sábado, 30 de outubro de 2010

Porco? Porco? Tira esse bicho daí!!!

Uma piada caipira ouvida na infância, década de 1950, mostra-se de impressionante atualidade.(Chico Villela)

É curta: um homem roubou um porco, jogou-o nas costas e, já na saída do quintal alheio, foi surpreendido pelo dono, que, de garrucha em punho, exigiu o bicho de volta. O ladrão arregalou os olhos, fez que olhou para trás e berrou: Porco? Porco? Me ajuda, tira esse bicho daí!

Quatro seqüências de fatos desenroladas nos últimos dias, no Chile e no Brasil, comprovam a atualidade da piada. No Chile, uma tragédia rotineira foi transformada pela mídia em show mundial. Mais de trinta mineiros ficaram presos por setenta dias no fundo de uma mina de cobre, no deserto de Atacama. Foram todos salvos.

Como o presidente Sebastián Piñera é um homem sabidamente situado à direita no espectro político, a mídia grande não se dedicou ao tema da angustiosa situação dos trabalhadores das minas chilenas. Todo ano ocorrem algumas dezenas de mortes de mineiros, em razão das condições de trabalho e de segurança nas minas da principal riqueza de exportação do país, o cobre.

Piñera posou de salvador da pátria, titulou-se chefe da operação de resgate, fez-se fotografar ao final colocando a tampa no poço da salvação, foi ao hospital de Copiapó ver os mineiros, deu entrevistas. E o fantasma do homem do porco pairou durante todo o tempo sobre seu governo. Um detalhe de notícia também pairou: a equipe de resgate chegou a ouvir buzinas, aviso da parte dos mineiros de que estavam vivos. Mas muitos interpretaram diferente: “é a alma dos mineiros mortos”. Há muitas almas pelas minas chilenas.

O jornalista Martin Granovski, no jornal Página 12, relata: Mario Castillo [...] lembrava ontem que, quando se iniciou no ofício [de mineiro], soltavam antes de descer para o trabalho um passarinho pelas galerias. Se sobrevivia, é porque havia oxigênio. “Ou fazíamos uma chama e olhávamos sua cor, para saber se havia gases perigosos no ambiente”.

Piñera adiantou para a imprensa a futura criação de “uma cultura de respeito aos trabalhadores”. Nas entrelinhas, pode-se ler que a cultura ainda não existe. Prometeu melhorias nos sistemas de segurança e intensificação da fiscalização das condições de trabalho. Nas entrelinhas, pode-se ler que a fiscalização é falha.

Mais aspas para o presidente: “Isto não é uma mensagem dirigida apenas aos trabalhadores, mas também aos empresários, que terão de investir em segurança”. Já o ministro do Interior, Rodrigo Hinzpeter, foi mais incisivo: “[...] o país não pode mais fazer vista grossa aos empresários que acreditam poder expor a vida dos trabalhadores chilenos”. O país não pode… os empresários terão de investir… a nova cultura de respeito resolverá tudo… nem uma palavra sobre a responsabilidade do governo. Porcos!

As outras três seqüências de fatos deram-se por aqui, na Grande São Paulo e Grande Rio, e vêm sendo acompanhadas pela mídia independente, como esta NovaE, e agora (não dá mais pra ignorar, virou escândalo) pela mídia grande. Os fios aos poucos conduzem ao comitê de campanha de José Serra, o Escroto, título nobiliárquico já antigo, ganho pelo candidato em homenagem ao seu caráter. Resumo as questões, já bastante divulgadas.

Um certo sr. ligado e atual presidente da entidade que ainda mantém “vivo” o cadáver do fascismo nacional, o integralismo da década de 1930, encomendou a uma gráfica a impressão de alguns milhões de exemplares de um panfleto difamatório contra Dilma Vana Roussef. O pretenso verdadeiro encomendante foi o bispo de Guarulhos, conhecido por suas posições retrógradas à direita. A gráfica pertence à família Kobayashi, e tem metade de sua propriedade em nome da irmã de Sérgio Kobayashi, coordenador de infra-estrutura da campanha de José Serra, o Escroto e ex-secretário de Comunicações do governo Serra. Como era de se prever, o comitê da campanha de José Serra, o Escroto, negou qualquer ligação com o panfleto. Foi além: alegou desconhecer os fatos.

Em outra seqüência de fatos, o engenheiro conhecido como Paulo Preto (ou seria Paulo afrodescendente?), ex-diretor de Engenharia da Dersa paulista, andou por grandes empresas desde 2008 (grandes obras, como a do Rodoanel de 5 bi, sempre envolvem grandes empresas e grandes verbas) arrecadando fundos para a campanha de José Serra, o Escroto. Muitas empresas contribuíram, num total citado de uns 4 milhões.

O dinheiro sumiu, e Paulo Preto cometeu o crime perfeito: as empresas não podem declarar que deram dinheiro fora do prazo legal da campanha; não há recibos de doação; os pagamentos foram feitos em espécie; ninguém sabe ao certo quanto foi arrecadado; o comitê de campanha não pode levantar a lebre sem grave prejuízo ao candidato; nada pode ser feito contra o inteligente autor da façanha. E o engenheiro Paulo Preto ainda ameaçou o candidato com algo como “não se abandona amigo ferido na estrada”.

José Serra, o Escroto, após negar em debate com Dilma, e várias vezes à imprensa, que sequer conhecesse Paulo Preto, foi forçado a voltar atrás e, dia 12 de outubro, não só reconhecer, como também elogiar a competência do engenheiro, que trabalhou mais de doze anos para governos do PSDB, incluídos quatro anos no Palácio do Planalto como diretor de programa para empresários do governo FHC. Ai do candidato se Paulo Preto resolver exibir seus dotes de trombonista… é uma mina de informação sensível.

Sobre a terceira seqüência, é assunto delicadíssimo. A esposa do candidato José Serra, o Escroto, em campanha na Grande Rio, atacou Dilma acusando-a de “matar crianças” por suas pretensas posições pró-aborto, o que não é verdadeiro. Vestida de vestal, foi despida por ex-aluna bailarina profissional (confirmada por outras ex-alunas) de seu curso de dança & psicologia na Unicamp, na década de 1980.

Mônica Allende Serra fez um aborto no Chile, e durante algumas aulas comentou a influência do fato sobre seu corpo e seu desempenho como bailarina. As circunstâncias eram terríveis, o marido era exilado, a vida era difícil para ambos. Mas foi isso mesmo que indignou sua ex-aluna: a falsificação e a torção de fatos em nome de uma mentira. Mônica Allende Serra não tem sido encontrada para declarações; consta que está no Chile, sua terra natal.

Algum leitor viu por aí uns porcos voando? Chegaram há pouco do Chile…

Fonte: http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1680

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