por Stephen Leahy, da IPS

Leipzig, Alemanha, 27/5/2011 – A Europa poderá sofrer fome no futuro, a menos que mude suas políticas agrícolas e converta os produtores nos protagonistas das pesquisas no setor, alerta um informe do Instituto Internacional para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (IIED), com sede em Londres. Segundo o estudo, há pouca esperança de o continente atingir sua meta anunciada de frear a perda debiodiversidade em dez anos, se não introduzir essas mudanças.

A França sofre uma grave seca, mas as leis europeias sobre sementes impedem os agricultores desse país de utilizar maior variedade de sementes, o que poderia ajudar, disse Michel Pimbert, autor do estudo. “Nossas leis sobre sementes estabelecem a uniformidade. A França só pode usar sementes aprovadas, e as novas variedades necessitam de muita água”, disse à IPS.

Para Pimbert, “a liberdade dos produtores de escolher as sementes, desenvolver variedades melhoradas de colheitas e ter uma agricultura com rica biodiversidade será fundamental para a resposta da Europa àmudança climática”. “As políticas agrícolas da Europa nos impedem de nos adaptarmos à mudança climática. Também são más para a biodiversidade, já que obrigam os agricultores a utilizar cada vez mais uma estreita gama de sementes e raças de animais”, acrescentou.

Os produtores se veem de mãos amarradas pelas leis que obrigam à uniformidade e protegem as patentes. Sob as normas de propriedade intelectual, os produtores devem pagar por usar genes e tecnologias patenteadas, em sua maioria propriedade de grandes corporações. Os cientistas estão na mesma armadilha e não podem utilizar a ampla gama de diversidade de sementes, segundo Pimbert. O resultado é uma drástica redução da diversidade genética, alerta o informe Oportunidades para as Sementes na Agricultura, divulgado no começo deste mês.

O estudo se baseia nas descobertas do projeto de mesmo nome financiado pela União Europeia (UE), no qual colaboraram institutos de pesquisa públicos, redes de camponeses e associações de produtores orgânicos de seis países do bloco. Especialistas concordam que a diversidade proporciona maior capacidade de resistência a um sistema de produção de alimentos que será duramente afetado pelo aquecimento global.

Por exemplo, uma diversificada combinação de plantas, árvores e animais duplicou a quantidade de terras cultivadas em 20 países da África subsaariana nos últimos dez anos, segundo um informe de Olivier de Schutter, relator especial da Organização das Nações Unidas sobre o Direito à Alimentação. Esta forma de produção é a agroecologia. Além de conseguir maiores resultados com menores custos, este tipo de produção também melhora a saúde do solo e reduz drasticamente a pegada de carbono, que mede a quantidade de gases-estufa emitidos por pessoas, produtos ou empresas. “É justo dizer que entre 45% e 50% de todas as emissões humanas desses gases procedem da forma atual de produzir alimentos”, disse Schutter à IPS em uma entrevista anterior.

O atual sistema de produção mundial de alimentos “ameaça matar a todos nós”, escreveu o biólogo Colin Tudge, no prefácio do estudo. “O tipo de agricultura que faz mais dinheiro no menor prazo vai totalmente contra o tipo de agricultura que pode nos alimentar, e que pode continuar nos alimentando”, escreveu Tudge. A agroecologia funciona da mesma maneira que a natureza, com uma ampla variedade de elementos que atuam sinergicamente. Há enorme evidência demonstrando que esses métodos produzem mais alimentos e são mais sustentáveis, afirmou.

A Política Agrícola Comum (PAC) da UE é um sucesso, mas somente em fazer dinheiro para as corporações e na produção de grandes quantidades de alimentos ao custo de enormes emissões de carbono, contaminação degradação das terras e redução do número de agricultores, afirmou Pimbert. A idade média de um produtor agrícola na Grã-Bretanha é superior a 60 anos. “Há apenas um punhado de agricultores na Europa ocidental. Foram substituídos por máquinas e capital”, acrescentou.

A PAC é um sistema de subsídios e programas para o setor que deve ser reformado em 2013. Atualmente, baseia-se em princípios neoliberais que fracassaram, disse Carlo Petrini, presidente da organização Slow Food International. “Cada comunidade deve ter o direito de escolher o que produzir sem influências externas ditadas pelos mercados internacionais”, afirmou.

Fortalecer o apoio aos produtores locais deve ser parte da nova PAC, disse, por sua vez, o agricultor e ativista francês José Bové, presidente do Comitê sobre Agricultura e Desenvolvimento Rural, do Parlamento Europeu. “Se as comunidades rurais não tiverem a possibilidade de decidir seu destino, a situação não vai melhorar”, disse em uma declaração. A nova PAC deve deixar de se concentrar nas monoculturas e adotar um enfoque agroecológico para salvaguardar a biodiversidade da qual dependem os fornecimentos de alimentos, disse Pimbert.

“Os cientistas não estão treinados para tratar com sistemas complexos, por isto, este é o desafio”, acrescentou Pimbert. Os agricultores também precisam de um lugar central nos esforços, com liberdade para intercambiar sementes e utilizar a diversidade, prosseguiu. Atualmente, a Europa não está preparada para enfrentar a mudança climática. “Até agora amortizamos impactos significativos, mas o que está por vir está além de nossa experiência”, concluiu Pimbert.

Envolverde/IPS