quinta-feira, 26 de julho de 2012

Globalização como perversidade: Carnes suína e de frango serão artigos de luxo, diz produtor



DO "FINANCIAL TIMES" -  DE SÃO PAULO
Com a seca recorde nos EUA, disparam os preços do milho e do farelo de soja, usados na ração animal Americanos já buscam grão brasileiro para se abastecer; no mercado interno, frango deve ser a primeira carne a subir
As carnes de frango e suína vão se tornar artigos de luxo nos EUA, reflexo da maior seca em 50 anos no país e da política do álcool norte-americana, que causará um "desastre" no mercado de milho. A declaração é do executivo que comanda a maior produtora global de carne suína.
Os preços dos principais ingredientes na ração animal, milho e farelo de soja, atingiram recordes neste mês, quando a estiagem causou dano extremo às lavouras norte-americanas.
"A carne bovina será cara demais para comer. A de suíno não ficará muito atrás, e a de frango está se aproximando rapidamente do mesmo patamar", diz Larry Pope, presidente-executivo da Smithfield Foods.
"Vamos mesmo tirar a proteína dos norte-americanos?"
Ontem, o Departamento de Agricultura dos EUA alertou para um forte impacto da alta dos grãos nos preços das proteínas de origem animal, com destaque para o frango.
No Brasil, também há expectativa de que a forte alta nos custos eleve os preços das carnes, com exceção da bovina, pois a maior parte do rebanho brasileiro é criada em pasto e, portanto, não é alimentada com ração.

BRASIL
Os preços dos grãos no mercado interno já sentem os impactos. Diante da escassez de oferta nos EUA, processadoras de carnes, inclusive americanas, buscam o milho brasileiro para se abastecer.
Já o reflexo nos preços das carnes deve ocorrer no médio e longo prazo. Neste momento, a demanda mais fraca do que o esperado impede reajustes significativos.
Mas, como o setor é dominado por poucas empresas, é possível que elas se organizem para repassar pelo menos parte do aumento de custos agora, afirma José Vicente Ferraz, diretor-técnico da Informa Economics FNP.
O maior impacto, no entanto, virá no longo prazo. "Se a indústria não consegue repassar e começa a ter prejuízo, vai reduzir a produção e, assim, a oferta. Aí teremos aumento de preço."
O valor da carne de frango deve ser o primeiro a subir, pois tem o ciclo de produção mais curto, de aproximadamente dois meses.

ETANOL
Os produtores de carnes sentem pressão imediata quando o preço da ração dispara -80% do custo da alimentação animal vem do milho e do farelo de soja.
Como outros executivos do setor, Pope pediu à Agência de Proteção Ambiental (EPA) a suspensão do Padrão de Combustível Renovável, que exige que mais de 48 bilhões de litros de álcool de milho sejam usados para o transporte neste ano.
O Departamento da Agricultura norte-americano estima que quase 40% da safra de milho dos EUA vá para a produção de etanol. "É quase como um desastre ordenado pelo governo", diz Pope.
Tom Vilsack, secretário da Agricultura dos EUA, declarou oposição à suspensão da norma, que é popular nos Estados que cultivam milho.

(TATIANA FREITAS)
 Fonte: JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO, (26.07.201)

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