não – e foi o que aconteceu com as forças de Kadafi prontas para recuperarem Bengazi – persuadir aqueles em dúvida de que Kadafi estava prestes a cometer horrores indizíveis (já gerados desde o primeiro dia da rebelião com os rumores não fundamentados das atrocidades de Kadafi e de mercenários africanos) e pressionar por uma resolução ilimitada do Conselho de Segurança que desse ao Império rédea livre para fazer o que quer que quisesse fazer com a Líbia.

E para tornar todo o caso sórdido e ilegal mais palatável para um mundo bastante habituado a ser "libertado" pela "generosidade" dos EUA na sua distribuição de democracia, fazer tudo isto através de uma frente anglo-francesa (eles que têm mais a perder na Líbia, juntamente com os italianos, devido às suas concessões petrolíferas) mas com os EUA a puxarem todos os cordões (e a dispararem a maior parte dos mísseis).

Um acordo cínico e sórdido digno apenas de piratas que tiveram êxito em transformar um antigo aliado num ogre, como Manuel Noriega, que também passara a data de validade e na verdade era um embaraço potencial para o Império.

21/Março/2011
[1] Ver 'Obama's Bay of Pigs in Libya: Imperialist Aggression Shreds UN Charter' do Dr. Webster G. Tarpley, para mais informação acerca do envolvimento do Império na "rebelião".

O original encontra-se em http://williambowles.info/2011/03/22/keeping-up-appearances-by-william-bowles-2/ e em
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=23850

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Criminalização da pobreza: Polícia Militar em área de risco


Criminalização da pobreza

A prefeitura de São Paulo declarou que vai ampliar mais uma operação de criminalização da pobreza. Ontem foi noticiado nos jornais que a operação Delegada, que já atua contra o comércio ambulante em diversos bairros, vai se ampliar para as periferias e incluirá também a fiscalização de áreas de risco, para combater ocupações. A Polícia Militar será contratada, em seus períodos de folga, para reprimir ocupações “irregulares” e atividades comerciais. Com isso, o Estado pretende tomar os meios de vida do povo da periferia.

A contratação será feita pelas Subprefeituras e a parceira com o governo do estado conta com o recurso de 100 milhões de reais, para colocar 3.500 homens trabalhando. Além da Secretaria Municipal de Habitação declarar explicitamente que contrata jagunços para ameaçar população que está sendo despejada, e da grande maioria das Subprefeituras serem comandadas por coronéis (22, das 31 que existem em SP), ainda querem colocar a polícia nessas regiões. Quer dizer, quando o Estado aparece, é apenas para criminalizar a pobreza e destruir as formas que o povo construiu.

Isso é uma ameaça ao povo, e mais uma arma que será usada para a realização ainda mais violenta dos despejos em massa que estão em curso. Não podemos permitir que mais instrumentos contra o povo se instalem em nossas trincheiras!

Fonte: http://redeextremosul.wordpress.com/

Hiroshima nunca mais! Fukushima nunca mais!


Que o conhecimento deixe de ser a caixa preta protegida pelo sigilo comercial da propriedade privada

Por Carlos Walter Porto-Gonçalves

Durante anos cientistas e ativistas denunciaram os males do DDT, do agente laranja e outros subprodutos da indústria militar na “guerra contra as pragas”, enfim, na “luta pela dominação da natureza”, particularmente no mundo da agricultura e da pecuária.

O argumento de que esses cientistas e ativistas era contra o progresso foi brandido ao paroxismo por um bem sucedido lobby das corporações do complexo industrial-financeiro-midiático-militar, nova forma complexa da burguesia característica de um capitalismo cada vez mais complexo (Casanova, 2005).

Basta acessarmos o site da ABAG - Associação Brasileira de Agribusiness – em particular o link dos parceiros da ABAG e lá temos a composição desse novo bloco de poder que se reproduz no Brasil com especificidades de se juntar às velhas/atuais oligarquias latifundiárias. Pois bem, a vaca ficou louca, o frango e o porco gripados colocando em risco a saúde humana em nome desse complexo de poder que se nutre desse mito da “dominação da natureza”.

Ora, a idéia de dominação da natureza é em si mesma uma profecia que não se pode cumprir na própria medida em que dominar é fazer com que alguém ou qualquer outro ser faça não aquilo que quer ou que seja, mas aquilo que outrem quer que faça. Assim, sejam os povos, etnias, classes, gêneros ou a natureza na medida em que são dominados implica que estejam sendo submetidos não ao que são, mas aquilo que querem que sejam.

No mundo contemporâneo em que a ciência e seu subproduto a tecnologia são instrumentos da busca do aumento da produtividade tendo em vista a acumulação de capital, se produz um deslocamento da “promessa iluminista” de que a razão deveria substituir a religião em nome da emancipação humana. Essa “promessa” foi partilhada também por uma corrente hegemônica no seio do pensamento de esquerda que ignorou uma das mais importantes contribuições de Marx para a análise histórica, qual seja, de que não se pode dissociar nenhum fenômeno do seu contexto, em suma, da totalidade das relações sociais (e de poder).

Assim como disse que “o direito não tem história” posto que são os homens (e mulheres) na conformação de suas relações sociais e de poder que o conformam, o mesmo se dá com o mundo técnico-científico. Marx nos deu uma bela demonstração dessa tese com sua crítica à Malthus e sua “lei geral da população” onde a produção de alimentos aumentaria numa progressão aritmética e o crescimento da população numa progressão geométrica. Assim como não há lei de população que escape às formações sociais que as engendram não há lei histórica do desenvolvimento das forças produtivas fora das relações sociais e de poder.

A ciência e a tecnologia cada vez mais são capturadas pelo mundo dos negócios, pelo mundo do capital, o que Milton Santos chamou “meio técnico-científico-informacional” para caracterizar o espaço geográfico contemporâneo. Como bem salientara o geógrafo brasileiro um objeto técnico difere de um objeto natural por ser um objeto impregnado de intencionalidade, ou seja, busca ser um objeto per+feito no sentido de um objeto previamente feito para controlar os efeitos de suas ações.

Ocorre que o mundo não é passivo e mero objeto dos desejos dos que manejam esses objetos. O aquecimento global, por exemplo, é o efeito não desejado de uma matriz energética que tal como Prometeu quis acorrentar o fogo, mas olvidou das leis da entropia. Pensou que inventar o termostato era suficiente para que o motor devidamente programado numa variação máxima e mínima de temperatura fosse suficiente para não aquecer e, assim, dissipasse energia sob a forma de calor e deixasse de trabalhar. A natureza não tem termostato!

Enfim, o paradigma científico de matriz eurocêntrica está fundado num mito que está a serviço da acumulação de capital que é o contexto em que vem se desenvolvendo cada vez mais. Num mundo onde a riqueza se acredita mensurável quantitativamente (dinheiro) os números não têm limites e assim não haveria limites para intervenção no mundo (natural e social). A idéia de crescimento, subjacente à de desenvolvimento econômico embora sempre atenuado pelos seus defensores, mostra por todo lado seus limites. Esclareça-se, antes que algum gestor bem intencionado tente dizer quais são os limites, que limite é o cerne da política, arte de definir os limites e a democracia é quando todos dele participam.

Sabemos dos esforços, muitos bem intencionados, diga-se de passagem, dos que se dedicam à segurança das plantas das usinas nucleares, das plantas das refinarias e dos poços de petróleo, dos sistemas de navegação aérea todos sistemas de alta complexidade. Uma das características mais relevantes dos sistemas de alta complexidade é sua imprevisibilidade. Assim, caminhamos num paradoxo: quanto mais introduzimos uma nova variável, que bem pode ser uma nova informação sobre um acidente aéreo, num sistema complexo mais ele se aproxima da realidade que, por sua vez, é o mundo na sua imprevisibilidade.

Só uma crença acrítica na capacidade do sistema técnico controlar o mundo pode explicar o fato de um país como o Japão, situado no cinturão de fogo de contato de inúmeras placas tectônicas, tenha nada mais nada menos que 55 reatores nucleares como se isso fosse um detalhe. E olha que a palavra tsunami inventada pelos japoneses antes da era científica e tecnológica, foi simplesmente olvidada talvez porque as águas não pudessem ser tão facilmente controladas pela engenharia. Relembremos que as primeiras notícias dos terremotos e tsunamis que recém atingiram o Japão, veiculadas pelos interessados meios de comunicação procuravam nos tranqüilizar pela tradição arquitetônica dos japoneses de construir edifícios que balançam mais não caem. Até que tivéssemos que assistir ao trágico espetáculo de mortos ou de casas e edifícios completamente destruídos e alguns inteiros boiando nas águas. E, pior, de saber que reatores, como os de Fukushima foram danificados e tantas vidas estarão ameaçadas por décadas.

Basta de “vacas loucas”, de gripe do frango, de gripe suína, de DDT e agente laranja que matam! Basta de uma ciência sem consciência! Que o conhecimento deixe de ser a caixa preta protegida pelo sigilo comercial da propriedade privada! Que se ouçam outras matrizes de conhecimento que se forjaram com a natureza e não contra a ela, como a dos camponeses, dos povos originários e não se desperdicem essas experiências! Que o sofrimento dessas famílias nos ilumine nessa direção! Hiroshima e Fukushima nunca mais!

Carlos Walter Porto-Gonçalves é professor do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFF. Pesquisador do CNPq e do Clacso. Prêmio Casa de las Américas (Ensaio Hisórico-social) em 2008 e Medalha Chico Mendes em Ciência e Tecnologia 2004. É autor de vários livros e artigos publicados no Brasil e no exterior.

Fonte: Jornal Brasil de Fato

segunda-feira, 28 de março de 2011

Revolta em Jirau reflete superexploração


Por Eduardo Sales de Lima
Causas da revolta dos trabalhadores da usina hidrelétrica envolvem “licenciosidade” federal e superexploração

Em 15 de março, parte dos cerca de 22 mil trabalhadores da Usina Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, levantaram-se contra as péssimas condições de trabalho em que viviam. Mais do que isso. Muitos compreenderam que o consórcio Energia Sustentável do Brasil, formado pelas empresas Camargo Corrêa, Suez e Eletro, estão lucrando às custas de sua exploração.

Na ocasião, dezenas de veículos foram incendiados e algumas instalações do canteiro de obras, depredadas. Praticamente todos os alojamentos foram incendiados. As obras estão paralisadas por tempo indeterminado. Uma assembleia já havia sido marcada para o dia 27 de março. Segundo os trabalhadores, o estopim foi a agressão, por parte de um motorista da empresa que transporta os funcionários, a um operário que fora impedido de embarcar porque não possuía autorização para deixar o canteiro. A situação, então, tornou-se incontornável. Por causa da manifestação, cerca de 35 trabalhadores foram presos.

Vandalismo”

Emergem dúvidas, entretanto, sobre quem praticou o primeiro ato de “vandalismo”. “O funcionários nos relatam constantemente inúmeros desmaios por dia em plena obra, sendo que os ambulatórios não possuem médicos. E o pior: permanecem sob observação por dez minutos, e, depois, são obrigados a retornar ao trabalho”, revela a irmã Maria Ozânia da Silva, coordenadora da Pastoral do Migrante em Rondônia.

O transporte dos operários é de péssima qualidade. Segundo conta o coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) em Rondônia, Océlio Muniz, aquele que perde um ônibus devido à lotação e chega atrasado na rodoviária de distribuição para os canteiros de obras perde o dia de serviço.

De acordo com ele, no almoço, que dura uma hora, todos se apressam para tomar o ônibus. Não há tempo para descanso. O mesmo acontece para quem perde o ônibus que retorna ao alojamento e é obrigado a andar por cerca de 7 quilômetros até o dormitório.

Em junho de 2010, um funcionário do setor de reciclagem de Jirau afirmou à reportagem do Brasil de Fato presente no local que o simples posicionamento de um trabalhador exigindo seus direitos, como a existência de instrumentos básicos de proteção, como máscaras, por exemplo, resultava em sua demissão ou perseguição.

“A falta de diálogo, o autoritarismo da empresa, isso tudo se reflete na violação dos direitos humanos tanto das comunidades atingidas quanto em relação aos operários”, critica irmã Maria Ozânia da Silva. Também existem relatos de trabalhadores que teriam sido agredidos por outros funcionários contratados pela Camargo Corrêa.

Direitos atacados

Não é de hoje que as empresas que constroem a Usina Hidrelétrica de Jirau – que faz parte do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – estão envolvidas em sérios ataques aos direitos trabalhistas.

Em setembro de 2009, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Rondônia e o Ministério Público do Trabalho libertou 38 pessoas que trabalhavam em condição análoga à escravidão para a BS Construtora, empresa terceirizada do consórcio dono da barragem que construía a Vila Nova Mutum, para onde serão transferidas as famílias que residem na área que será inundada.

A grande imprensa focaliza o “vandalismo” dos trabalhadores, mas pouco ou nada diz sobre os motivos da revolta que, para o sociólogo Luiz Fernando Novoa, professor da Universidade Federal de Rondônia (Unir), reside na “insistência em disciplinar e aferrar a mão de obra a cronogramas físico-financeiros autistas e irreais, com condições de trabalho degradantes, e através da repressão policialesca”.

Para Novoa, grande parte dos erros cometidos contra os trabalhadores está inscrita em dois equívocos maiores: na “licenciosidade” por parte do governo federal em relação à implementação das obras no rio Madeira e na busca das empresas pelo lucro imediato, atrelados a tais “cronogramas autistas” mesmo que o custo seja o desrespeito aos direitos dos barrageiros. “O governo federal, em nome da atratividade do negócio, afrouxou ao máximo a regulamentação e a fiscalização em todas as áreas afetadas devidos às obras (ambiental, trabalhista, urbanística, compensações sociais) e blindou política e juridicamente todo o processo de outorga, concessão e licenciamento”, destaca.

Arranjo financeiro”

Novoa lembra que as hidrelétricas feitas na região amazônica devem ser extremamente flexíveis na sua implementação, oferecendo, nos leilões, tarifas reduzidas que justifiquem o risco nesse investimento. O consórcio Energia Sustentável do Brasil, que constrói Jirau, ofereceu, em leilão ocorrido em 2008, o preço de 71,40 reais por Mwh (megawatt-hora), um considerável deságio de 21,5%.

Quase um ano depois das rebeliões ocorridas na Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, o sociólogo aprofunda a questão ao elucidar que o Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira resulta de um arranjo financeiro, arquitetado pelo Ministério do Meio Ambiente (MME) e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e viabilizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que premia a máxima antecipação da operação das usinas com a venda de 100% da energia, gerada antes do prazo contratual, no mercado livre.

“Impõe-se a etapa da construção nas margens mínimas de tempo e de custos e quem paga por isso são os trabalhadores, a população atingida e o meio ambiente. É preciso lembrar que o governo federal, ao defender a construção da Usina de Belo Monte, apresentava as usinas do Madeira como modelo de sustentabilidade e participação. Será esse o paradigma para a construção de novas grandes hidrelétricas na Amazônia?”, critica Novoa. Como ele disse ao Brasil de Fato em 2010, “a fatura está vindo de modo informal, por meio dessas rebeliões”.

Altair Donizete de Oliveira, do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Rondônia (Sticcero), joga mais luz nessa situação. Ele lembra que a Camargo Corrêa não pagou a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) que deveria ter sido repassada em novembro.“É dito cinquenta vezes por dia que a Usina de Jirau está um ano adiantada no cronograma, e a empresa não paga PLR porque diz que não teve lucro. Então, como fica a cabeça do trabalhador?”, conta.

O projeto da Usina Hidrelétrica de Jirau recebeu R$ 7,2 bilhões do BNDES. O salário médio dos funcionários é de R$ 1.500. Grosso modo, os gastos do consórcio com salários gira em torno de entre R$ 33 milhões e R$ 40 milhões. (com informações da Radioagência Notícias do Planalto)

Mais sobre o assunto:

Favela Esperança, na Vila Joaniza, está sendo despejada!!!

Como já virou rotina, uma grande quantidade de casas na Favela Esperança foram marcadas pela Prefeitura, e seus moradores foram obrigados a assinar autos de interdição. Aos poucos, a Prefeitura tem visitado as famílias, e imposto prazos bem curtos para elas deixarem suas casas, sob todo tipo de ameaças e intimidações, e a troco do famoso bolsa-aluguel de 400 reais por mês. Casas inclusive foram arrombadas sem a presença de seus moradores!

O argumento da Prefeitura é que essas casas se encontram em área de risco, por estarem próximas ao Córrego Zavuvus, que frequentemente transborda. No entanto, noutros lugares, próximo à Subprefeitura da Cidade Ademar, ou atrás do Colégio 24 de Março, por exemplo, o Córrego foi canalizado, e nenhuma casa foi removida. É isso que estão reivindicando os moradores da Favela Esperança, que moram lá há décadas.

Assista vídeo que conta essa história.


Vila Joaniza na Luta contra os Despejos from rede extremo sul on Vimeo.

Assista também ao vídeo “Canalização, sim. Despejos, não!”, que conta essa história.


Canalização, sim. Despejos, não! from rede extremo sul on Vimeo.

Até onde chega a irresponsabilidade da Prefeitura

Se não bastasse o despejo absurdo dos moradores da Vila Joaniza que haviam sido coagidos a sair de suas casas, antes que a comunidade se organizasse, a Prefeitura consegue ir além. Com um forte aparato da Guarda Ambiental e da Guarda Civil Metropolitana, as casas dessas pessoas têm sido demolidas, e os entulhos produzidos têm sido simplesmente despejados no córrego!!! Eis aí a grande preocupação da Prefeitura com a segurança dos moradores, a prevenção das enchentes e com a preservação ambiental.



Fonte: http://redeextremosul.wordpress.com/2011/03/28/prefeitura-joga-entulhos-no-corrego/

Crise nuclear no Japão: O que sabemos

Justificar
por Union of Concerned Scientists

O grande terramoto ao largo da costa Nordeste do Japão provocou uma situação potencialmente catastrófica numa das centrais nucleares do país. A situação ainda está a evoluir, mas abaixo está uma avaliação preliminar com base nos factos tal como os peritos da Union of Concerned Scientistas presentemente os entendem.


O proprietário da Central, Tokyo Electric Power Company ( TEPCO ), informou que às 14h46 locais "turbinas e reactores das unidades 1, 2 e 3 da Central Nuclear de Fukushima Daiichi cessaram de funcionar automaticamente devido ao Terramoto Miyagiken-oki".

Estes reactores são três dos seis que operam na instalação nuclear de Fukushima I. Todos eles são de água fervente (boiling water reactors). A unidade 1 tem uma potência de 460 megawatts e as unidades 2 e 3 têm uma potência de 784 megawatts.

A TEPCO prosseguiu declarando que os encerramentos foram provocados pela perda de energia fora das suas instalações "devido ao mau funcionamento dos dois sistemas de energia externos". Esta perda de energia disparou geradores diesel de emergência, os quais automaticamente começaram a proporcionar energia substituta (backup) aos reactores.

Contudo, às 15h41 locais, os geradores diesel de emergência encerraram "devido ao mau funcionamento, resultando na perda completa de corrente alternada para todas as três unidades", segundo a TEPCO. A falha dos geradores diesel mais provavelmente foi devida à chegada do tsunami, o qual provocou inundação na área. O terramoto estava centrado a 240 quilómetros do Japão e teria levado aproximadamente uma hora para o tsunami alcançar as ilhas japonesas.

Esta falha de energia resultou numa das mais sérias condições que podem afectar uma central nuclear – um "blackout da central" – durante o qual perde-se tanto a energia produzida externamente à central como a corrente alternada (AC) de emergência da própria central. As centrais nucleares geralmente precisam de energia AC para operar os motores, válvulas e instrumentos que controlam os sistemas que fornecem água de arrefecimento ao núcleo radioactivo. Se toda a energia AC for perdida, as opções para arrefecer o núcleo são limitadas.

Os reactores de água fervente em Fukushima são protegidos por um sistema Reactor Core Isolation Cooling (RCIC), o qual pode operar sem energia AC porque é conduzido por vapor e portanto não exige bombas eléctricas. Contudo, ele exige energia em corrente contínua (DC) de baterias para as suas válvulas e controles funcionarem.

Contudo, se a energia das baterias for esgotada antes de a energia AC ser restaurada, o RCIC cessará de fornecer água para o núcleo e o nível de água no núcleo do reactor poderia descer. Se descesse demasiado, o núcleo super-aqueceria e o combustível ficaria danificado. Finalmente, um "colapso" ("meltdown") poderia acontecer: o núcleo poderia tornar-se tão quente que formasse uma massa pastosa que se fundiria através do recipiente de aço do reactor. Isto libertaria uma grande quantidade de radioactividade do recipiente para dentro do edifício de contenção que encerra o recipiente.

A finalidade principal do edifício de contenção é impedir a radioactividade de ser libertada para o ambiente. Um colapso aumentaria a pressão no edifício de contenção. Neste ponto não sabemos se o terramoto danificou o edifício de contenção suficientemente para minar a sua capacidade de conter a pressão e permitir que a radioactividade escape.

Segundo documentos técnicos traduzidos por Aileen Mioko Smith da Green Action no Japão, se o nível do refrigerante caiu para o topo das varetas de combustível (fuel rods) activas no núcleo, o dano no núcleo começaria cerca de 40 minutos mais tarde e o dano no recipiente do reactor ocorreria 90 minutos depois disso.

A preocupação acerca de um acidente grave é tão alta que enquanto a TEPCO tenta restaurar o refrigerante o governo evacuou uma área com raio de 3 km em torno do reactor.

A Bloomberg News informou que a vida da bateria do sistema RCIC é de oito horas. Isto significa que as baterias teriam sido esgotadas antes das 10h00 EST de hoje. Não está claro se esta informação é exacta, uma vez que sugere que várias horas teriam decorrido sem qualquer arrefecimento do núcleo. A Bloomberg também informa que o Japão assegurou seis baterias de substituição e planeou transportá-las para o sítio, possivelmente em helicóptero militar. Não está claro quanto tempo esta operação demoraria.

Também tem havido informações ulteriores de que a Unidade 2 de Fukushima I perdeu o seu refrigerante do núcleo, o que sugere que o seu RCIC cessou de funcionar, mas que a situação "foi estabilizada", embora não seja publicamente conhecido o que é a situação. A TEPCO confirmadamente planeia libertar vapor do reactor para reduzir a pressão, a qual se elevou 50 por cento acima do normal. Este escape libertará alguma radioactividade.

A UCS emitirá actualizações à medida que se tornar disponível mais informação.

Ver também:
  • Nuclear and Industrial Safety Agency , do Japão
  • The Japanese Disaster: Full Coverage
  • Union of Concerned Scientists
  • Citizen`s Nuclear Information Center

    O original, com novas actualizações, encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/2011/ucs110311.html

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
  • domingo, 27 de março de 2011

    Nova Reforma da Previdência


    Por VALDO CRUZ e ANA FLOR
    Governo negocia fórmula nova para aposentadoria
    Dilma indica a sindicalistas que apoia mudança no cálculo de benefícios
    Novo mecanismo teria vantagens para trabalhadores do setor privado que aceitassem adiar aposentadoria.

    O governo começou a negociar com as centrais sindicais uma nova fórmula para o cálculo das aposentadorias dos trabalhadores do setor privado, em mais uma tentativa de contornar resistências que elas impõem a mudanças na Previdência Social.
    A nova opção do governo é uma fórmula simples, que somaria o tempo de contribuição e a idade do trabalhador na hora da aposentadoria. Homens poderiam se aposentar sem sofrer redução dos seus benefícios quando a soma fosse 95. Mulheres poderiam fazer o mesmo quando a soma desse 85.
    A fórmula substituiria o fator previdenciário, mecanismo criado em 1999 para incentivar os trabalhadores a adiar a aposentadoria. As centrais sindicais pressionam o governo a extingui-lo.
    Mas a presidente Dilma Rousseff indicou que só aceita abrir mão dele se puder substitui-lo por outra fórmula que ajude a conter o rombo nas contas da Previdência Social, que atingiu R$ 42 bilhões no ano passado.
    Por questões políticas, Dilma não quer tomar a iniciativa de propor a mudança, mas seus assessores informaram aos sindicalistas que ela aceitaria a nova fórmula se as centrais a apresentassem.
    Em alguns casos, o fator previdenciário provoca reduções de até 40% no valor dos benefícios para quem decide se aposentar mais cedo.
    A nova fórmula, conhecida entre os especialistas como fator 85/95, foi apresentada pela primeira vez pelo deputado Pepe Vargas (PT-RS) na Câmara dos Deputados, mas sua discussão foi interrompida em 2008, porque o governo era contra a ideia.
    Cálculos de técnicos do governo sugerem que o fator 85/95 poderia trazer vantagens para os trabalhadores.
    Apesar de sinalizar a disposição de negociar o fim do fator previdenciário, Dilma não quer se empenhar por uma ampla reforma da Previdência. A presidente acha que ela teria mais custos que benefícios para seu governo.
    Sua equipe estuda mudanças como fixar uma idade mínima de aposentadoria apenas para o futuro, ou seja, para quem ingressar no mercado de trabalho após a mudança. A proposta ainda será apresentada à presidente.
    Desde sua criação, em 1999, o fator previdenciário gerou uma economia superior a R$ 15 bilhões para os cofres da Previdência Social.
    No governo Lula, o Congresso chegou a aprovar o fim do mecanismo, mas a proposta foi vetada pelo ex-presidente porque não foi criada outra fórmula.
    Lula chegou a fazer um acordo com os sindicalistas para criar o fator 85/95 na época, mas a ideia não foi levada adiante no Congresso.
    Fonte: Jornal Folha de São Paulo

    sábado, 26 de março de 2011

    Nota do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) sobre a revolta dos operários na Usina Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia

    Greve dos operários da Usina de Santo Antônio,
    no rio Madeira, Rondônia.


    Nesta semana acompanhamos a revolta dos operários na Usina Hidrelétrica de Jirau contra as empresas que controlam a barragem. Existem informações de que os mais de 15 mil operários da obra estão em situação de superexploração, com salários extremamente baixos, longas jornadas e péssimas condições de trabalho, que existe epidemia de doenças dentro da usina e não existe atendimento adequado de saúde, que o transporte dos operários é de péssima qualidade, sofrem com a falta de segurança e que mais de 4.500 operários estão ameaçados de demissão. Esta é a realidade da vida dos operários.

    Esta situação tem como principal responsável os donos da usina de Jirau, o Consórcio formado pela transnacional francesa Suez, pela Camargo Corrêa e pela Eletrosul. As revoltas dos operários dentro das usinas tem sido cada vez mais frequentes e isso é fruto da brutal exploração que estas empresas transnacionais impõem sobre seus trabalhadores.

    Há pouco tempo houve revolta na usina de Foz do Chapecó, também de propriedade da Camargo Corrêa, em 2010 houve a revolta dos operários da usina de Santo Antonio e agora temos acompanhado a revolta dos operários da usina de Jirau.

    As empresas construtoras de Jirau são as mesmas que foram denunciadas em recente relatório de violação de Direitos Humanos, aprovado pelo Governo Federal, que constatou que existe um padrão de violação dos direitos humanos em barragens e de criminalização, sendo que 16 direitos têm sido sistematicamente violados na construção de barragens. Os atingidos por barragens e os operários tem sido as principais vítimas.

    A empresa Suez, principal acionista de Jirau, é dona da Barragem de Cana Brava, em Goiás, e Camargo Corrêa é dona da usina de Foz do Chapecó, em Santa Catarina. Essas duas hidrelétricas também foram investigadas pela Comissão Especial de Direitos Humanos em que foi comprovada a violação. Estas empresas tem uma das piores práticas de tratamento com os atingidos e com seus operários.

    Em junho de 2010, o MAB já havia alertado a sociedade que em Jirau havia indícios e denúncias, que circularam na imprensa local, de que as empresas donas da Usina de Jirau haviam contratado ex-coronéis do exército para fazer uma espécie de trabalho para os donos da usina de Jirau e não seria surpresa se estes indivíduos contratados pelas empresas promovessem ataques ou sabotagens contra os operários e atingidos, para jogar uns contra os outros e/ou criminalizar nossas organizações e sindicatos.

    A revolta dos operários é reflexo desse autoritarismo e da ganância pela acumulação de riqueza através da exploração da natureza e dos trabalhadores. Prova desse autoritarismo e intransigência é que estas empresas se negam a dialogar com os atingidos pela usina e centenas de famílias terão seus direitos negados. As consequências vão muito além disso, pois nesta região se instalou os maiores índices de prostituição e violência.

    Em 2011, O MAB completa 20 anos de luta e os atingidos comemoram a resistência nacional, mas também denunciam que estas empresas não tem compromisso com a população atingida e nem com seus operários. Recebem altas taxas de lucro que levam para seus países e o povo da região fica com os problemas sociais e ambientais.

    O MAB vem a público exigir o fim da violação dos direitos humanos em barragens e esperamos que as reivindicações por melhores condições de trabalho e vida dos operários sejam atendidas.

    Água e energia não são mercadorias!

    Coordenação Nacional
    Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)