sábado, 7 de novembro de 2009

Os crimes de ódio contra indígenas no MS não param

Foto: Valter Campanato/ABr

Por Henrique Cortez
Coronel Sapucaia (MS) – Dentro de barracões de lona à beira de rodovia, índios da comunidade do Kurussu Ambá chegam a dormir no chão pela falta de espaço e de colchões

O Mato Grosso do Sul continua o principal palco de continuados crimes e agressões contra índios do povo Guarani-Kaiowá. No mais recente episódio dois professores Guarani Kaiowá foram sequestrados e permanecem desaparecidos.
De acordo com o CIMI, “No dia 2 de novembro, a mídia eletrônica revelou mais uma das brutalidades cometidas por pistoleiros contra uma comunidade Guarani que voltava a seu tekoha. No dia 29, um dia após o retorno à sua terra atualmente ocupada pela fazenda Triunfo, no município de Paranhos, o grupo de índios foi surpreendido por um caminhão de pistoleiros que chegou atirando contra os índios. Conforme relato do cacique Irineu Verá, “todos os que estavam lá foram agredidos com armas, balas de borracha e socos. Dois professores, Olindo e Genivaldo, estão desaparecidos até hoje “Eram pistoleiros. Mataram eles”, afirmou o cacique, ao Jornal Mídia Max (2/11/09),depois de quatro dias do desaparecimento.
Conforme informou dona Ana, “a nhandesi Paulina teve costela quebrada e bateram muito na cabeça do Olindo e Genivaldo, que continuam desaparecidos. Já passaram quase quatro dias. Se eles estivessem vivos já teriam chegado”. A Polícia Federal está indo para a área hoje, dia 3 de novembro. Até ontem, apenas a Funai tinha visitado o local.”
Em episódio anterior de intolerância étnica , maquiado de conflito agrário, um acampamento de índios do povo Guarani-Kaiowá na região de Curral do Arame, em Dourados (MS), foi atacado violentamente no dia 18 de setembro, quando pistoleiros atiraram contra os barrados. Os pertences e o barraco dos índios acampados foram incendiados e o indígena Eugênio Gonçalves, de 62 anos, foi ferido à bala.
Os episódios de violência anti-indígenas são frequentes e, mesmo assim, pouquíssimo divulgados pela grande mídia e praticamente desconhecidos da maioria da população.
No congresso nacional não é diferente. Apenas Vander Loubet, deputado pelo PT/MS, reagiu ao desaparecimento dos professores cobrando, no plenário, rigorosa investigação de mais esta ação criminosa.
Aliás, Vander Louber foi novamente uma voz isolada ao relembrar os 10 anos do assassinato de Dorcelina Folador.
Assassinada na noite de 30 de outubro de 1999 em sua residência por pistoleiro de aluguel, Dorcelina Folador deixou exemplos de vida e ideais humanistas que a cada ano mostram-se mais atuais e imprescindíveis à afirmação das aspirações por justiça e paz. É o que afirmou, novamente em plenário, o deputado federal Vander Loubet (PT-MS), reportando-se ao décimo aniversário da morte da ex-prefeita de Mundo Novo e ao que ela representou para a formação de uma consciência libertária em Mato Grosso do Sul e no país.
Deficiente de uma das pernas (conseqüência da paralisia infantil), foi exemplar como mãe, repórter do MST (Movimento dos Sem-Terra), vendedora, política e mulher.
Dorcelina se elegeu prefeita pelo PT em 1996. Estava no terceiro ano de seu mandato quando, na varanda de sua casa, após retornar de uma festa com o marido, foi atingida por tiros de revólver disparados por um pistoleiro. Os suspeitos acusados do complô para assassiná-la e que confessaram o crime foram condenados. Mas até hoje ainda restam algumas dúvidas sobre as razões da empreitada criminosa.
O histórico do MS fala por si mesmo e precisamos nos esforçar na denúncia da manutenção da herança genocida, bem como cobrar que as apurações destes continuados crimes também identifiquem os mandantes, os contratantes dos pistoleiros de aluguel.
No EcoDebate, em razão de nosso compromisso com os movimentos sociais e populares, mantemos pauta permanente sobre os conflitos no campo e as questões indígenas, quilombolas e de reforma agrária.
Também nos sentimos como vozes isoladas mas, nem por isto, deixaremos de informar, discutir e debater estes assuntos , porque sabemos que nossos(as) leitores(as) são conscientes e informados, igualmente comprometidos com um outro Brasil possível e necessário.
E sabemos que nossos(as) leitores(as) nos ajudam na socialização da informação, ampliando a cobertura dos fatos e divulgando junto aos seus amigos e listas.
Relacionamos, abaixo, algumas matérias que demonstram o quanto os conflitos no Mato Grosso do Sul deixaram de ser ‘meros conflitos isolados’ para assumir um caráter de intolerância étnica.
Leia mais sobre a questão indígena em:
Fonte: EcoDebate, 06/11/2009.

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