domingo, 31 de janeiro de 2010

Polícia catarinense prende líderes do MST em “ação preventiva”



Com mais de 30 policiais militares, a prisão foi efetuada no momento em que se realizava uma reunião pública
Por Elaine Tavares Florianópolis, SC
eteia.blogspot.com

Um dos coordenadores estaduais do MST em Santa Catarina, Altair Lavratti, foi preso na noite desta quinta-feira (28) em Imbituba numa ação que lembra os piores momentos de um estado de exceção. Com uma força de mais de 30 policiais militares, a prisão foi efetuada no momento em que ele realizava uma reunião pública, num galpão de reciclagem de lixo da cidade. A acusação é de que Lavratti, junto com outros sindicalistas e militantes sociais preparava uma ocupação de terras na região. Foi levado sob a alegação de “formação de quadrilha”.

Segundo informações divulgadas no jornal Diário Catarinense, que estava magicamente” no ato da prisão ao lado da polícia, os integrantes do MST estavam sendo monitorados desde novembro depois que um integrante do Conselho de Segurança Comunitária de Imbituba passou informações sobre a organização de uma suposta ocupação em terras do estado. Outras duas pessoas também foram presas, sendo que uma delas, Marlene Borges, presidente da Associação Comunitária Rural, está grávida. Ela teve a casa cercada na madrugada de sexta-feira e foi levada para Criciúma. Outro militante, Rui Fernando da Silva Junior, foi levado para a cidade de Laguna.

Integrantes do MST, advogados e um deputado estadual estiveram procurando por Lavratti durante a noite toda, mas não haviam conseguido contato até a manhã de sexta-feira, quando souberam que de Imbituba ele havia sido levado para Tubarão.

Ainda segundo informações da polícia, o juiz Fernando Seara Hinckel autorizou gravações telefônicas e determinou a intervenção do Ministério Público. Também teria havido a participação de P-2 (policiais a paisana, disfarçados) infiltrados nas reuniões dos militantes sociais da região de Imbituba.

Usando de um artifício já usado contra o Movimento dos Atingidos das Barragens, que foi o de prender “preventivamente” integrantes do movimento alegando “suspeita de invasão”, o poder repressivo de Santa Catarina repete a dose agora contra o MST. Para a polícia e para o poder público, reuniões que envolvam sindicalistas e lutadores sociais passam a ser “suspeitas” e sendo assim, passíveis de serem interrompidas com prisão. Só para lembrar, este é um tipo de ação agora muito usado nos Estados Unidos, depois de 11 de setembro, quando o presidente George Bush acabou com todas as garantias individuais dos cidadãos. Lá, e agora também aqui, o estado pode considerar suspeita qualquer tipo de reunião que envolva movimentos sociais. Conversar e organizar a luta por uma vida melhor passa a ser coisa de “bandido”.

A acusação de formação de quadrilha não encontra respaldo uma vez que é pública e notória a preocupação do MST com a situação das famílias daquela região, que vem sistematicamente tendo que abandonar a zona rural em função da falta de apoio à agricultura familiar, enquanto o agronegócio recebe generosa ajuda governamental. A reunião na qual estava Lavratti justamente discutia esta situação e levava a solidariedade do movimento às famílias que seguem sendo despejadas de suas terras, ações que fazem parte do cotidiano do MST. A ação do governo se deve ao fato de em Imbituba ter sido criada uma Zona de Processamento e Exportações que tem engolido fatias consideráveis de dinheiro público sendo, portanto, considerada estratégica para os empresários da região.

Para o MST, as prisões foram descabidas, e só reflete a forma autoritária como o governo de Santa Catarina tem conduzido a relação com os movimentos sociais, criminalizando as tentativas dos catarinenses de realizar a luta por uma vida digna. Já para dar respostas aos atingidos pelo desastre em Blumenau, ou aos desabrigados pelas chuvas que tem caído torrencialmente este ano em Santa Catarina, não há a mesma agilidade estatal. Como bem já analisava o sociólogo Manoel Bomfim, no início do século vinte, ao refletir sobre a formação do estado brasileiro: “desde o princípio o Estado foi um aparelho de espoliação e tirania, feroz na opressão, implacável na extorsão. É um parasita”. Sempre aliado aos donos do poder e da riqueza, o Estado abandona as gentes e só existe para o mal do povo. É por conta disso, que, conforme Bomfim, “a revolta contra as autoridades públicas é o processo normal de reclamar justiça” já que as populações são sistematicamente abandonadas pelo Estado e pela Justiça enquanto a minoria predadora dos ricos e poderosos tem seus interesses defendidos, inclusive com o uso do dinheiro e do patrimônio que é de todos.

Como exemplo disso, basta trazer à memória o escândalo da Moeda Verde, quando ricos empresários locais fraudaram laudos ambientais para a construção de grandes empreendimentos na cidade de Florianópolis. Presos sob a luz dos holofotes, não ficaram um dia sequer na cadeia e o governador do Estado segue frequentando suas festas e dizendo ao país inteiro, através da televisão, que os empreendimentos construídos a partir da fraude são os mais bonitos da cidade e necessitam ser conhecidos e consumidos. Outro caso emblemático e atual, que não recebe a mão pesada do poder público, é o que envolve o vice-governador Leonel Pavan, enredado em escândalo de corrupção, e que também muito pouco interesse provoca na mídia. Não precisa ir muito longe para observar que Manoel Bomfim está coberto de razão: “os estadistas devem inquirir das condições sociais, indagar se as populações se sentem mais felizes e as causas dos males que ainda as atormentam, para combatê-las eficazmente”. Mas, em vez disso, lutadores do povo são presos e os direitos coletivos se perdem diante do interesse privado de uma minoria.
Fonte: Jornal Brasil de Fato

Charges São Paulo - Promessas Serra/Kassab






"Desculpas" de Serra e Kassab para justificar o caos em São Paulo

Como se sabe, Zé Alagão culpou o pobre pelo último alagão.
A baixa qualidade do ensino público de São Paulo, como se sabe, segundo Zé Alagão, é culpa dos “migrantes”.
Ouço a CBN nesta manhã de sexta-feira alagado em um engarrafamento do Zé Alagão.
A repórter do helicóptero descreve o caos no engarrafamento de uma estrada.
Sobre o engarrafamento, sobre o diário engarrafamento, sobre a falta de providências para impedir o engarrafamento, nada.
A repórter culpa os motoristas que usam o acostamento.
Como se fosse um conjunto de alucinados que prefere o acostamento ao leito da estrada.
E aí vem o preconceito racial: a culpa é dos motoboys, “migrantes”, que usam o acostamento.
“É uma questão de cidadania”, ouve-se na CBN.
Ou seja, além de usar o acostamento o pobre de São Paulo joga sofá no rio -
clique aqui para ler - e usa o acostamento.
Esse pessoal tinha que voltar para o Nordeste,é o que sugere o poste prefeito de São Paulo – veja vídeo abaixo
.
A CBN se transfere então para uma estação do metrô, a estação Sé.
O pobre coitado do repórter levou 20 minutos dentro da estação até chegar à posição que permite entrar no vagão.
Lá dentro do vagão, de novo, os pobre e os “migrantes”, que não tem cidadania, se empurram enquanto assistem à propaganda do Zé Alagão na TV.
Zé Alagão descreve São Paulo como a Lucerne, da Suíça, que o Gilberto Dimenstein analisa em suas cândidas crônicas radiofônicas.
Alguém pergunta se aquela situação de alagamento dentro do vagão do metrô é culpa do papai noel. O repórter responde que não tem o hábito de andar de metrô mas, aparentemente, é sempre assim.
Que dizer, o pobre e o Papai Noel são capazes de coisas incríveis.
Veja o vídeo que evidencia o preconceito contra os nordestinos



Veja também a matéria do do jornal "O Globo"

Chuva em SP: Kassab nega caos na cidade; Serra vê problema de 'comportamento da população'
SÃO PAULO - Um dia depois de mais de 14 horas de chuva ininterrupta ter isolado a cidade de São Paulo, provocado o transbordamento dos rios Tietê e Pinheiros e deixado mortos na capital e na Grande São Paulo, o prefeito da cidade, Gilberto Kassab (DEM), negou situação de caos no município. O governador José Serra também falou sobre a chuva e disse que há um 'problema de comportamento da população' ao jogar lixo em córregos e rios da cidade. Segundo ele, isso agrava o assoreamento dos rios.
Para Kassab, os paulistanos sabiam o que estavam fazendo e para onde deveriam ir, por isso ele não aceita a ideia de que a cidade passou por momento caótico. Alguns motoristas passaram até sete horas em congestionamentos.
- Foi um dia difícil para a cidade, mas não foi o caos. O caos é quando se perde o controle e você não sabe as causas para o que aconteceu. (Quando se tem) uma cidade sem rumo - disse o prefeito.
E acrescentou:
- Na terça, tínhamos um fato específico, uma chuva intensa, localizada, além do transbordamento do rio Tietê. Mas todos sabíamos o que estavámos fazendo e para onde iríamos. O caos é diferente. O caos é o caos - disse ele, durante inauguração de um laboratório de saúde, nesta quarta-feira.
Fonte: O Globo

Teve um Governador "cara de pau" que acabou com as enchentes


Fonte: Paulo Henrique Amorim

sábado, 30 de janeiro de 2010

O sequestro do Haiti


por John Pilger
A ajuda real não vem da tropa deles. O roubo do Haiti foi ágil e brutal. A 22 de Janeiro, os Estados Unidos asseguraram "aprovação formal" das Nações Unidas para ocupar todos os portos aéreos e marítimos do Haiti e para "assegurar" as estradas. Nenhum haitiano assinou o acordo, o qual não tem base legal. A potência impera com um bloqueio naval americano e a chegada de 13 mil fuzileiros navais, forças especiais, espiões e mercenários, nenhum deles com treino para ajuda humanitária.
O aeroporto na capital, Port-au-Prince, é agora uma base militar americana e voos de socorro foram redireccionados para a República Dominicana. Todos os voos cessaram durante três horas para a chegada de Hillary Clinton. Haitianos criticamente feridos esperaram sem ajuda enquanto 800 americanos residentes no Haiti eram alimentados, lavados e evacuados. Passaram-se seis dias antes de a U.S. Air Force lançar água engarrafada para pessoas a sofrerem de sede e de desidratação.
Os primeiros relatos da TV desempenharam um papel crítico, dando a impressão de um caos de crime generalizado. Matt Frei, o repórter da BBC despachado de Washington, parecia ofegante quando zurrava acerca da "violência" e necessidade de "segurança". Apesar da dignidade demonstrada pelas vítimas do terramoto, e da evidência de grupos de cidadãos a trabalhar sem ajuda para resgatar pessoas, e até mesmo da avaliação de um general americano de que a violência no Haiti era consideravelmente menor do que antes do terramoto, Frei berrava que "o saqueio é a única indústria" e que "a dignidade do passado do Haiti está há muito esquecida". Portanto, uma história de implacável violência e exploração estado-unidense no Haiti foi atribuída à vítimas. "Não há dúvida", relatava Frei na sequência da sangrenta invasão do Iraque pelos EUA em 2003, "que o desejo de trazer o bem, de levar os valores americanos ao resto do mundo, e especialmente agora ao Médio Oriente... está agora cada vez mais ligado ao poder militar".
Num certo sentido, ele estava certo. Nunca antes num tempo considerado de paz as relações humanas foram tão militarizadas pela potência predadora. Nunca antes um presidente americano subordinou o seu governo ao establishment militar do seu desacreditado antecessor, como fez Barack Obama. Para prosseguir a política de guerra e dominação de George W. Bush , Obama pediu ao Congresso um orçamento militar sem precedentes de US$700 mil milhões. Ele tornou-se, com efeito, o porta-voz de um golpe militar.


Para o povo do Haiti as implicações são claras, ainda que grotescas. Com tropas estado-unidenses no controle do seu país, Obama nomeou George W. Bush para o "esforço de ajuda": uma paródia retirada certamente de "The Comedians", de Graham Greene, que se passava no Haiti de Papa Doc. Como presidente, o esforço de Bush a seguir ao Furacão Katrina em 2005 conduziu a uma limpeza étnica de grande parte da população negra de Nova Orleans. Em 2004, ele ordenou o sequestro do primeiro-ministro eleito democraticamente no Haiti, Jean-Bertrand Aristide, e exilou-o na África. O popular Aristide teve a temeridade de legislar modestas reformas, tais como um salário mínimo para aqueles que labutam em oficinas no Haiti sob condições atrozes.
Da última vez que estive no Haiti, observei muitas meninas recurvadas sobre máquinas de costura zumbidoras e estridentes na Port-au-Prince Superior Baseball Plant. Muitas tinham os olhos inchados e os braços lacerados. Saquei de uma câmara e fui expelido para fora. O Haiti é onde a América faz o equipamento para o seu bendito jogo nacional, quase de graça. O Haiti é onde empreiteiros da Wal Disney fazem pijamas Mickey Mouse, quase de graça. Os EUA controlam o açúcar, a bauxita e o sisal do Haiti. A cultura do arroz foi substituída por arroz americano importado, levando o povo para as cidades e habitações improvisadas. Ano após ano, o Haiti foi invadido pelos US marines, infames pelas atrocidades que têm sido a sua especialidade desde as Filipinas até o Afeganistão.
Bill Clinton é outro comediante, tendo conseguido ser nomeado o homem da ONU no Haiti. Outrora bajulado pela BBC como o "Sr. Belo Tipo... que leva a democracia a uma terra triste e perturbada", Clinton é o mais notório corsário do Haiti, a exigir a desregulamentação da economia em benefício dos barões das fábricas escravizantes (sweatshops). Ultimamente, ele tem estado a promover um negócio de US$55 milhões para transformar o Norte do Haiti num "campo turístico" anexado à América.
Não é por causa dos turistas que o edifício da embaixada dos EUA em Port-au-Prince é o quinto maior do mundo. Décadas atrás foi descoberto petróleo no Haiti e os EUA mantiveram-nas em reserva até que o do Médio Oriente começasse a esgotar-se. De modo mais premente, um Haiti ocupado tem uma importância estratégica nos planos de Washington para "reverter" a América Latina. O objectivo é o derrube de democracias populares na Venezuela, Bolívia e Equador, o controle das abundantes reservas petrolíferas da Venezuela e a sabotagem da crescente cooperação regional que deu a milhões o antegosto de uma justiça económica e social sempre negada pelos regimes patrocinados pelos EUA.
O primeiro êxito da reversão ocorreu no ano passado com o golpe contra o presidente José Manuel Zelaya, que também ousou advogar um salário mínimo e que os ricos pagassem impostos. O apoio secreto de Obama ao regime ilegal de Honduras implica uma advertência clara a governos vulneráveis da América Central. Em Outubro último, o regime na Colômbia, há muito financiado por Washington e apoiado por esquadrões da morte, entregou aos EUA sete bases militares para, segundo documentos da US Air Force, "combater governos anti-EUA na região".
A propaganda dos media preparou o terreno para o que pode vir a ser a próxima guerra de Obama. Em 14 de Dezembro, investigadores na Universidade de West England publicaram as primeiras descobertas de um estudo de dez anos de noticiários da BBC sobre a Venezuela. De 304 reportagens da BBC, apenas três mencionavam algumas das reformas históricas do governo Chávez, ao passo que a maioria difamava o extraordinário registo democrático de Chavez, ao ponto de compará-lo a Hitler.
Tais distorções e o concomitante servilismo ao poder ocidental são predominantes nos media corporativos anglo-saxónicos. Povos que lutam por uma vida melhor, ou pela própria vida, da Venezuela a Honduras e ao Haiti, merecem o nosso apoio.
O original encontra-se em
http://www.johnpilger.com/page.asp?partid=564
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
Veja Também o vídeo abaixo : "Solidariedade sim, ocupação não"!




Fonte: http://defesadotrabalhador.blogspot.com/2010/01/video-sobre-terremoto-no-haiti.html

Stédile promete cerco mundial à Cutrale

Líder do MST critica polícia, defende ataque à fazenda da empresa e diz que ''ocupar terra pública não é crime''

Por Sandra Hahn
O líder do Movimento dos Sem-Terra João Pedro Stédile criticou ontem a prisão de nove pessoas ligadas ao MST nesta semana, disse que "ocupar terra pública não é crime" e prometeu uma campanha "de denúncia" contra a Cutrale por injustiças que atribuiu às atividades da fabricante de suco. "Vamos mobilizar nossos amigos em todo o mundo", afirmou Stédile, dizendo que a campanha começaria no Fórum Social Mundial, onde participou de seminário.
"Vamos aproveitar o fórum para denunciar a forma como a Cutrale produz esse suco, que depois ela entrega para a Coca-Cola", declarou o líder.
A Operação Laranja, que resultou nas prisões, foi desencadeada pelas investigações para apurar os responsáveis pela invasão da Fazenda Cutrale em Borebi (SP), em outubro. Sete nomes estavam na lista dos mandados de prisão que seriam cumpridos e dois foram detidos por porte ilegal de armas.
Stédile reiterou que "ocupar terra pública não é crime, é um dever". Acrescentou que "a Polícia Civil de São Paulo está exagerando por motivação política" e considerou que a ação aproveitou o calendário eleitoral, porque em fevereiro o Congresso voltará do recesso e recomeçam os trabalhos da CPI que vai apurar denúncias de irregularidades em convênios entre a União e entidades ligadas ao MST. Segundo ele, a fazenda foi ocupada para denunciar "que a Cutrale é invasora de uma terra pública".
REFORMA AGRÁRIA
Stedile criticou andamento da reforma agrária, dizendo que o presidente Lula descumpriu compromissos com o MST, e pediu que o governo faça a revisão dos índices de produtividade, que servem para avaliar as propriedades rurais para fins de reforma agrária.

Fonte: O Estado de São Paulo.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O fator MST


Por Leandro Fortes

A prisão de nove lideranças do MST, no interior de São Paulo, algumas das quais filiadas ao PT, foi o ponto de partida de uma estratégia eleitoral virtualmente criminosa e extremamente profissional, embora carente de originalidade. Trata-se de perseguição organizada, de inspiração claramente fascista, de líderes de um movimento que diz respeito à vida e ao futuro de milhões de brasileiros, que revela mais do que o uso rasteiro da política. Revela um tipo de crueldade social que se imaginava restrita a políticos do Brasil arcaico, perdidos nos poucos grotões onde ainda vivem, isolados em seus feudos de miséria, uns poucos coronéis distantes dos bons modos da civilização e da modernidade.
No entanto, o rico interior paulista, repleto de terras devolutas da União griladas por diversas gerações de amigos do rei, tem sido um front permanente dessa guerra patrocinada pela extrema direita brasileira perfilada hoje, mais do que nunca, por trás da bela fachada do agronegócio e sua propalada importância para a balança comercial brasileira. Falar-lhes mal passou a ser de mau alvitre, um insulto a uma espécie de cruzada dourada cujo efeito colateral tem sido a produção de miséria e cadáveres no campo e, por extensão, nas cidades. É nosso mais grave problema social e o mais claramente diagnosticável, mas nem Lula chegou a tanto.
Assim, na virada de seu último ano de mandato, o presidente parece ter afrouxado o controle sobre a aliança política que lhe permitiu colocar, às custas de não poucos danos, algumas raposas dentro do galinheiro do Planalto. Bastou a revelação do pacote de intenções do Plano Nacional de Direitos Humanos, contudo, para as raposas arreganharem os dentes sem medo, fortalecidos pela hesitação de Lula em enquadrá-los sob o pretexto de evitar crises inevitáveis. A reação do ministro Nelson Jobim, da Defesa, ao PNDH-3, nesse sentido, foi emblemática e, ao mesmo tempo, reveladora da artificialidade dessa convivência entre forças conservadoras e progressistas dentro do governo do PT, um nó político-ideológico a ser desatado durante a campanha eleitoral, não sem traumas para a candidata de Lula, a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil.
Com a ajuda de Jobim, a velha sanfona anticomunista voltou a soltar os foles e se engajou nesse desarranjo histórico que tem gerado crises artificiais e um consequente show de péssimo jornalismo. Tocou-se, então, o triste baião anti-Dilma das vivandeiras, a arrastar os pés nas portas dos quartéis e a atiçar as sentinelas com assombros de revanchismo e caça às bruxas, saudosos do obscurantismo de tempos idos – mas, teimosamente, nunca esquecidos –, quando bastava soltar bestas-feras fardadas sobre a sociedade para calá-la. Ao sucumbir à chantagem de Jobim e, por extensão, à dos comandantes militares que lhe devem subordinação e obediência, Lula piscou.
No lastro da falsa crise militar criada por Jobim, com o auxílio luxuoso de jornalistas amigos, foi a vez de soltar a voz o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, cujo arrivismo político iniciou-se na ditadura militar, à qual serviu como deputado da Arena (célula-tronco do DEM) e presidente do INPS no governo do general Ernesto Geisel, até fazer carreira de ministro nos governos Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Lula. Essa volatilidade, no entanto, sempre foi justificada por conta de um festejado “perfil técnico” de Stephanes. Trata-se de um mistério ainda a ser desvendado, não a capacidade técnica, mas as intenções de um representante político do agronegócio dentro governo Lula, uma posição institucional baseada em alinhamento incondicional à Confederação Nacional da Agricultura (CNA), comandada pelo senadora Kátia Abreu, do DEM de Tocantins.
Com Kátia, Stephanes ensaiou um animado jogral e conseguiu, até agora, boicotar a mudança dos índices de produtividade agrícola para fins de reforma agrária – um tiro certeiro no peito do latifúndio, infelizmente, ainda hoje não desferido por Lula. Depois, a dupla partiu para cima do PNDH-3, ambos procupadíssimos com a possibilidade de criação de comitês sociais a serem montados para mediar conflitos agrários deflagrados por ocupações de terra. Os ruralistas liderados por Kátia Abreu e Ronaldo Caiado se arrepiam só de imaginar o fim da tradicional política de reintegração de posse, tocada pelos judiciários e polícias estaduais, como no caso relatado
nesta matéria de CartaCapital. A dupla viu na proposta um incentivo à violência no campo, quando veria justamente o contrário qualquer menino bem educado nas escolas geridas pelo MST. São meninos crescidos o suficiente para saber muito bem a diferença entre mediadores de verdade e os cassetetes da Polícia Militar.
O governo Lula já havia conseguido, em 2008, neutralizar um movimento interno, tocado pelo Gabinete de Segurança Institucional, interessado em criminalizar o MST taxando o ato de invasão de terra de ação terrorista. Infelizmente, coisas assimainda vêm da área militar. O texto do projeto foi engavetado pela Casa Civil por obra e graça da ministra Dilma Rousseff. Lula, contudo, não quer gastar o último ano de uma era pessoal memorável comprando briga com uma turma que, entre outros trunfos, tem uma bancada de mais de uma centena de congressistas e a simpatia declarada do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes. Assim, distraído, o presidente deixou que Jobim e Stephanes envenenassem o processo político às vésperas das eleições, com óbvios prejuízos para a candidatura Dilma, bem no começo da briga com José Serra, do PSDB, o governador que por ora se ocupa em prender militantes do MST e do PT enquanto toca terror em assentamentos cheios de mulheres e crianças, no interior de São Paulo, com seu aparato de segurança pública.
O MST existe há 25 anos e é o mais importante movimento social de base da história do Brasil. A crítica à sua concepção socialista e a eventuais desvios de conduta de alguns de seus participantes é, deliberadamente, ultradimensionada no noticiário para passar à sociedade, sobretudo à dos centros urbanos, a impressão de que seus militantes são vândalos nutridos pelo comunismo e outras reflexões sociológicas geniais do gênero.
A luta do MST é, basicamente, a luta contra o latifúndio e a concentração fundiária nas mãos de uma elite predatória, violenta e vingativa. Essa é a origem de todos os problemas da sociedade brasileira desde a sua fundação, baseada em capitanias hereditárias, em 1532. Nenhum governo teve a coragem necessária, até hoje, para tomar medidas efetivas para acabar com o latifúndio e, assim, encerrar com esse ciclo cruel de concentração de terras no campo brasileiro, responsável pelo inchaço das periferias e pela violência contra trabalhadores rurais, inclusive torturas e assassinatos, com o periódico beneplácito da Justiça e das autoridades constituídas, muitas das quais com campanhas eleitorais financiadas pelos grupos interessados em manter este estado de coisas.
A luta contra o latifúndio não é a luta contra a propriedade privada, essa relação também foi contruída de forma deliberada e tem como objetivo tirar o verdadeiro foco da questão. A construção desse discurso revelou-se um sofisma baseado na a inversão dos valores em jogo, como em uma charada de um mundo bizarro: a ameaça social seria a invasão (na verdade, a distribuição) de terras, e não a concentração no campo, o latifúndio. E isso é vendido, assim, cru, no horário nobre.
É uma briga dura, difícil. Veremos se Dilma Rousseff, em cima do palanque, será capaz de comprá-la de novo.

Fonte : Blog Brasília, eu vi

Boaventura e as transições necessárias para mudar o mundo


Por: João Peres, Rede Brasil Atual
Para sociólogo português, substituir o slogan "um outro mundo é possível" por "um outro mundo é necessário e é urgente" vai obrigar o Fórum a se reconstruir se quiser avançar.

Direto de Porto Alegre - Boaventura de Sousa Santos fez uma poderosa síntese dos processos pelos quais passa o mundo. O sociólogo português mostrou porque é um dos maiores pensadores da esquerda não apenas nas edições do Fórum Social Mundial em Porto Alegre como em eventos globais em que se discutem direitos humanos, Justiça e novos rumos para a humanidade. Atuante em diversas agendas acadêmicas da Universidade de Coimbra, Boaventura é generoso com os pedidos de entrevistas e audiências.
Sua intervenção na tarde do dia 28, em Porto Alegre, discute a partir de uma análise histórica recente como chegamos a essa fase de "pós-capitalismo" e de como o mundo caminha, necessariamente, para uma mudança de paradigmas de organização das sociedades e das economias. No debate "Como construir uma nova hegemonia”, a plateia presente à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul levantou para aplaudi-lo.
Boaventura chegou a abrir um "parênteses" em sua exposição. Por alguns minutos, levantou-se para ir até à sede do Ministério Público Estadual do Rio Grande do Sul onde protestou pelas ações do órgão contra o MST. “Temos aqui no Rio Grande do Sul microestados de exceção, situações que não são democráticas. Aqui, onde estamos a pensar o futuro, onde pensamos a transição ao socialismo...”, afirmou.
Em sua fala, Boaventura de Sousa Santos observou que o neoliberalismo não está derrotado. "A nossa hegemonia é uma contra-hegemonia. Um novo consenso, mais difícil de estabelecer do que os consensos de que falava Gramsci, porque obviamente, para ele, o consenso era estabelecido dentro do movimento operário e nada mais. Hoje, o movimento operário, tão precioso e tão presente neste Fórum, sabe que partilha essa agenda com outras organizações, com outros movimentos", disse.
Leia, em seis partes, os principais trechos de sua fala.
Queiramos ou não, pertencemos à minoria que se beneficia da injustiça
Foi errado colocar no lixo da história a palavra revolução
Cinco transições necessárias para mudar o mundo
Um "selo" do Fórum Social Mundial em ação
Temas para avançar nas ações coletivas
De inconformismo conformado a rebeldia competente


O Latifúndio (fazendeiros, agro-empresários e ruralistas) explora, escraviza e mata e a mídia imputa a culpa pela violência no campo nos mov. sociais

Se um leigo, sobre questão agrária brasileira, ler o editorial do Estadão de hoje (29.01.10) automaticamente poderá deduzir que o campo brasileiro está infestado por terroristas e assassinos que agem em todo território nacional em conluio com a polícia, a justiça alguns políticos.
O que tem de verdade nisso? Nada!
È mais uma manipulação de nossa mídia nativa.
Sabemos que o Estadão representa um dos braços da ELITE brasileira, que trabalha diuturnamente para desqualificar qualquer movimento que provoque ruptura ou ameace a atual ordem estabelecida, mesmo que essa ordem seja precursora de valores nefastos à sociedade, tais como: assassinato, trabalho escravo, genocídio, grilagem de terras e tortura.O O que importa é a defesa do grande empresário, do latifundiário ou do fazendeiro.

O que importa é manutenção dos privilégios usurpados historicamente pela classes abastadas.
Essa quadrilha midiática aceita todas as formas de violência praticada por seus "patrocinadores" (trabalho escravo, grilagem de terra, degradação ambiental, assassinato de trabalhadores e de agentes do Estado, genocídio indígena, expropriação quilombola entre outras), mas quando alguns trabalhadores se rebelam contra essa opressão não demoram a cobrar do Estado repressão, vingança, tortura etc.
No caso da CUTRALE, é irrelevante os crimes dessa empresa. Não importa que ela tenha roubado o Estado, invadindo terras públicas. O que importa para a mídia nativa é provar para a sociedade que os trabalhadores são bandidos, principalmente aqueles que contestam os poderosos e pedem justiça.
O que importa é defender o “patrão” contra a insolência do empregado.
O que importa é provar que não devemos lutar pela democracia.
O que importa para o Estadão é provar que as cobranças do povo é crime e o roubo instituído da elite (Cutrale) é direito.
O que importa é perpetuar o dinamismo dos atuais sistemas de objetos e sistemas de ações para legitimar os cinco séculos de latifúndio de exploração e de desmando de uma elite perdulária e genocida.

Vejamos o editorial:
Editorial Estadão (29.01.10) - MST nas malhas da lei
Se o Movimento dos Sem-Terra (MST) viesse sendo considerado pelas autoridades, já há muito tempo, um caso de polícia, dada a sucessão rotineira de crimes praticados em suas operações - que vão desde a depredação de bens e matança de animais em propriedades invadidas, até a destruição de laboratórios de pesquisas necessárias aos avanços da atividade agrícola, sem esquecer o cárcere privado de trabalhadores das fazendas -, com certeza se teria evitado não só a repetição de tais crimes, como a grande insegurança que se instalou entre os produtores do campo, todos sob a permanente ameaça de ver suas propriedades invadidas por bandidos travestidos de militantes de movimentos sociais. De qualquer forma, nunca é tarde para fazer-se cumprir a lei.
Cumprindo 20 mandados de prisão e outros 30 de busca e apreensão, expedidos pelo juiz Mário Ramos dos Santos, da 1ª Vara Criminal de Lençóis Paulista, a Polícia Civil de São Paulo prendeu, na terça-feira, nove pessoas ligadas ao MST, nos municípios de Iaras e Borebi, no interior do Estado, como parte da Operação Laranja, desencadeada em decorrência das investigações que apuraram e apontaram os responsáveis pela invasão da Fazenda Cutrale, em Borebi, em outubro do ano passado.
A população brasileira pôde assistir, pelos telejornais, à brutalidade da destruição das plantações de laranja daquela fazenda, assim como a destruição vandálica de equipamentos. Comprovou-se, porém, que além da destruição os militantes emessetistas haviam praticado roubo de ferramentas, defensivos agrícolas, fertilizantes, documentos, aparelhos eletrônicos - agindo como as quadrilhas comuns, levando os produtos roubados para suas casas. Entre os detidos estão o ex-prefeito de Iaras Edilson Granjeiro Xavier, filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), a vereadora - também petista - Rosemeire Pandarco de Almeida Serpa e seu marido, Miguel Serpa, um dos líderes do MST na região da fazenda da Cutrale.
De acordo com o delegado Roberval Antonio Fabbro, assistente da Delegacia Seccional de Bauru, onde está centralizada a operação, os militantes emessetistas são acusados de formação de quadrilha, furto, dano qualificado e esbulho possessório. Com a mobilização de 150 policiais a Operação Laranja continuará, como informa o delegado. Apesar de todos terem o direito de se defender, parece até cômica a "nota" em que a direção estadual do MST acusa os policiais de "promoverem o terror em algumas comunidades". De quem será a principal paternidade do terror no campo, em praticamente todas as regiões do território brasileiro, sob o pretexto - na verdade já nem mais utilizado - de obter do governo aceleração do programa de reforma agrária?
Na verdade os movimentos agrupados sob a bandeira do MST colocam-se sistematicamente à margem da lei, quando se recusam a assumir personalidade jurídica legal - isentando-se, assim, de fiscalização oficial -, e frontalmente contra a lei, quando praticam crimes e recorrem à violência, em suas operações de invasão sobejamente noticiadas. Mas apesar disso essas entidades continuam recebendo apoio e polpudos subsídios do governo, por meio de repasses de verbas públicas a associações organizadas, geralmente cooperativas a elas ligadas. Todos se lembram da famosa cena em que o presidente Lula, já no início de seu primeiro mandato, colocou na cabeça um boné do MST. De lá para cá - até a prisão de um ex-prefeito e de uma vereadora petista - estreitas têm sido as ligações de integrantes dos movimentos dos sem-terra com setores do governo.
Ninguém mais duvida do íntimo relacionamento entre militantes do MST e o pessoal administrativo (e político) do Incra, para cuja escolha dos superintendentes regionais a influência do MST tem sido decisiva. Apesar disso, os movimentos dos sem-terra só têm deixado de pressionar o governo Lula em épocas eleitorais. E a razão disso é óbvia: embora alardeando que o governo tem sido excessivamente lento na execução do programa de reforma agrária, certamente os líderes emessetistas não desejam colocar em risco seu status de "companheiros".

Veja também essa mátéria sobre os crimes do latifundio
Fiscais lamentam a impunidade em crimes como o de Unaí, em que três auditores foram assassinados, e alertam: falta de profissionais contribui para que o país tenha um alto número de pessoas que trabalham sem receber um centavo
Por Danielle Santos
No Dia Nacional de Combate ao Trabalho escravo no país, lembrado ontem, dezenas de pessoas simbolizaram o luto em Frente ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a falta de punição aos acusados pela chacina dos auditores fiscais do trabalho em Unaí (MG). O crime ocorreu há seis anos e até agora nenhum dos nove acusados foi julgado.
Segundo o procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT), Sebastião Caixeta, a sensação de impunidade e a insegurança instalada entre os profissionais do grupo de operações especiais que lidam com a fiscalização das normas de proteção ao trabalho podem favorecer a ocorrência de novos casos. “A morosidade da Justiça preocupa porque dá margem para que novos absurdos sejam cometidos contra o Estado sem a punição que merecem”, afirmou.
Os auditores fiscais Eratóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva, além do motorista Aílton Pereira de Oliveira, foram mortos no dia 28 de janeiro de 2004 ao vistoriar fazendas na região rural de Unaí. Dos nove envolvidos, apenas cinco estão presos. Acusado como um dos mandantes, o prefeito reeleito de Unaí, Antério Mânica (PSDB), tem direito a julgamento em foro especial e, portanto, não irá a júri popular como os demais. O processo está parado desde 2005 no Tribunal Regional Federal, em Brasília, graças a uma série de recursos judiciais apresentados pela defesa dos acusados.
A presidenta do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho, Rosângela Rassy, reforça a preocupação: “Continuamos sem proteção policial na maioria das visitas que fazemos. Passados seis anos do assassinato, nada mudou e ainda temos muito medo de trabalhar porque a qualquer momento pode acontecer outra tragédia”, diz.
Segundo Rosângela, outro problema que ainda está longe de ser solucionado é o número reduzido de profissionais para atuar nessa atividade. Hoje, o efetivo é de 2.800 auditores fiscais, quando a estimativa necessária é de 6.000 profissionais. “O governo tenta resolver o problema e abriu concurso recente para pouco mais de 200 vagas, mas ainda é fora da nossa realidade.”
“Não podemos esquecer esse caso de uma forma tão simples porque o atentado não foi só contra os trabalhadores que cumpriam suas tarefas, mas contra o Estado. Todos ainda têm muito medo de represálias na região e querem ver a justiça cumprida”, completa Elba Soares da Silva, viúva de um dos auditores assassinados.
A falta de pessoal para atuar na fiscalização contribui para que o país ainda mantenha um número considerável de homens e mulheres em condições análogas à de escravo. Só em 2009 o MPT flagrou 3.571 trabalhadores exercendo longas jornadas de trabalho, muitas superiores a 15 horas, sem acesso a água potável e comida, em alojamentos precários e sem salário. O levantamento foi realizado durante as inspeções realizadas em conjunto com equipes do Ministério do Trabalho e da Polícia Federal em todo o país. Apesar da redução dos números em relação a 2008 — quando foram encontrados 5.016 trabalhadores na mesma condição —, a realidade ainda preocupa, segundo o procurador Sebastião Caixeta. “O que levou a essa baixa foi a crise econômica que paralisou as atividades nas carvoarias, onde encontramos muitas irregularidades. Mas com a retomada do setor da siderurgia, que tem o carvão vegetal como matéria prima, a exploração da mão de obra sem responsabilidade vai voltar à ativa”, acredita.
O setor de álcool e de cana de açúcar continua entre os que mais descumprem as leis trabalhistas, segundo o procurador. “Em média, 30% dos casos de pessoas resgatadas nas operações especiais estão envolvidas com o corte e o manejo da cana”, diz. O ranking listado pelo procurador comprova a situação. No ano passado, o Rio de Janeiro superou estados com histórico do problema, como Pará e Mato Grosso, e assumiu o topo do ranking, com 521 flagrantes de trabalho desumano por conta das irregularidades em usinas do interior do estado. Pernambuco vem em segundo lugar, com 419 pessoas encontradas na mesma situação. “O que falta é um maior compromisso de setores como esse (da cana), que recebe muito incentivo do governo. É um setor importante porque vende, inclusive, uma solução para as questões ambientais, que é o biocombustível, e que pode trazer benefícios para a economia, mas precisa também se preocupar com a melhoria das condições de trabalho no campo”, critica.
No ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou em conjunto com as empresas do setor sucroalcooleiro um compromisso nacional para melhoria das condições de trabalho. Apesar da adesão de 75% dos usineiros, o documento perde a força por assumir caráter voluntário, segundo Caixeta. Procurada pelo Correio, a União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica) não se pronunciou sobre o assunto.
Continuamos sem proteção policial na maioria das visitas que fazemos. Passados seis anos do assassinato, nada mudou e ainda temos muito medo de trabalhar”
Rosângela Rassy, presidenta do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho
Fonte: Correio Brasiliense (29.01.2010)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Quem perde é a democracia

A grande mídia tem se colocado acima das leis, da Constituição e das decisões do Judiciário, apesar de se apresentar como defensora suprema das liberdades. Ao mesmo tempo, se recusa a debater, boicota conferências, distorce e omite informações, sataniza quem não compartilha seus interesses.

Por Venício Lima
Nos últimos meses, ainda mais do que nas últimas décadas, temos assistido a uma crescente intolerância dos principais grupos de mídia – Estadão, Folha, Globo e Abril – e das associações por eles controladas – ANJ, ANER e ABERT – em relação ao debate sobre as comunicações no Brasil. Um dos princípios básicos da democracia é exatamente que qualquer tema pode e deve ser discutido pela cidadania.

É assim, dizem os liberais, que se forma a opinião pública esclarecida, responsável, em última instância, pela escolha periódica e legítima dos dirigentes políticos do país. Na democracia praticada pela grande mídia brasileira, no entanto, as comunicações devem ser permanentemente excluídas desse debate.Qualquer pré-projeto, projeto, estudo, carta de intenções que se encontre em alguma gaveta de um ministério que inclua ou insinue o debate sobre a mídia será, automática e irreversivelmente, rotulado de “ameaça autoritária” e/ou “ataque à liberdade de expressão”.

A rotina é sempre a mesma: um jornalista encontra um desses pré-projetos, projetos, estudos e/ou carta de intenções; o jornalão dá manchete de primeira página alertando para o mais novo ataque do governo à liberdade de expressão e/ou à liberdade de imprensa; os outros jornalões (revistas e emissoras de rádio e televisão) repercutem a matéria entrevistando as mesmas fontes de sempre – pessoas e/ou entidades. Em seguida, todos publicam editoriais e/ou artigos de “analistas” sobre “as ameaças” autoritárias. Está armado o cenário.


Constituição não é parâmetro?

A quem interessa a permanente interdição da mídia como tema da agenda pública de debates? O que realmente querem e esperam os grupos empresariais que controlam a grande mídia no nosso país? As normas adotadas unanimemente em democracias consolidadas do planeta e a Constituição Federal não servem mais de parâmetro para que se “permita” ou “admita” o debate. Até mesmo propostas de regulamentação de dispositivos Constitucionais têm sido entendidas, sem mais, como significando um “ardil” e/ou uma “armadilha” do governo para instalar um regime autoritário no país e, portanto, são automaticamente desqualificadas.

Ou não foi exatamente isso que ocorreu em relação às propostas da 1ª. Confecom – boicotada pela grande mídia; às diretrizes do III PNDH –ignorado ao longo de todo seu processo de construção; e, mais recentemente, ao documento-base da 2ª Conferência Nacional de Cultura que será realizada em março?

Despreza-se inteiramente a necessidade de leis federais, vale dizer, de um marco regulatório, que regulem a atividade de mídia, inequivocamente expressa na Constituição. Está escrito:

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.(...)

§ 3º - Compete à lei federal:

I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada;

II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.

Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:

I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;

II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;

III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;

IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.


E a democracia?

Na verdade, a grande mídia tem se colocado acima das leis, da Constituição e das decisões do Judiciário, apesar de se apresentar como defensora suprema das liberdades. Ao mesmo tempo, se recusa a discutir ou a negociar, boicota conferências nacionais, distorce e omite informações, sataniza movimentos sociais, partidos, grupos e pessoas que não compartilham de seus interesses, projetos e posições. Dessa forma, estimula a intolerância, a radicalização política e o perigoso estreitamento do debate público.

Como explicar, então, a atitude cada vez mais intolerante da grande mídia? Onde encontrar hipóteses e/ou explicações para um comportamento que, tudo indica, é deliberadamente articulado?

Acuar o governo e impedir que ele tome qualquer iniciativa no setor? Intimidar os movimentos sociais? Garantir a manutenção de interesses ameaçados? Estratégia de combate para o ano eleitoral?

Seja qual for a explicação, a principal derrotada é a democracia, exatamente o valor que a grande mídia simula defender.
é Pesquisador Sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília - NEMP - UNB

Fonte: Agencia Carta Maior

SÃO PAULO QUE O PIG NÃO MOSTRA



Fonte: http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=26273

David Harvey defende transição anti-capitalista


Após a derrocada da União Soviética e dos regimes socialistas do Leste Europeu, e a queda do Muro de Berlim, falar em anti-capitalismo tornou-se proibido. O comunismo fracassou, o capitalismo triunfou e não se fala mais no assunto: essa mensagem cruzou o planeta adquirindo ares de senso comum. Mas os muros do capitalismo seguiram em pé e crescendo. E excluindo, produzindo crises, pobreza, fome, destruição ambiental e guerra. Para David Harvey, o capitalismo entrou em uma fase destrutiva que recoloca a necessidade de se voltar a falar de anti-capitalismo, socialismo e comunismo.
Marco Aurélio Weissheimer
Por que é preciso pensar em uma transição anti-capitalista? E o que seria tal transição? A participação de David Harvey, professor de Geografia e Antropologia da City University, de Nova York, no seminário de avaliação de 10 anos do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, foi uma tentativa de responder estas perguntas. A resposta, na verdade, inclui, em primeiro lugar, uma justificativa da pertinência das perguntas. Após a derrocada da União Soviética e dos regimes socialistas do Leste Europeu, e a queda do Muro de Berlim, falar em anti-capitalismo tornou-se proibido. O comunismo fracassou, o capitalismo triunfou e não se fala mais no assunto: essa mensagem cruzou o planeta adquirindo ares de senso comum. Mas os muros do capitalismo seguiram em pé e crescendo. E excluindo, produzindo pobreza, fome, destruição ambiental, guerra...E eis que, nos últimos anos, voltou a se falar em anti-capitalismo e na necessidade de pensar outra forma de organização econômica, política e social. David Harvey veio a Porto Alegre falar sobre isso. Para ele, a necessidade acima citada repousa sobre alguns fatos: o aumento da desigualdade social, a crescente corrupção da democracia pelo poder do dinheiro, o alinhamento da mídia com este grande capital (e seu conseqüente papel de cúmplice na corrupção da democracia), a destruição acelerada do meio ambiente. Esse cenário exige uma resposta política, resume Harvey. Uma resposta política, na sua avaliação, de natureza anti-capitalista. Por que? O autor de “A produção capitalista do espaço” apresenta alguns fatos de natureza econômica para justificar essa afirmação.O capital fictício e a fábrica de bolhasO capitalismo, enquanto sistema de organização econômica, está baseado no crescimento. Em geral, a taxa mínima de crescimento aceitável para uma economia capitalista saudável é de 3%. O problema é que está se tornando cada vez mais difícil sustentar essa taxa sem recorrer à criação de variados tipos de capital fictício, como vem ocorrendo com os mercados de ações e com os negócios financeiros nas últimas duas décadas. Para manter essa taxa média de crescimento será preciso produzir mais capital fictício, o que produzirá novas bolhas e novos estouros de bolhas. Um crescimento composto de 3% exige investimentos da ordem de US$ 3 trilhões. Em 1950, havia espaço para isso. Hoje, envolve uma absorção de capital muito problemática. E a China está seguindo o mesmo caminho, diz Harvey. As crises econômicas nos últimos 30 anos, acrescenta, repousam (e, ao mesmo tempo, aprofundam) na disjunção crescente entre a quantidade de papel fictício e a quantidade de riqueza real. “Por isso precisamos de alternativas ao capitalismo”, insiste. Historicamente essas alternativas são o socialismo ou o comunismo. O primeiro acabou se transformando em uma forma menos selvagem de administração do capitalismo; e o segundo fracassou. Mas esses fracassos não são razão para desistir até por que as crises do capitalismo estão se tornando cada vez mais freqüentes e mais graves, recolocando o tema das alternativas. Para Harvey, o Fórum Social Mundial, ao propor a bandeira do “outro mundo é possível”, deve assumir a tarefa de construir um outro socialismo ou um outro comunismo como alternativas concretas.A irracionalidade do capitalismo“Em tempos de crise, a irracionalidade do capitalismo torna-se clara para todos. Excedentes de capital e de trabalho existem lado a lado sem uma forma clara de uni-los em meio a um enorme sofrimento humano e necessidades não satisfeitas. Em pleno verão de 2009, um terço dos bens de capital nos Estados Unidos permaneceu inativo, enquanto cerca de 17 por cento da força de trabalho estava desempregada ou trabalhando involuntariamente em regimes de meio período. O que poderia ser mais absurdo que isso!” – escreve Harvey em seu livro “O enigma do capital”, que deve ser lançado em abril de 2010 pela editora Profile Books. Ele descarta, por outro lado, qualquer inevitabilidade sobre o futuro do capitalismo. O sistema pode sobreviver às crises atuais, admite, mas a um custo altíssimo para a humanidade.Não basta, portanto, denunciar a irracionalidade do capitalismo. É importante lembrar, assinala Harvey, o que a Marx e Engels apontaram no Manifesto Comunista a respeito das profundas mudanças que o capitalismo trouxe consigo: uma nova relação com a natureza, novas tecnologias, novas relações sociais, outro sistema de produção, mudanças profundas na vida cotidiana das pessoas e novos arranjos políticos institucionais. “Todos esses momentos viveram um processo de co-evolução. O movimento anti-capitalista tem que lutar em todas essas dimensões e não apenas em uma delas como muitos grupos fazem hoje. O grande fracasso do comunismo foi não conseguir manter em movimento todos esses processos. Fundamentalmente, a vida diária tem que mudar, as relações sociais têm que mudar”, defende.“Precisamos falar de um mundo anti-capitalista”Harvey está falando da perspectiva de um possível fracasso do capitalismo, de um ponto de instabilidade que afete as engrenagens do sistema. Mais uma vez, ele não aponta nenhuma inevitabilidade ou destino histórico aqui. Trata-se de um diagnóstico sobre o tempo presente. “O capitalismo entrou numa fase de cada vez mais destruição e cada vez menos criação”. E quais seriam, então, as forças sociais capazes de organizar um movimento anti-capitalista nos termos descritos acima? A resposta de Harvey é curta e direta: Hoje não há nenhum grupo pensando ou falando disso. “As ONGs e movimentos sociais que participam do Fórum precisam começar a falar de um mundo anti-capitalista. A esquerda deve mudar seus padrões mentais. As universidades precisam mudar radicalmente”.A justificativa desses imperativos? Harvey dá mais um exemplo da “racionalidade” capitalista atual. Em janeiro de 2008, 2 milhões de pessoas perderam suas casas nos EUA. Essas famílias, em sua maioria pertencente às comunidades afroamericanas e de origem hispânica, perderam, no total, cerca de 40 bilhões de dólares. Naquele mesmo mês, Wall Street distribuiu um bônus de 32 bilhões de dólares para aqueles “investidores” que provocaram a crise. Uma forma peculiar de redistribuição de riqueza, que mostra que, nesta crise, muitos ricos estão fincando ainda mais ricos. “Estamos vivendo um momento de negação da crise nos EUA. Os trabalhadores, e não os grandes capitalistas, é que estão sendo apontados como responsáveis. É por isso que precisamos de uma transformação revolucionária da ordem social”.


O que não estamos a ouvir acerca do Haiti: petróleo

por Pakalert [*]
"Há prova de que os Estados Unidos descobriram petróleo no Haiti décadas atrás e que devido a circunstâncias geopolíticas e a interesses do big business foi tomada a decisão de manter o petróleo haitiano na reserva para quando o do Médio Oriente escasseasse.

Isto é pormenorizado pelo dr. Georges Michel num artigo datado de 27/Março/2004 em que esboça a história das explorações e das reservas de petróleo no Haiti, bem como na investigação do dr. Ginette e Daniel Mathurin. Também há boa evidência de que estas mesmas grandes companhias de petróleo estado-unidenses e seus monopólios inter-relacionados de engenharia e empreiteiros da defesa fez planos, décadas atrás, para utilizar portos de águas profundas do Haiti tanto para refinarias de petróleo como para desenvolver parques de tancagem ou reservatórios onde o petróleo bruto pudesse ser armazenado e posteriormente transferido para pequenos petroleiros a fim de atender portos dos EUA e do Caribe. Isto é pormenorizado num documento acerca da Dunn Plantation em Fort Liberté , no Haiti.
A HLLN de Ezili [1] sublinha este documentos sobre recursos petrolíferos do Haiti e os trabalhos do dr. Ginette e Daniel Mathurin a fim de proporcionar uma visão não encontrável nos media "de referência" nem tão pouco se encontra em qualquer outro lugar as razões económicas e estratégicas porque os EUA construíram a sua quinta maior embaixada do mundo — a quinta, após a embaixada dos EUA na China, no Iraque, no Irão e na Alemanha — no minúsculo Haiti, após a mudança do regime haitiano pelo governo Bush. Os factos esboçados na Dunn Plantation e nos documentos de Georges Michel, considerados em conjunto, desvelam razoavelmente parte das razões ocultas porque os Enviado Especial da ONU ao Haiti, Bill Clinton , está à ocupação da ONU o aspecto de que as suas tropas permanecerão no Haiti por longo período.
A HLLN de Ezili tem afirmado reiteradamente, desde o princípio da mudança de regime do Haiti em 2004 pelo regime Bush, que a invasão do país pelos EUA em 2004 utilizou tropas da ONU como suas procuradoras militares para esvaziar a acusação de imperialismo e racismo. Também temos afirmado reiteradamente que a invasão e ocupação do Haiti pela ONU/EUA não se refere à protecção dos direitos haitianos, a sua segurança, estabilidade e desenvolvimento interno a longo prazo mas sim acerca do retorno dos Washington Chimeres [gangters] – os tradicionais oligarcas haitianos – ao poder, o estabelecimento de comércio livre injusto, o plano mortal dos Chicago boys, políticas neoliberais, manutenção do salário mínimo a níveis de trabalho escravo , pilhagem dos recursos naturais e riquezas do Haiti , para não mencionar o benefício da localização pois o Haiti está entre Cuba e a Venezuela. Dois países em que, sem êxito, os EUA têm orquestrado mudanças de regime mas continuam a tentar.
Na Dunn Plantation e nos documentos Georges Michel, descobrimos e novos pormenores como a razão porque os EUA estão no Haiti com esta tentativa de Bill Clinton para que as ocupações da ONU continuem. Não importam os disfarces ou a desinformação dos media, trata-se também das reservas de petróleo do Haiti e de assegurar portos de águas profundas no Haiti como local de transbordo (transshipment) para petróleo ou para armazenagem de petróleo bruto sem a interferência de um governo democrático obrigado para com o bem-estar da sua população. (Ver Reynold's deep water port in Miragoane / NIPDEVCO property .)
No Haiti, entre 1994 e 2004, quando o povo tinha voz no governo, havia um intenso movimento das bases para conceber como explorar os recursos do país. Havia um plano, explicitado no livro "Investir no povo: Livro Branco de Lavalas sob a direcção de Jean-Bertrand Aristide" (Investir dans l'humain), onde a maioria dos haitianos "foi não só informada onde estavam os recursos, mas que não tinham as qualificações e tecnologia para realmente extrair o ouro, extrair o petróleo". O plano Aristide/Lavalas, como articulei na entrevista Riquezas do Haiti , era "empenhar-se em alguma espécie de parceria privada/pública. Nesta, seria considerado tanto o interesse do povo haitiano como naturalmente o dos privados que receberiam os seus lucros. Mas penso que isto foi naquele momento em que tínhamos St. Gevevieve a dizer que não gostavam do governo haitiano.
Obviamente, eles não gostavam deste plano. Eles não gostam que o povo haitiano saiba onde estão os recursos. Mas este livro – pela primeira vez na história do Haiti – foi escrito em crioulo e em francês. E houve uma discussão nacional em todas as rádios do Haiti acerca de todos estes vários recursos do Haiti, onde estavam localizados e como o governo haitiano tencionava tentar construir desenvolvimento sustentável através daqueles recursos. Era o que acontecia antes de em 2004 Bush mudar o regime do Haiti através de golpe de estado. Agora, após o golpe de estado, embora o povo saiba onde estão estes recursos porque o livro existe, ele não sabe quem são estas companhias estrangeiras. Nem quais são as suas margens de lucros. Nem quais as regras de protecção ambiental e regulamentações irão protegê-los. Muitos, no Norte por exemplo, falam acerca da perda das suas propriedades, tendo vindo pessoas com armas e tomado a sua propriedade. É assim que estamos" ( Riquezas do Haiti: entrevista com Ezili Dantò sobre mineração no Haiti ).
Os media "de referência", possuídos pelas companhias multinacionais que espoliam o Haiti, certamente não exibem para consumo público o facto de que a invasão e ocupação do Haiti pela ONU/EUA é para assegurar o petróleo do país, posição estratégica, trabalho barato , portos de águas profundas, recursos minerais (irídio, ouro, cobre, urânio, diamantes, reservas de gás), terras, zonas costeiras, recursos offshore para privatização ou a utilização exclusiva de oligarcas ricos do mundo e de grandes monopólios petrolíferos dos EUA.
(Ver mapa mostrando algumas das riquezas mineiras e minerais, inclusive cinco sítios de petróleo no Haiti; Oil in Haiti pelo dr. Georges Michel ; Excerto do documento Dunn Plantation ; o Haiti está cheio de petróleo , afirma Ginette e Daniel Mathurin. Há uma conspiração multinacional para tomar ilegalmente os recursos minerais do povo haitiano : Espaillat Nanita revelou que no Haiti há enormes recursos de ouro e outros minerais, Is UN proxy occupation of Haiti masking US securing oil/gas reserves from Haiti ).
De facto, a actual autoridade-haitiana-sob-a-ocupação-EUA/ONU que encarregada de conceder licenças de exploração e mineração no Haiti não explica, de qualquer maneira relevante ou sistemática, à maioria haitiana acerca das companhias a comprarem, após 2004, portos de águas profundas no Haiti, que lucros partilham com o povo do Haiti, não explicam os efeitos ambientais das escavações maciças nas montanhas do Haiti e sobre as águas neste momento. Ao invés disso, o director de Mineração do Haiti alegremente sustenta que "novas investigações serão necessárias para confirmar a existência de petróleo no Haiti" . Num trecho retirado do artigo postado em 09/Outubro/200 por Bob Perdue, intitulado "Lonnie Dunn, third owner of the Dauphin plantation" , ficamos a saber que: "Em 8 de Novembro de 1973, Martha C. Carbone, da Embaixada Americana em Port-au-Prince, enviou uma carta ao Office of Fuels and Energy, Departamento de Estado, na qual declarava que o Governo do Haiti "... tem diante de si propostas de oito grupos diferentes para estabelecer um porto de transbordo para petróleo em um ou mais portos de águas profundas haitianos. Alguns dos projectos incluem a construção de uma refinaria..." Ela a seguir comentava que a Embaixada conhecia três firmas: Ingram Corporation de Nova Orleans, Southern California Gas Company e Williams Chemical Corporation da Florida.. (Segundo John Moseley, a companhia de Nova Orleans provavelmente chama-se "Ingraham", não Ingram.)
No número de 6 de Novembro de 1972 da revista Oil and Gas Journal, Leo B. Aalund comentava no seu artigo "Vast Flight of Refining Capacity from U.S. Looms",.: "Finalmente, o Haiti de 'Baby Doc' Duvalier está a participar com um grupo que quer construir um terminal de transbordo junto a Fort Liberté, no Haiti". Uma das propostas mencionadas por Carbone estava sem dúvida submetida aos interesses Dunn. Além disso, ficamos a saber por este artigo que "a Lonnie Dunn que possuía a plantação Dauphin "planeou rectificar e ampliar a entrada da baía [Fort Liberté] de modo a que super-petroleiros pudessem nela entrar e a carga ser distribuída para petroleiros mais pequenos para transferência a portos dos EUA e Caribe que não pudessem acomodar navios grandes..." ( Foto de Fort Liberté, Haiti).
Inserimos no sítio web HLLN as outras partes relevantes deste documento que se referem ao interesse que corporações dos EUA têm tido, durante décadas, em Fort Liberté como porto de águas profundas ideal para multinacionais instalarem uma refinaria de petróleo. Nas décadas de 50 e 60 havia pouca necessidade dos portos ou do petróleo do Haiti pois do Médio Oriente jorravam dólares em abundância. Para os monopólios que ali actuavam não havia necessidade de enfraquecerem-se a si próprios colocando mais petróleo no mercado e cortarem os seus lucros. Escassez manipulada, teu nome é lucro! Ou, o que equivale dizer, capitalismo. Mas o embargo petrolífero da década de 70, o advento da OPEP, a ascensão do factor venezuelano, a Crise do Golfo seguida pela guerra pelo petróleo do Iraque, tudo isso tornou o Haiti uma aposta melhor para o fato de três peças e os mercenários militares chamados "governos ocidentais", sim, um meio mais fácil de colocar a pilhagem e o saqueio sob a cobertura pública do "levar a democracia" ou da "ajuda humanitária".
Por acaso, após a mudança de regime de 2004 promovida por Bush filho, a seguir ao golpe militar de 1991 de Bush pai, descobrimos torrentes de "discussões" no Congresso acerca de perfurações off-shore em preparação, com a "revelação" final, tal como escrito há anos no documento Dunn, de que "é necessário para os super-petroleiros que precisam portos de águas profundas os quais não estão prontamente disponíveis ao longo da Costa Leste dos EUA – assim como por considerações ambientais e outras que não permitem a construção de refinarias internas na escala em que serão necessárias".
Enfatizamos que o Haiti é um local de despejo ideal para os EUA/Canadá/França e agora o Brasil , pois questões ambientais, de direitos humanos, de saúde e outras nos EU e nestes outros países provavelmente não permitiriam a construção de capacidade de refinação interna na escala em que as novas explorações de petróleo neste hemisfério exigirão. Assim, por que não escolher o país mais militarmente indefeso do Hemisfério Ocidental e salpicá-lo com iniciativas de desestabilização por trás da máscara "humanitária" da ONU e os paternais cabelos brancos de Bill Clinton com uma cara sorridente? É relevante notar aqui que a maior parte dos principais portos de águas profundas do Haiti foram privatizados a partir da mudança de regime promovida por Bush em 2004.
Também é relevante notar que no ano passado escrevi um artigo intitulado Is the UN military proxy occupation of Haiti masking US securing oil/gas reserves from Haiti : "Se há reservas significativas de petróleo e gás no Haiti, o genocídio e os crimes dos EUA/Europa contra a população haitiana ainda não começaram. Ayisyen leve zye nou anwo, kenbe red. Nou fèk komanse goumen. (Reler Is there oil in Haiti , de John Maxwell.) As revelações do dr. Georges Michel e dos documentos Dunn Plantation parecem responder afirmativamente à questão de que há reservas substanciais de petróleo no Haiti.
E a nossa informação no Ezili Dantò Witness Project é que na verdade está a ser aproveitada, mas não para o benefício dos haitianos ou do desenvolvimento autêntico do Haiti. Eis porque havia a necessidade de marginalizar as massas haitianas através do derrube do governo democraticamente elite de Aristide e de colocar as armas e a ocupação da ONU que hoje mascaram os EUA/europeus (com uma peça para o novo poder que é o Brasil) assegurando as reservas de petróleo e gás do Haiti e outras riquezas minerais tais como ouro, cobre, diamantes e tesouros submarinos. ( Majescor and SACG Discover a New Copper-Gold in Haiti , Oct. 6, 2009; Ver Haiti's Riches e There is a multinational conspiracy to illegally take the mineral resources of the Haitian people : Espaillat Nanita revelou que no Haiti há enormes recursos de ouro e outros minerais.) Hoje, os EUA e os europeus dizem estar felizes com os "ganhos de segurança" do Haiti e com o seu governo "estável". Quer dizer: as últimas eleições presididas pelos EUA/ONU no Haiti excluíram o partido maioritário de qualquer participação. As prisões do Haiti estão cheias, desde 2004, com milhares de organizadores comunitários, civis pobres e dissidentes políticos que os EUA/ONU etiqueta como "gangsters", detidos indefinidamente sem julgamento ou audiências. A Cité Soleil foi "pacificada". Desde 2004 há mais ONGs e organizações caritativas no Haiti – cerca de 10 mil – do que em qualquer outro lugar do mundo e o povo haitiano está muitíssimo pior do que antes desta civilização EUA/ONU (também conhecida como "Comunidade Internacional") e seus bandidos, ladrões e esquadrões da morte corporativos que cassam os direitos de nove milhões de negros.
Os preços dos alimentos estão demasiado altos, alguns recorrem ao pão que o diabo amassou na forma de biscoitos Clorox para aliviar a fome. Lovinsky Pierre Antoine , o dirigente da maior organização de direitos humanos do Haiti, foi desaparecido em 2007 no Haiti ocupado pela ONU sem que qualquer investigação fosse efectuada. Entre 2004 e 2006, sob a ocupação ocidental, primeiro pelos Marines dos EUA e a seguir pelas tropas multinacionais encabeçadas pelo Brasil, de 14 mil a 20 mil haitianos, principalmente quem se opunha à ocupação e à mudança de regime, foram chacinados com impunidade total. Mais crianças haitianas estão fora da escola hoje em 2009 do que antes de vir a "civilização" EUA/ONG após 2004. Sob o regime imposto pelos EUA em Boca Raton, o Supremo Tribunal do Haiti foi despedido e outro completamente novo, sem qualquer autoridade constitucional emanada de mandato do povo do Haiti, substituiu os juízes legítimos e os funcionários judiciais sob a tutela da ocupação da ONU e da comunidade internacional. (...)
[1] Ezili: Marguerite Laurent/Ezili Dantò é dramaturga, poeta, comentadora política e social, escritora e promotora de direitos humanos. Nasceu em Port-au-Prince e foi educada nos EUA. Para mais informação ver http://www.ezilidanto.com
O original encontra-se em http://pakalert.wordpress.com/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
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