domingo, 13 de novembro de 2011

O Homem não vive só de “política"



O Homem não vive só de “política"

Por Leon Trotsky

Esta idéia muito simples, é preciso que a compreendamos duma vez por todas e que nunca a esqueçamos na nossa propaganda oral ou escrita. Cada época tem a sua divisa. A história pré-revolucionária do nosso partido foi uma história de política revolucionária. A literatura de partido, as organizações de partido tudo se encontrava submetido à palavra de ordem de «política no sentido mais estreito do termo. A revolução e a guerra civil aumentaram ainda mais a acuidade e a intensidade das tarefas dos interesses políticos. Durante esse período, o partido reuniu nas suas fileiras os elementos politicamente mais ativos da classe operária. No entanto, as conclusões políticas fundamentais desses anos são claras para a classe operária no seu conjunto. A repetição mecânica dessas conclusões nada lhe trará de novo; antes poderá desvanecer na sua consciência as lições do passado. Após a tomada do poder e a sua consolidação em seguida à guerra civil, as nossas tarefas fundamentais deslocaram-se para o domínio da construção econômica e cultural, tornaram-se mais complexas, parcelaram-se, adquiriram um caráter mais detalhado e, ao que parece, mais “prosaico”. Mas, ao mesmo tempo, as nossas lutas anteriores, com o seu cortejo de esforços e de sacrifícios, não encontrarão justificação senão na medida em quê consigamos enunciar corretamente e resolver as tarefas particulares, do dia a dia, aquelas que dependem do "militantismo cultural".
Com efeito, o que é que a classe operária exatamente ganhou, o que é que obteve no decurso das suas anteriores lutas?
1) A ditadura do proletariado (por intermédio de um Estado operário e camponês dirigido pelo partido comunista).
2) O Exército Vermelho, como apoio material da ditadura do proletariado seria uma forma vazia, sem conteúdo.
3) A nacionalização dos principais meios de produção sem a qual a ditadura do proletariado seria uma forma vazia, sem conteúdo.
4) O monopólio do comércio externo, condição necessária da construção socialista perante um envolvimento capitalista.
Estes quatro elementos, cuja conquista é definitiva, constituem a armadura de aço de todo o nosso trabalho. Graças a isso, graças a essa armadura, cada um dos nossos êxitos no domínio econômico ou cultural - quando êxito real e não imaginário tornou-se necessariamente um elemento constitutivo da construção socialista.
Em que consiste hoje a nossa tarefa, que devemos nós aprender em primeiro lugar, em que sentido devemos tender? Precisamos aprender a bem trabalhar - com precisão, com limpeza, com economia. Temos necessidade de desenvolver a cultura do trabalho, a cultura da vida, a cultura do modo de vida. Após uma longa preparação e graças à alavanca da insurreição armada, derrubamos a supremacia dos exploradores. Mas não existe alavanca que possa de um só golpe elevar a cultura. Um lento processo de auto-educação da classe operária e paralelamente do campesinato, é aqui necessário. O camarada Lenin, num artigo sobre a cooperação, evoca essa mudança de direção da nossa atenção, dos nossos esforços, dos nossos métodos:
"... Somos forçados - diz ele - a reconhecer uma transformação radical do nosso ponto de vista sobre o socialismo. Essa transformação radical provém de que outrora nós colocávamos, e devíamos colocar, o centro de gravidade da nossa atividade no combate político, na revolução, na conquista do poder, etc.. Hoje, esse centro de gravidade variou a tal ponto que se deslocou para um trabalho organizacional, pacífico, cultural. Estaria pronto a dizer que, para nós, o centro de gravidade se deslocou para o militantismo cultural, se não existissem nem as relações internacionais nem a obrigação de defender a nossa situação à escala internacional. Mas se nos abstrairmos disso e nos limitarmos às relações econômicas internas, então hoje o centro de gravidade reduz-se efetivamente ao “militantismo cultural” (1)."
Assim, só o problema da nossa situação internacional nos desvia do militantismo cultural, e isso apenas em parte como em seguida veremos. O fator principal da nossa situação internacional é a defesa nacional, isto é, o Exército Vermelho. Ora, nesse domínio fundamental, as nossas tarefas relacionam-se ainda uma vez mais, em nove décimos, com o militantismo cultural; elevar o nível do exército, levar a bom termo a sua completa alfabetização, ensinar-lhe a utilizar os guias, os livros e as cartas, habituá-lo ao asseio, à exatidão, à pontualidade, à observação. Não há remédio milagroso que permita resolver imediatamente esses problemas. No fim da guerra civil, quando abordávamos uma nova fase da nossa atividade, a tentativa de criar uma «doutrina militar proletária» foi a expressão mais clara e a mais gritante da incompreensão das tarefas da nova época. Os orgulhosos projetos que visam criar uma «cultura proletária» em laboratório, procedem da mesma incompreensão. Nesta busca da pedra filosofal, o nosso desespero perante o nosso atraso une-se a uma crença no milagre, que é ela própria um sinal desse atraso. Mas não temos nenhuma razão de desesperar e é mais do que tempo de nos libertarmos dessa crença nos milagres, dessas práticas pueris de curandeiros, do gênero «cultura proletária» ou doutrina militar proletária. Para robustecer a ditadura do proletariado é necessário desenvolver um militantismo cultural quotidiano, o único a garantir um conteúdo socialista para as conquistas fundamentais da revolução. Quem não tenha compreendido isso, representa um papel reacionário na evolução do pensamento e do trabalho do partido.
Quando o camarada Lenin afirma que as nossas tarefas de hoje não são tanto políticas como culturais, é necessário entendermo-nos sobre a terminologia a fim de não interpretar erradamente o seu pensamento. Num certo sentido, a política domina tudo. O conselho .do camarada Lenin de transferir a nossa atenção do domínio político para o domínio cultural, é um conselho político. Quando um partido operário, em tal ou tal país, decide que é necessário num dado momento colocarem primeiro plano as exigências econômicas e não as políticas, essa decisão tem um caráter «político». É perfeitamente evidente que a palavra «políticos, é utilizada aqui em dois sentidos diferentes: em primeiro lugar num sentido largo, materialista-dialético, englobando o conjunto das idéias diretivas, dos métodos e dos sistemas que orientam a atividade da coletividade em todos os domínios da vida social; em segundo lugar, num sentido estreito, especializado, caracterizando uma certa parte da atividade social, intimamente ligada à luta pelo poder e oposta ao trabalho econômico, social, etc.. Quando o camarada Lenin escreve que a política é economia concentrada, encara a política no sentido largo, filosófico. Quando o camarada Lenin diz: «um pouco menos de política, um pouco mais de economia», encara a política no sentido estreito e especializado do termo. As duas acepções são igualmente válidas visto que legitimadas pelo uso. Importa apenas compreender bem do que se faia em cada um dos casos.
A organização comunista é um partido político no sentido amplo, histórico, ou, se prefere, filosófico do termo. Os outros partidos atuais são políticos unicamente no sentido em que fazem (pequena) política. Se o nosso partido transfere a sua ação para o domínio cultural, isso de modo nenhum significa que enfraqueça o seu papel político. Historicamente, ò papel dirigente (isto é, político) do partido, manifesta-se precisamente nessa deslocação lógica da sua atenção para o domínio cultural. Só após longos anos de atividade socialista, conduzida com êxito no interior e garantida no exterior, é que o partido poderá libertar-se pouco a pouco da sua carapaça "partisan" (2) para se confundir com a comunidade socialista. Mas isso está ainda tão longe que se torna inútil antecipar sobre o futuro... No imediato, o partido deve conservar totalmente as suas características fundamentais: coesão ideológica, centralização, disciplina, e, correlativamente, combatividade. Mas precisamente essas inestimáveis qualidades de "espírito de partido" comunista não podem manter-se e desenvolver-se se não se satisfazem as exigências e as necessidades econômicas e culturais de forma mais completa, mais hábil, mais exata e mais minuciosa. Em conformidade com essas tarefas, que devem desempenhar hoje um papel preponderante na nossa política, o partido reagrupa, distribui as suas forças e educa a jovem geração. Por outras palavras, a grande política exige que na base do trabalho de ,agitação, de propaganda, de repartição de forças, de instrução e de educação, sejam hoje colocadas tarefas e exigências econômicas e culturais e não exigências «políticas» no sentido estreito do termo.
* * *
A poderosa unidade social que representa o proletariado surge em toda a sua amplitude nas épocas de luta revolucionária intensa. Mas no interior dessa unidade, observamos ao mesmo tempo uma incrível diversidade e mesmo uma grande heterogeneidade. Do pastor obscuro e inculto ao maquinista altamente especializado escalona-se toda uma variedade de qualificações, de níveis culturais, de hábitos de vida. Cada camada social, cada oficina de empresa, cada grupo, é constituído por indivíduos de idade e caráter diferentes, de passado diversificado. Se não existisse essa diversidade, o trabalho do partido comunista no domínio da educação e da unificação do proletariado seria de todo simples. Mas, pelo contrário, o exemplo da Europa prova-nos quanto esse trabalho é na realidade difícil. Pode dizer-se que quanto mais a história de um país, e portanto a própria história da própria classe operária, é rica, mais reminiscências, tradições e hábitos nela se encontram; quanto mais os grupos sociais nela são antigos, mais difícil é realizara unidade da classe operária. O nosso proletariado quase não tem história nem tradições. Isso facilitou sem dúvida a sua preparação para a Revolução de Outubro. Mas, em contrapartida, isso torna mais difícil a sua construção após Outubro. O nosso operário (com exceção da camada superior) ignora inclusivamente os hábitos culturais mais elementares (desconhece, por exemplo, o asseio e a exatidão, não sabe ler nem escrever, etc.). O operário europeu adquiriu pouco a pouco esses hábitos no quadro do regime burguês: é por isso - vê-se nas camadas superiores - que está tão fortemente ligado a esse regime, com a sua democracia, a sua liberdade de imprensa e outros bens do mesmo gênero. Entre nós, um regime burguês tardio quase nada deu ao operário; foi justamente por isso que, na Rússia, o proletariado pôde romper e derrubar mais facilmente a burguesia. Mas é também pela mesma razão que o nosso proletariado, na sua maioria, é obrigado a adquirir hoje, isto é, no quadro de um governo socialista operário, os mais simples hábitos culturais. A história nada dá gratuitamente: se faz um desconto numa coisa, sobre política, vai recuperá-lo por outro lado, sobre a cultura. Quanto mais fácil foi (relativamente, entenda-se) ao proletariado russo fazer a revolução, tanto mais lhe será difícil realizar a construção socialista. Mas, em compensação, a armadura da nossa nova sociedade, forjada pela revolução e caracterizada pelos quatro elementos fundamentais citados no princípio deste capítulo, imprime um caráter objetivamente socialista a todos os esforços conscientes e nacionais no domínio da economia e da cultura. O operário, em regime burguês, sem o querer e sem mesmo o saber, enriquece a burguesia e enriquece-a tanto mais quanto melhor trabalha. No Estado soviético, o operário consciencioso, mesmo sem nisso pensar nem com tal se preocupar (se é sem-partido e apolítico) realiza um trabalho socialista, aumenta os meios da classe operária. Está aí precisamente todo o sentido da Revolução de Outubro, que a N.E.P. em nada modificou.
Existe um enorme número de operários sem partido, profundamente dedicados à produção, à técnica, à máquina. Deve falar-se com reserva do seu “apolitismo, isto é, da sua ausência de interesse pela política. Nos momentos difíceis e importantes da revolução estiveram ao nosso lado. Na sua grande maioria, Outubro não os assustou, não desertaram nem traíram. Quando da guerra civil, numerosos dentre eles estiveram na frente e outros trabalharam para equipar o exército. Depois regressaram ao trabalho pacífico. Chamou-se-lhes apolíticos, e não sem fundamento, porque colocam o seu trabalho ou o seu interesse familiar mais alto do que o interesse político, pelo menos durante os períodos «calmos». Cada um deles quer tornar-se um bom operário, aperfeiçoar-se, elevar-se a um nível superior, tanto para melhorar a situação da sua fábrica como devido a um amor próprio profissional legítimo. Cada um deles, como já dissemos, realiza um trabalho socialista mesmo que não tenha fixado isso como objetivo. Mas o que nos interessa a nós, partido comunista, é que esses operários-produtores tenham uma clara consciência da ligação existente entre a sua particular produção quotidiana e os fins da construção socialista no seu conjunto. Os interesses do socialismo estarão assim melhor garantidos e esses produtores individuais retirarão disso uma satisfação moral bastante maior.
Mas como chegar a isso? É difícil sustentar com este tipo de operários questões de política pura. Já escutou todos os discursos. Não se sente atraído pelo partido. O seu pensamento só desperta quando está junto da sua máquina e, de momento, aquilo que não o satisfaz é a ordem que existe na oficina, na fábrica, no trust. Esses operários procuram ir tão longe quanto possível na sua reflexão; são freqüentemente reservados; vê-se sair das suas fileiras os inventores autodidatas. Não é de política que se lhes deve falar, não é pelo menos isso que os apaixonará ao primeiro contato, más, em compensação, pode e deve falar-se-lhe de produção e de técnica.
Um dos participantes na reunião dos agitadores moscovitas, o camarada Koltsov (do bairro de Krasnáia Presnia) sublinhou a enorme falta de manuais, de livros de estudo, de obras sobre especialidades técnicas ou outras profissões particulares. Os velhos livros estão esgotados; aliás, alguns dentre eles envelheceram no plano técnico, enquanto que no plano político estão geralmente impregnados dum servil espírito capitalista. Quanto aos novos manuais, existe um ou dois no máximo; é difícil encontrá-los porque foram editados em momentos diferentes por empresas ou serviços diversos, fora de todo o plano geral. Não são sempre tecnicamente válidos: são com freqüência demasiado teóricos e acadêmicos; enquanto que, politicamente, estão em geral não referenciados, não sendo no fundo mais do que a tradução de obras estrangeiras. Temos necessidade de uma série de novos manuais de algibeira: para o serralheiro soviético, para o torneiro soviético, para o eletricista soviético, etc.. Estes manuais devem adaptar-se à nossa técnica e à nossa economia atuais, devem ter em conta a nossa pobreza assim como as nossas imensas possibilidades, devem visar a desenvolver na nossa indústria métodos e hábitos novos muito mais racionais. Devem ainda, numa medida mais ou menos larga, evidenciar as perspectivas socialistas do ponto de vista das necessidades e dos interesses da própria técnica (é aqui que se localizam os problemas de normalização, de eletrificação, de economia planificada). Em tais obras, as idéias e as conclusões socialistas devem integrar-se na teoria prática de tal ou tal setor de atividade. De modo nenhum devem ter caráter de agitação supérflua e inoportuna. É enorme a procura para essas edições, devido à carência de operários qualificados, e ao desejo, por parte dos próprios operários, de elevar a sua qualificação. Essa procura acentua-se pela baixa de produtividade registrada no decurso da guerra civil e imperialista. Temos aqui uma tarefa extremamente importante e útil a realizar.
Não se pode certamente ignorar quanto é difícil redigir esses manuais. Os operários, mesmo os altamente qualificados, não sabem escrever livros. Os escritores especializados que abordam certos problemas ignoram com freqüência os seus aspectos práticos. Finalmente, entre estes, poucos há que possuam um pensamento socialista. No entanto, este problema só pode encontrar uma solução combinada e não «simples», isto é, rotineira. Para escrever um manual, é preciso reunir um grupo de três pessoas (troika) formado por um escritor especialista, tecnicamente informado, que conheça - ou que seja capaz de conhecer - o estado do ramo correspondente da nossa produção, por um operário altamente especializado nesse domínio, de espírito inventivo, e por um escritor marxista, com formação política e com alguns conhecimentos no campo da técnica e no da produção. Quer se utilize esta solução ou outras análogas, permanece a necessidade de pôr em marcha uma biblioteca exemplar de obras técnicas destinadas às oficinas, convenientemente encadernadas, de formato prático e pouco dispendiosas. Semelhante biblioteca desempenharia um duplo papel: favoreceria a elevação da qualificação do trabalho e por conseqüência o êxito da construção socialista; ajudaria, ao mesmo tempo, a reunir um grupo de operários-produtores extremamente válidos para a economia soviética no seu conjunto e, portanto, para o partido comunista.
Sem dúvida que não se pode ter por limite único uma série de manuais de estudo. Se nos detivemos de forma tão detalhada sobre esse particular problema foi porque ele nos oferece, ao que parece, um exemplo bastante evidente da nova abordagem ditada pelos problemas do período atual. A luta pela conquista ideológica dos proletários “apolíticos” pode e deve ser conduzida por meios diversificados. É preciso editar semanários ou mensários científicos e técnicos especializados por sector de produção; é preciso criar sociedades científicas e técnicas destinadas a esses operários. É com vista a eles que, numa boa metade, deve orientar-se a nossa imprensa profissional se de fato não quer ser uma imprensa destinada unicamente ao pessoal dos sindicatos. Mas o argumento político mais convincente para os operários desse tipo consistirá em cada um dos nossos êxitos práticos no domínio industrial, em cada organização real do trabalho na fábrica ou na oficina, em cada esforço ponderado do partido nessa direção.
Pode formular-se da maneira seguinte o ponto de vista político do operário-produtor que presentemente nos interessa e que raramente exprime as suas idéias: “quanto à revolução e ao derrube da burguesia, nada há a opor, houve razão em fazê-lo. Não temos necessidade da burguesia. Não temos também necessidade dos representantes mencheviques ou outros. No que respeita à “liberdade de imprensa?”- isso não é de tanta importância e não é esse o fundo do problema. Mas como ides vós resolver o problema da economia? Vós, comunistas, haveis tomado a direção dos negócios. Os vossos fins e os vossos planos são válidos, sabemo-lo, é inútil repeti-lo, houvemo-los, estamos de acordo, damo-vos o nosso apoio, mas, vejamos, como ides resolver praticamente esses problemas? Até ao presente, não vale a pena escondê-lo, aconteceu-vos com freqüência pôr o dedo onde não era devido. Sabemos que não se pode agir bem à primeira, que é preciso aprender, que os erros são inevitáveis. Sempre assim sucede. E visto que suportamos os crimes da burguesia, suportaremos tanto mais os erros da revolução. Mas isso não durará eternamente. Entre vós, comunistas, existe gente diferente entre si, como aliás também entre nós sucede, pobres pecadores: certos há que estudam realmente, fazem conscienciosamente o seu trabalho, diligenciam chegar a um resultado econômico prático, enquanto que outros se limitam à pantominice. E os pantomineiros são muito prejudiciais, porque o trabalho se lhes escapa por entre os dedos ...”. Este tipo de operário, eis o que ele é: torneiro, serralheiro ou fundidor zeloso, hábil e atento ao seu trabalho; não é entusiasta, é antes politicamente passivo, mas reflete, tem espírito crítico; é por vezes um pouco cético, mas mantém-se sempre fiel à sua classe; é um proletário de valor. É em direção a este tipo de operários que o partido deve atualmente dirigir os seus esforços. O nosso grau de implantação nessa camada social - na economia, na produção, na técnica - será o índice mais seguro dos nossos êxitos em matéria de militantismo cultural, encarado no seu sentido mais amplo, no sentido leninista do termo.
Dirigir os nossos esforços para o operário consciencioso, de modo nenhum contradiz, claro está, a tarefa primordial do partido que consiste em enquadrar a jovem geração do proletariado, porque esta jovem geração se desenvolve em condições precisas; forma-se, fortalece-se e endurece-se resolvendo determinados problemas. A jovem geração deve, antes de mais, ser uma geração de operários especializados, altamente qualificados, amantes do seu trabalho. Deve adquirir consciência de que a sua produção serve ao mesmo tempo o socialismo. A atenção dispensada à aprendizagem, o desejo de adquirir uma alta qualificação, aumentará, aos olhos da juventude, a autoridade dos «velhos» operários, que, como já se disse, permanecem na maioria fora do partido. Ao mesmo tempo que dirigimos os nossos esforços para o operário consciencioso e hábil, devemos também aplicar-nos em educar a juventude proletária. Sem isso, seria impossível seguir em frente, rumo ao socialismo.
Notas:
1. É útil lembrar aqui a definição do “militantismo cultural” que dou nos meus “Pensamentos sobre o Partido”:
“Ao nível da sua realização política, a revolução parece ter-se ”dispersado” em tarefas particulares: é preciso reparar as pontes, ensinar a ler e a escrever, baixar o preço de custo da fabricação das botas nas fábricas soviéticas, lutar contra a imundície, prender os escroques, levar a eletricidade aos campos, etc. Alguns grosseiros intelectuais de espírito invertido (é decerto a razão pela qual se consideram poetas e filósofos), falaram já da revolução com grandiosa condescendência. Aprende-se, dizem eles, a vender (como é patusco) e a coser os botões (deixai-nos rir). Mas deixemos esses tagarelas palrar no vazio. Realizar um trabalho puramente prático e quotidiano no domínio da economia e da cultura soviéticas - mesmo no do comércio de retalho - de modo nenhum significa ocupar-se de «coisas mínimas» e não implica necessariamente mentalidade mesquinha. Coisas mínimas sem grandes coisas é o que mais abunda na vida humana. Mas em história não se fazem nunca grandes coisas sem pequenas coisas. Mais exatamente: as pequenas coisas, numa grande época, quando integradas numa grande obra, deixam de ser “pequenas coisas”.
Entre nós, trata-se da construção da classe operária, que, pela primeira vez, constrói para si e segundo o seu próprio plano. Esse plano histórico, ainda extremamente imperfeito e confuso, deve englobar no seu conjunto criativo único todos os elementos, mesmo os mais insignificantes, da atividade humana.
Todas as tarefas menores e isoladas - até ao comércio soviético de retalho - são parte integrante da classe operária dominante que procura ultrapassar a sua fraqueza econômica e cultural.
A construção socialista é uma construção planificada de grande envergadura. Através do fluxo e refluxo, dos erros e das viragens, dos meandros da N.E.P., o partido persegue o seu plano, ensina a cada um a ligar a sua atividade particular à obra geral, que exige hoje que se cosam os botões com cuidado e que amanhã pedirá que se morra corajosamente sob a bandeira do comunismo.
Devemos exigir, e exigimos, da parte da nossa juventude, uma especialização superior e aprofundada; deverá pois se libertar do principal defeito da nossa geração, que blasona de tudo conhecer e de tudo saber fazer; mas tratar-se-á de uma especialização ao serviço do plano geral, pensado e aceite por cada um em particular.
2. Em russo: “partijnost”. Fonte: Questões do Modo de Vida 
Fonte: http://www.pstu.org.br/cultura_materia.asp?id=13340&ida=18

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