quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Estréia do Espetáculo/ Festa - A Saga do menino diamante - Uma ópera periférica


Dia 29 de agosto de 2009, das 22horas ás 4horas.

Sinopse
Nosso espetáculo tem a pretensiosa vontade de narrar a saga da aventura humana. Para contar esta história, utilizamos três prismas diferentes e simultaneamente unos, a saber:
1) o desenvolvimento do ser humano como ser social em sua saga histórica;
2) a construção da cidade como fruto e estímulo da ação do ser social;
3) a formação da consciência do indivíduo como apreensão particular do ser social; Junto disso cabe a reflexão sobre a construção do herói e as grupalizações humanas que criam a figura do líder. O primeiro ato que traz consigo um apêndice, um prólogo alerta aos viajantes, versa sobre o movimento do ser social construtor de história, da cidade, do capital. Esse movimento passa pelo deslocamento/migração, aglomeração no espaço urbano, industrialização (automotiva, construção civil) e favelização. No seio desse deslocamento opera a ideologia que tenta pinçar a idéia de herói na figura dos escolhidos que são exemplo da funcionalidade do sistema. Um sistema hierárquico onde a perseverança, a resignação, a força de vontade, a competência individual, a competitividade, a rejeição do erro dentre tantas outras idéias são postas como características naturais e quando não como ideais de busca individual. Apresentar esse sistema é uma das tarefas da encenação do primeiro ato, apresentar as estruturas da construção da cidade é outra.Esta é a apresentação do intenso movimento de inúmeros personagens reprodutores da vida e que na somatória de suas experiências alienadas, sem se darem conta, constroem a cidade, a sociedade e a história.O segundo ato divide o público em dois grupos.
A cisão dá-se de forma brusca. Num lado, o refugo humano vítima do despejo de uma favela; noutro, o seleto grupo de possíveis compradores de apartamentos de luxo em região nobre da cidade.Os despejados ficarão em céu aberto e os privilegiados no conforto das poltronas dentro da sala de apresentações. Nestes contextos aprofundamos as contradições da sociedade espetacularizada, em meio a luta de classes, em duas abordagens:
1) As grupalizações que reproduzem o ideário dominante sem a clara percepção de que o fazem.
2) O asfixiante universo do indivíduo atomizado e consumidor das benesses e fetiches capitalistas. A trajetória humana apresentada aparentemente redunda num circuito fechado onde não há espaço para a transformação da vida social. O ciclo perfeito se rompe justo pela imperfeição e a novidade das relações sociais que reproduzem um modo/sistema, mas carregam consigo a imperfeição e a impossibilidade da exata repetição dos eventos. , Entendemos imperfeição ou erro ou falta como virtude capaz de por em cheque todo e qualquer sistema que busca a perfeição na reprodução de sua própria existência.Soma-se a este esquema a tentativa de grupos humanos de analisar a realidade social e projetar caminhos para a transformação da realidade. A festa, ou terceiro ato, traz a possibilidade de quebra de alguns padrões e em posse de parcial liberdade, pois, mesmo aí a determinação social opera, experimentamos a bruma de um porvir, o projeto de sociedade descolado das cercas da ideologia dominante. A mesma festa é apresentada como o mergulho coletivo nas entranhas da sociedade do espetáculo.
Fonte:
http://doloresbocaaberta.blogspot.com/2009/08/estreia-do-espetaculo-festa-saga-do.html

Texto sensibilizadores - Dissertação

“O bloco industrial capitalista, fortalecido no pós-guerra com a vitória no conflito mundial, criou produtos para o mercado. Pior para nós, o pacote de insumos para agricultura é todo ele casado: o agricultor compra sementes; as sementes são frágeis e precisam de adubação ou não crescem; por serem frágeis, também são facilmente atacadas pelos insetos, e daí o agricultor tem que usar agrotóxicos; os inseticidas fazem surgir tribos de insetos mais resistentes (são 400 espécies imunes hoje no mundo) e, por isso o agricultor tem que usar cada vez mais quantidade de veneno ou partir para um novo produto (moderno!) que a indústria oferece; como o agrotóxico é veneno, o trabalhador tem que tratar da saúde com remédios (produzidos pelos mesmos fabricantes, como Rhodia, Hoescht, Novartis...)” (Modernidade transgênica – Dioclécio Cruz)

“A Pfizer, giganteca multinacional do setor farmacêutico, está sendo processada criminalmente pelo governo nigeriano por testes clínicos com conseqüências altamente nocivas. Em 1996, durante uma epidemia de meningite em Kano, Nigéria, 200 crianças doentes foram objeto dos testes de uma nova droga da Pfizer,o Trovan. A metade delas foi tratada com o Trovan. A outra com um medicamento concorrente do qual foram aplicadas doses abaixo do necessário, com o objetivo de se garantirem resultados inferiores. Detalhe: a Pfizer não informou aos pais das crianças que se tratava de um teste, embora sabendo que o Trovan apresentava efeitos colaterais prejudiciais à saúde e poderia ser impróprio para uso humano, nem que existia um produto comprovado e relativamente barato, o clorofenicol. [...] muitas das crianças-cobaia morreram ou sofreram danos permanentes como cegueira, surdez e paralisia. Graças ao sacrificio das crianças africanas, o Trovan nunca foi aprovado para uso das crianças americanas”. [...] Para as multinacionais farmacêuticas, eles são apenas cobaias, que exigem cuidados apenas maiores do que ratos de laboratório... o oligopólio das empresas transnacionais que controla a indústria farmacêutica em todo o mundo é responsável por milhões de mortes prematuras. (Cobaias humanas: uma tragédia africana - Luiz Eça)

“ O genocídio se dá através do boicote sistemático à prevenção e erradicação de inúmeras doenças que vitimam principalmente as populações pobres, com acesso precário aos medicamentos transformados em especulações financeiras sob a forma de combinados químicos e suas designações científicas. Tudo em nome da expansão do mercado mundial de remédios e do aumento da margem de lucro dos fabricantes. Um filão há muito descoberto por empresas que oscilam nas bolsas de valores de acordo com a expansão ou retração das enfermidades e com o maior ou menor número de patentes detidas. Um dia patrocinou os nazistas, mas atualmente a indústria farmaco-imperialista conta com governos ditos democráticos, a cooptação da “comunidade científica” e a cumplicidade do oligopólio dos meios de comunicação para garantir a sustentabilidade de um dos negócios mais rentáveis do planeta, à custa da saúde pública mundial. [...] primeiro, escravizaram seus povos, depois destruíram suas sociedades, roubaram suas riquezas; por fim, concederam a independência, mas dividiram suas nações, corromperam seus líderes; agora, usam seus habitantes como cobaias, como se fossem animais. O que virá em seguida?” (Falsas epidemias, big business e cobaias humanas - Hugo RC Souza)

É sobre os cadáveres de seres humanos que essa poderosa “industria da saúde” busca lucros exorbitantes. E os mais afetados por essa exploração são os trabalhadores e trabalhadoras dos países da periferia mundial (África, Ásia, América Latina) que continuam sucumbindo à Malária, Dengue, Gripe, Cólera, AIDS, e tuberculose, enquanto a ONU e a OMS continuam comprando remédios de farmacêuticas que não estão interessadas em erradicação, mas em genocídios lentos, graduais e lucrativos. O que fazer para interromper esse processo histórico de pilhagem da periferia mundial? Qual o papel dos Estados- nacionais? Qual o papel da classe trabalhadora?

Dissertação argumentativa (
dicas aqui)

Cobaias humanas: uma tragédia africana


Escrito por Luiz Eça em correio da cidadania

A Pfizer, giganteca multinacional do setor farmacêutico, está sendo processada criminalmente pelo governo nigeriano por testes clínicos com conseqüências altamente nocivas. Em 1996, durante uma epidemia de meningite em Kano, Nigéria, 200 crianças doentes foram objeto dos testes de uma nova droga da Pfizer,o Trovan. A metade delas foi tratada com o Trovan. A outra com um medicamento concorrente do qual foram aplicadas doses abaixo do necessário, com o objetivo de se garantirem resultados inferiores. Detalhe: a Pfizer não informou aos paíi das crianças que se tratava de um teste, embora sabendo que o Trovan apresentava efeitos colaterais prejudiciais à saúde e poderia ser impróprio para uso humano, nem que existia um produto comprovado e relativamente barato, o clorofenicol. Em sua defesa, a Prfizer alega que o estudo clínico do Trovan foi aprovado, conforme carta assinada pela comissão de ética do hospital onde os testes se realizaram, o que era estranho, já que esse hospital não tem comissão de ética... Informa também que o Trovan estava no último estágio do seu desenvolvimento, havendo “provas científicas de que daria um tratamento seguro”.
Nem tanto, uma vez que muitas das crianças-cobaia morreram ou sofreram danos permanentes como cegueira, surdez e paralisia. Graças ao sacrificio das crianças africanas, o Trovan nunca foi aprovado para uso das crianças americanas. Para adultos, foi, porém, só até 1997, quando repetidos casos de morte e danos ao fígado forçaram sua proibição total. Este trágico desrespeito à pessoa humana não é único na África e em alguns países asiáticos pobres. Muito pelo contrário. Na Tailândia, por exemplo, uma droga potencialmente eficaz contra dores, o dipirone, foi testada inclusive em crianças de 4 a 7 anos. Muito grave, pois o dipirone foi banido em mais de 10 países, sendo seu uso severamente restringido em 10 outros devido a efeitos colaterais potencialmente fatais. Pelo menos dois desses testes foram patrocinados pela alemã Hoescht, líder mundial na produção de dipirone. Em 2005, a Nigéria suspendeu os testes com o Tenofovir, um antibiótico usado no tratamento da Aids, devido a graves problemas éticos constatados durante sua realização.
O mesmo aconteceu no Cameron. Aqui, as participantes, todas de língua francesa e muitas analfabetas, receberam informações, por escrito e em inglês, sobre os riscos envolvidos e seus direitos, o que viciou a adesão ao teste. Os problemas não foram corrigidos e os experimentos – de responsabilidade do laboratório americano Gilead Sciences – prosseguiram no Cambodja, Botsuana, Malavi e Gana. O extraordinário aumento na invenção de novas drogas exige um correspondente aumento de testes clínicos para conseguir a aprovação das instituições oficiais dos grandes mercados dos Estados Unidos e da Europa. Para cada teste de cada droga nova, são necessários cerca de quatro mil voluntários.
O problema é que pouco mais de um entre vinte norte-americanos aceitam participar. O mesmo não acontece na África e na Ásia, onde o baixo pagamento oferecido é disputado pela população extremamente pobre da maioria desses paises. Por isso, as multinacionais farmacêuticas estão cada vez mais realizando ali grande parte dos experimentos com seus novos produtos. Além da economia e da facilidade de se recrutarem cobaias humanas, os países africanos e asiáticos oferecem outras vantagens.
A rapidez é uma das principais. Enquanto que nos Estados Unidos, por vezes, levam-se anos para reunir voluntários suficientes para um experimento, na Africa e na Ásia esse prazo é reduzido, geralmente, para menos de duas semanas. Rapidez é particularmente importante num mercado em que os laboratórios desenvolvem drogas praticamente iguais competindo entre si para poderem lançar a sua marca em primeiro lugar. Mas os pontos pró-Africa ou Ásia são muitos quando se analisa o melhor lugar para se testar novas drogas. Eis mais alguns: - a supervisão americana e européia dos testes é mínima. Em 2001, um pesquisador da John Hopkins testou uma droga anti-câncer em pacientes doentes no estado indiano do Kerala, antes de ela ter sido experimentada em animais.
Só foi descoberto depois de aplicar a droga muitas vezes; - os regulamentos de controle locais são pouco exigentes e facilmente contornáveis; - no Ocidente, de 40 a 60% dos voluntários abandonam os testes clínicos no meio, em função de efeitos colaterais desagradáveis ou pelas dificuldades de se deslocar até a clínica. Em países como a Índia, as companhias de testes clínicos mantêm 99,5% dos inscritos. Muitas vezes isso acontece porque não lhes foi informado que não estavam obrigados a ir até o fim. Num estudo sobre testes de prevenção contra Aids na África do Sul e em Bangladesh, verificou-se que 80% das pessoas disseram que não sabiam que podiam desistir. - muitos dos hospitais e clínicas onde se fazem testes não contam com comissões éticas, capazes de exercer fiscalização para garantir que sejam prestadas informações completas aos participantes. Na Índia, em 1980, um anticoncepcional injetável — já retirado do mercado — foi testado em aldeãs que afirmaram que “não faziam idéia de que estavam participando de um teste”.
O mais irônico é que, além de arriscarem sua saúde e até sua vida nos testes clínicos, os africanos não auferem nenhum beneficio, mesmo quando os novos medicamentos apresentam bons resultados. É que custam caro, foram feitos para os habitantes dos países ricos, não para pobres negros ou asiáticos. Para as multinacionais farmacêuticas, eles são apenas cobaias, que exigem cuidados apenas maiores do que ratos de laboratório...
Seis séculos de dominação não foram suficientes para europeus e americanos esgotarem seu arsenal de crueldades para com africanos e asiáticos. Primeiro, escravizaram seus povos, depois destruíram suas sociedades, roubaram suas riquezas; por fim, concederam a independência, mas dividiram suas nações, corromperam seus líderes; agora, usam seus habitantes como cobaias, como se fossem animais.
O que virá em seguida?

Falsas epidemias, big business e cobaias humanas: Os bastidores do cartel Farbem

Por Hugo RC Souza
A IG Farben foi um cartel de empresas alemãs fundado em 1925 que se tornou um dos maiores conglomerados da indústria petroquímica e farmacêutica da primeira metade do século XX. Foi determinante para a ascensão do Nacional Socialismo alemão, detendo não apenas o monopólio da produção química na Alemanha nazista, mas utilizando também força de trabalho escrava do campo de concentração de Auschwitz para a produção de borracha e óleo sintéticos.
Levava a marca IG Farben o pesticida Zyklon B, registrado e patenteado pela empresa, e utilizado para massacrar pessoas de forma rápida e barata nas câmaras de gás.Cartaz da IG Farben de 1940: generais nazistas traçam planos sobre mapa da EuropaLisboa - Em 1947, no âmbito dos processos de Nuremberg**, um tribunal ianque condenou 13 diretores alemães da IG Farben à prisão por crimes contra a humanidade — o tribunal teve o cuidado de não tocar no nome dos acionistas ianques da empresa. Mas a lógica dos interesses que pautaram os bons negócios entre uma grande farmacêutica e um governo fascista — do USA com seus fiéis aliados e subalternos — está muito longe de ser coisa do século passado.Desde então, o oligopólio das empresas transnacionais que controla a indústria farmacêutica em todo o mundo é responsável por milhões de mortes prematuras.
O genocídio se dá através do boicote sistemático à prevenção e erradicação de inúmeras doenças que vitimam principalmente as populações pobres, com acesso precário aos medicamentos transformados em especulações financeiras sob a forma de combinados químicos e suas designações científicas.Tudo em nome da expansão do mercado mundial de remédios e do aumento da margem de lucro dos fabricantes. Um filão há muito descoberto por empresas que oscilam nas bolsas de valores de acordo com a expansão ou retração das enfermidades e com o maior ou menor número de patentes detidas.Um dia patrocinou os nazistas, mas atualmente a indústria farmaco-imperialista conta com governos ditos democráticos, a cooptação da “comunidade científica” e a cumplicidade do oligopólio dos meios de comunicação para garantir a sustentabilidade de um dos negócios mais rentáveis do planeta, à custa da saúde pública mundial.
Simples: a política do imperialismo — enquanto persistir no mundo — é o fascismo, pouco importa se aparece sob a corrente nazista, sob a roupagem dos impérios ianque, francês, inglês, ou que associação possam fazer entre si.
O grupo Rockfeller, nos Estados Unidos, e o grupo Rotchisld, na Inglaterra — dois gigantes do investimento farmacêutico — foram grandes financiadores das campanhas de George Bush e Tony Blair, e exercem hoje os maiores lobbies do Farma-Cartel de que se tem notícia. Eles sabem o que fazem: USA e Inglaterra são, atualmente, os dois maiores exportadores de remédios do planeta. Só no USA, os laboratórios doaram 10 milhões de dólares para candidatos que disputaram a última campanha presidencial.
Através da manipulação, propriedade intelectual e tráfico de influência estabelecem com a humanidade uma relação de dependência de seus fármacos que deixa os traficantes de drogas ilegais enrubescidos. Com a complacência da Organização Mundial de Saúde OMS, o Farma-Cartel gasta milhões de dólares no contra-ataque às ações judiciais contra as patentes e no boicote às alternativas não-patenteáveis de medicina natural.
A farsa aviária
Mapa das instalações quimicas da IG Farben pelo mundo em 1936
Os recentes episódios envolvendo a chamada gripe aviária — ou gripe do frango — dão conta da lógica que rege a atuação das indústrias farmacêuticas, particularmente o consórcio OMS-Roche-Gilead.Um relatório de 2004 da OMS dizia que para um futuro próximo haveria “riscos de que as condições presentes em certas regiões da Ásia resultem numa pandemia da gripe. Segundo certas estimativas prudentes baseadas em modelos matemáticos, a próxima pandemia poderia provocar a morte de 2 a 7,4 milhões de pessoas”.
No final de 2005, em meio às notícias de vários seres humanos contaminados pelo vírus H5N1, a OMS voltou a alarmar o mundo dizendo novamente que a pandemia de gripe aviária era uma possibilidade real. Surgiram especulações e comparações com a Peste Negra, a pandemia de peste bubônica que dizimou 25 milhões de europeus no século XIV. O alerta virou manchete nos quatro cantos do planeta, ainda que, desde que foi detectado no Vietnã, há nove anos, o vírus da gripe aviária tenha vitimado pouco mais de 100 pessoas em todo mundo. Uma média de 11 mortes por ano.Pouco depois de lançar o pânico, a OMS considerou o antiviral Tamiflú, fabricado pela farmacêutica suíça Roche, o medicamento mais eficiente para reduzir o risco de morte dos pacientes infectados pelo vírus H5N1.
O Tamiflú é comercializado pela Roche desde 1999, quando foi lançado como um antigripal comum, sem maiores pretensões de mercado.Com prescrição direta da OMS — que orientou os governos a comprar doses suficientes para dar conta de 25% da população de seus países — as vendas do remédio subiram em mais de 260%, gerando receitas extras de mais de 500 milhões de dólares para os cofres da empresa suíça.
Diante da impossibilidade de dar conta da demanda, a Roche descartou compartilhar os direitos de comercialização da fórmula do Tamiflú — patente sobre a qual detém o direito de exploração até 2016. Um acordo de propriedade intelectual no âmbito da OMC, firmado em 1994, prevê que um país em qualquer situação de emergência, em relação a qualquer doença, pode requerer a quebra de patentes.
Obviamente, não era o caso para emergências — a não ser a título da valiosa contribuição da OMS para alavancar as vendas da Roche — e apesar das ameaças de países como Tailândia, Índia e Argentina de quebrar compulsoriamente a patente do Tamiflú, o acordo não foi aplicado. No USA, realizou-se um vantajoso negócio, tanto para a Roche quanto para o Farma-Cartel ianque: a Roche anunciou que venderia licenças de valor hierarquicamente inferior aos laboratórios, saindo no lucro diante da possibilidade de compartilhamento gratuito da patente; as outras farmacêuticas comemoraram o acordo de cavalheiros que lhes poupou de ver um precedente tão “midiático” de quebra de exclusividade de comercialização.Um acordo de cavaleiros, entre sócios - empresas e administrações de países. Caso o alarmismo da OMC não tivesse servido apenas para aquecer um mercado farmacêutico arranhado pelos processos contra a propriedade intelectual, o hemisfério sul estaria condenado a esperar a pandemia chegar para só então pedir licença e remediar com atraso suas populações.O detalhe interessante fica por conta dos negócios da Roche particularmente com uma transnacional farmacêutica ianque, a Gilead Sciences Inc.
A patente do Tamiflú era propriedade exclusiva da Gilead até 1996, quando os direitos de comercialização foram “licenciados” para o laboratório suíço, que possui 90% da produção mundial de anis estrelado — base do princípio ativo utilizado na fórmula do antiviral.
Biografia de Rumsfeld
Latas vazias de Zyklon: cada lata é uma seção da assassinatos nas câmaras de gás
Hoje, a Gilead e a Roche administram conjuntamente a fabricação mundial do Tamiflú, decidem juntas as eventuais autorizações de “sub licença” e coordenam em dueto as vendas nos mercados mais importantes, como Estados Unidos e Europa. Os acertos garantiram ainda à Gilead cerca de 80 milhões de dólares de royalties sobre o faturamento das vendas de Tamiflú fabricado e comercializado pela Roche — apenas referente aos períodos de 1999 e 2003. Quem fechou o negócio da China com a Roche em 1996 foi Donald Rumsfeld, então presidente da Gilead, depois secretário de Defesa dos Estados Unidos.
Rumsfeld deixou a presidência da empresa, mas continua sendo seu principal acionista. A carteira de ações do grande estrategista está avaliada em cerca de 25 milhões de dólares. O editorial de abril da revista médica espanhola Dsalud levou o título “O Tamiflú, Donald Rumsfeld e o negócio do medo”.O doutor José Antonio Campoy começa o texto dizendo que, apesar da média de apenas 11 mortes anuais provocadas pela gripe aviária, isso “não impediu George Bush de empreender sua segunda ‘guerra preventiva'em pouco tempo, desta vez para lutar contra uma outra arma de destruição em massa tão poderosa quanto as ‘encontradas' no Iraque: o vírus H5N1”.
Campoy escreve ainda que a eficácia do Tamiflú vem sendo questionada por grande parte da comunidade científica, por médicos que se perguntam como o remédio pode ser eficaz contra um vírus mutante quando seus efeitos sobre a gripe comum não passam do alívio dos sintomas. Obviamente, diz, “o protagonismo do Tamiflú em nossas vidas não é científica, mas comercial”.No entanto, talvez as informações mais interessantes contidas no editorial da Dsalud sejam as referências aos precedentes envolvendo o nome de Donald Rumsfeld e as relações mafiosas entre a indústria farmacêutica e o governo ianque.
Como lembra a revista, Rumsfeld aparece ligado à decisão de vacinar 40 milhões de pessoas em 1976, durante a administração Gerald Ford, diante da suposta iminência do que se chamou de “gripe do porco”. O programa de vacinação custou cerca de 135 milhões de dólares e foi levado a cabo por indústrias farmacêuticas privadas. Até hoje não existe prova de que a “gripe” era uma ameaça real, mas o “porco” sim, tanto que 10% das pessoas vacinadas desenvolveram um distúrbio nervoso chamado síndrome de Guillain-Baré, que pode provocar paralisia permanente e morte por problemas respiratórios.
Em 1981, três meses depois da incorporação de Rumsfeld ao gabinete do então presidente Ronald Reagan, a Food and Drug Administration — FDA — órgão do governo ianque que regulamenta e aprova o uso e a comercialização de alimentos e medicamentos — autorizou a utilização do aspartame para uso em alimentos secos. A FDA há dez anos se recusava a liberar a droga, sustentando-se na possibilidade de que ela podia causar derrames e tumores cerebrais. Pouco antes de assumir um cargo no governo Reagan, Rumsfeld saiu da presidência do laboratório que produzia o aspartame, da mesmíssima forma que saiu da presidência da Gilead pouco antes de assumir o cargo de secretário de Segurança da administração Bush.A Gilead, aliás, é a fabricante do Vistide, um remédio comprado a granel pelo Pentágono e administrado nos soldados enviados ao Iraque para evitar os efeitos colaterais da vacina contra a varíola.
Cooptação e mortes lentas
O filme O Jardineiro Fiel, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, levou ao cinema o tema dos testes clandestinos de medicamentos realizados pelos laboratórios farmacêuticos nas regiões mais pobres da África.O enredo conta a história da esposa de um funcionário do alto comissariado britânico assassinada após descobrir o envolvimento do governo inglês e donos de laboratórios nas mortes de quenianos feitos de cobaia humana para um novo remédio contra a tuberculose. No filme, diplomatas e empresários “previam” para breve uma nova epidemia da doença.
Não se trata de ficção. A própria Gilead, de Donald Rumsfeld, financiada pelo governo dos Estados Unidos e pela Fundação Bill e Melinda Gates, era a responsável por testes na Nigéria, em Camarões e no Camboja com um medicamento para tratamento da AIDS. Estes testes foram suspensos após pressões populares com força suficiente para resistir à mutilação do organismo de sua própria população.
Oficialmente, foram suspensos por causa de “problemas éticos graves”. Problemas que não parecem existir em países como Tailândia, Botsuana e Malásia, onde os testes continuam a todo vapor, e nada ficam devendo aos trabalhos do famoso médico nazista Josef Mengele, que torturou e matou um sem número de pessoas em nome da ciência nazista. Os bastidores da indústria farmacêutica revelam muito mais do que bilhões de dólares gastos anualmente com publicidade direta ao consumidor — não raro tentando vender pela TV remédios para doenças como o câncer —, revelam que o tráfico de influência vai além do aliciamento de médicos, pesquisadores e estudantes de medicina em todo o mundo, que muitas vezes se convertem em meros vendedores intermediários de drogas industrializadas, num esforço empresarial para transformar consultórios e hospitais em lojas com consultas rápidas e receitas extensas.A biografia fármaco-imperialista de Donald Rumsfeld demonstra que o domínio dos interesses empresariais dos grandes laboratórios sobre a saúde pública mundial está longe de ser coisa de cinema ou teoria da conspiração. As populações da África continuam sucumbindo à Malária, AIDS, e tuberculose, enquanto a ONU e a OMS continuam comprando remédios de farmacêuticas que não estão interessadas em erradicação, mas em genocídios lentos, graduais e lucrativos.
*Cartel, forma de monopólio, uma associação de poderosas empresas capitalistas de produção quase sempre similar. A cartelização tem por finalidade manter e expandir o monopólio a qualquer custo para assegurar o lucro máximo, a super-exploração da classe operária e do povo em geral. O cartel evolui para a forma de trust, onde as empresas perdem toda a sua autonomia e obedecem a uma direção única. São tais as disponibilidades financeiras dos trusts que as empresas por eles dirigidas têm, sob a mesma direção, todas as fases e operações, inclusive de corporações no exterior. Necessariamente, esse tipo de monopólio, típico da fase imperialista, estende seu controle ao sistema de Estado e de governo, dentro e fora do país de origem.** Dirigido contra os grandes criminosos nazistas, o Processo de Nuremberg, aconteceu na cidade do mesmo nome, na Alemanha, diante do Tribunal Militar Internacional, entre 20 de novembro de 1945 e 1º de outubro de 1946. Foram julgados os membros do governo imperialista alemão, dirigentes do Estado-maior e do alto comando das forças armadas, incluindo a Gestapo, além dos dirigentes do partido nazista, acusados dos mais graves crimes contra a humanidade.Nuremberg foi o primeiro processo internacional que efetivamente castigou criminosos de guerra e a agressão foi considerada o pior dos crimes internacionais. Ele fazia parte dos acordos de desnazificação da Europa impostos pela URSS revolucionária de Stalin, durante as três grandes conferências ocorridas ainda durante a Segunda Guerra. Mas as potências imperialistas tudo fizeram para apaziguar e trair os acordos, principalmente através dos subsequentes (ao processo principal) julgamentos, dessa vez a cargo do tribunal militar ianque. Foi esse tribunal que se encarregou do julgamento dos diretores da IG Farben, no processo no. 6, entre 14 de agosto de 1947 a 30 de julho de 1948.Texto Original Publicado:

Lucro máximo com pedacinhos de gente




Por Luiz Imbiriba

A comunidade científica manifesta uma constante intranquilidade com a enorme quantidade de animais sacrificados em testes para a produção de remédios, cosméticos e artigos de limpeza domiciliar. Mas quando os números descem, a preocupação aumenta. Embora os fabricantes sustentem que, com suas experiências, zelam pela saúde do consumidor, na verdade estão lançando mão de subterfúgios para não serem pesadamente responsabilizados e terem sua imagem de mercado seriamente prejudicada. Que novos desastres podem advir no mundo desgovernado pelo lucro máximo e pelas guerras de rapina?
Milhares de novos produtos anualmente são lançados à venda depois de aprovados em processos que envolvem experiências nas quais as mais variadas espécies de animais são mutiladas, queimadas, envenenadas e expostas à ação de gases. Os fabricantes de medicamentos justificam o sacrifício de cobaias argumentando que com isto preservam a vida dos seres humanos, mas suas informações sobre procedimentos efetivos em caso de danos à saúde são precárias. As indústrias de cosméticos e produtos químicos de limpeza limitam-se a advertir discretamente sobre a toxicidade encontradas nas suas mercadorias.
No Brasil não existem estatísticas oficiais, mas pelo menos um grande fabricante de cosméticos, a Natura, fornece informações. De acordo com a empresa, em 2003, foram usados 308 animais em seus laboratórios, número bem menor do que o registrado em 1999, quando realizou testes com 4.077.

Entre os testes mais cruéis realizados nos laboratórios destacam-se o Draize e o LD50. O primeiro serve para medir a ação tóxica das substâncias químicas de produtos de limpeza e cosméticos. Observam-se as reações causadas na pele e nos olhos dos animais aplicando-se diretamente o produto. A investigação pode durar até uma semana, durante a qual os animais sofrem dores extremas e mutilação. Para esses testes, os coelhos são imobilizados em suportes de onde somente suas cabeças se projetam; os olhos são mantidos abertos, permanentemente, através de clips metálicos. Ao final, os animais são mortos para averiguação dos efeitos internos das substâncias aplicadas. O tamanho de seus olhos permite melhor observação dos resultados, embora não constituam o modelo ideal para comparação com a vista humana. Há grandes diferenças em espessura, estrutura de tecido e bioquímica das córneas. Ao contrário dos humanos, coelhos possuem ductos lacrimais mínimos e quase não produzem lágrimas. Mas a preferência aos coelhos para o teste de Draize é devida ao baixo custo de obtenção de cada animal e a facilidade no seu manuseio.
É óbvio, toda essa perversidade se justifica por um motivo nada desprezível, pois faz parte dos métodos para baixar custos de produção. E se a recusa de evitar o tormento dos animais nem de longe tem o objetivo de diminuir o preço do produto posto à venda, essa mesma prática é um entre tantos outros artifícios que ampliam o lucro. Já com o teste LD50, a sigla serve para mascarar a crueldade. Trata-se de Lethal Dose 50 Percent (dose letal de 50%), utilizada em experiências com medicamentos, cosméticos e produtos de limpeza. Um determinado número de animais é forçado a ingerir a substância em teste. A dose ministrada vai sendo diminuída progressivamente, até sobreviver apenas 50% da população inicial.
Cada teste LD50 é conduzido por alguns dias e utiliza mais de 200 animais. Durante o período experimental, os animais sofrem de dores angustiantes, têm convulsões, diarréia, sangramentos nos olhos e na boca. Ao final dos testes, mesmo os sobreviventes são sacrificados. Macacos são cobaias preferidas para pesquisas e desenvolvimento de medicamentos e tratamentos contra doenças como hepatite e malária, assim como na pesquisa de vacina contra a AIDS. Gatos são os animais mais utilizados para a compreensão do funcionamento dos neurônios e da organização do cérebro. Assim, é obtida a quantidade ideal na prescrição do produto para humanos. Porcos são os preferidos para se estudar a cicatrização da pele, sendo também muito utilizados para testar métodos que impeçam o estreitamento das artérias após a angioplastia. Novamente, mantém-se a idéia ilusória de que se sacrificam animais inferiores para salvar a espécie superior e, assim, oculta-se um dos subterfúgios do lucro.
A saúde financeira
A indústria farmacêutica é a menos visada quando o assunto é a utilização de animais em testes de substâncias químicas, pois alega que o procedimento tem a finalidade de salvar vidas humanas. Entretanto, os resultados obtidos variam muito, dependendo da espécie animal utilizada. Prognósticos seguros da dose letal de uma substância para os humanos tornam-se impossíveis de ser determinados. Há, por exemplo, a sacarina (adoçante) que causa comprovadamente câncer na bexiga de ratos, mas que na bexiga de humanos nada provoca, devido a diferença nas características urológicas. Estudos têm demonstrado que as reações a diferentes substâncias podem variar até mesmo entre humanos, dependendo do sexo e da idade, por exemplo. Sabendo-se que essas variações de resultado podem ocorrer até mesmo entre os humanos, como é possível um rato ou cachorro servir como modelo de base para qualquer comprovação científica?

O número de medicamentos testados em animais que foram liberados para o comércio e depois retirados de circulação é grande. O Opren, uma droga para artrite, matou 61 pessoas. Mais de 3500 casos de reações graves foram documentados, embora tenha sido testado sem problemas em macacos e outros animais. A dose indicada de isoproterenol, substância usada para o tratamento de asma, funcionou perfeitamente em animais, porém causou a morte de 3500 asmáticos por overdose na Inglaterra. Outra droga para artrite, Suprofen, foi retirada do mercado quando pacientes apresentaram intoxicação renal. Antes de seu lançamento, os pesquisadores informaram que os testes tiveram "perfil de segurança excelente, sem efeitos cardíacos, renais ou no Sistema Nervoso Central".
O diurético Selacryn foi intensivamente testado em animais, mas em 1979 teve de ser retirado do mercado por causar a morte de 24 pessoas de insuficiência hepática. Até o flúor, no início de seu desenvolvimento, ficou retido como preventivo de cáries, por ter causado câncer em ratos. Recentemente o Vioxx1 começou a ser recolhido. Nenhuma outra providência foi adotada, exceto restituir à vítima o preço do "medicamento", mediante entrega da caixa não violada ou dos comprimidos restantes. O que foi consumido pela vítima não sugere indenização. Outros produtos nocivos, proibidos nas grandes potências, não encontram o mesmo tratamento no Brasil. Quanto aos placebos, como não fazem mal nem bem... O mais assustador é que isso significa apenas alguns aspectos da obtenção do lucro máximo na área de higiene, beleza e saúde. Outra pergunta que surgiu é se os efeitos são do Vioxx ou de toda a família de fármacos a que este medicamento pertence: cientistas ingleses pediram a revisão nos estudos realizados com o Celebra e o Bextra, que são do mesmo grupo químico e a Agência Européia de Medicamentos já declarou que vai rever todos os medicamentos desta categoria.Alega-se que a única razão para os testes com animais é de ordem financeira. Cobaias de baixo custo não elevam os orçamentos da empresa nem atendem com rigor às exigências da legislação.
Tempo, dinheiro e recursos humanos devotados aos experimentos com animais, poderiam há muito, ter sido investidos em pesquisas com base em humanos. Acredita-se que estudos clínicos, pesquisas invitro, autópsias, acompanhamento da droga após o lançamento no mercado, modelos computadorizados, pesquisas em genética e epidemiologia, não apresentariam perigo para os humanos e propiciariam resultados precisos. No entanto, em se tratando do homem, essa lógica também serve ao lucro máximo, em particular nas colônias e semicolônias, porque se pode sugerir cobaias humanas, onde a espécie tem o preço em baixa constante. Afinal, qual o problema para que tecido humano se transforme em mercadoria, senão que seccionar o elemento de um organismo determinado e colocá-lo à venda? Francamente, o que está em discussão são os custos acompanhados de remarcação de preços; necessidades da medicina que, atendidas, trariam benefícios sociais resguardado o direito do lucro máximo.
A redução dos testes nos animais, verificada agora, deve-se ao surgimento de "técnicas alternativas". O uso de células humanas cultivadas em laboratórios vem substituir outros animais em testes que objetivam detectar irritação, alergias e até câncer. Até plantas estão sendo utilizadas para detectar a toxicidade dos produtos. Na Inglaterra, o laboratório Pharmagene vem desenvolvendo a técnica de estoque de tecidos humanos retirados durante biópsias ou de algum tipo de tratamento de pacientes em hospitais e fazendo sua utilização nos testes, em vez de outros animais.Estão as corporações que operam no ramo de laboratórios mais atentos à saúde humana, em razão disso? Não. Mas, entre outras coisas, os tecidos humanos passaram a ter um custo menor porque, a princípio, são desprezados nos hospitais, enquanto que as células de outros animais, dependendo do preço, são utilizados em grande ou pequena escala.
Célula-tronco
O uso da célula-tronco, tão polêmico e tão discutido atualmente, é outro caminho. Mas seu manejo está limitado e concentrado nas mãos de poderosas indústrias, o que pode favorecer um outro tipo de comércio. A célula-tronco é ideal para todo tipo de experimento científico, mas o lado negativo está na ganância de seus controladores. A cada dia são descobertas novas fontes de célula-tronco além das tão conhecidas, como o embrião e o cordão umbilical e a cada descoberta se torna mais simples a obtenção desse tipo celular. Pelo mesmo procedimento utilizado no transplante de medula, pode-se obter as células que se transformam em qualquer tipo de tecido.

A última fonte descoberta é o dente de leite, de custo baixo para ser extraída. Mas num país cujo planejamento se fundamenta nas iniciativas estrangeiras, quando os experimentos aparecem com facilidade, com baixo custo, é na conservação do material ou em outro segmento qualquer da industrialização e comercialização que então passa a residir o custo proibitivo para ramos de menor capital, onde os desprotegidos empresários nacionais se revelam mais aptos. No caso do dente de leite, a conservação fica a cargo dos grandes laboratórios (transnacionais) que atuam livremente, monopolizando e fazendo o seu preço em função da ordem e do progresso do lucro máximo.
No Brasil, antes mesmo da metrópole autorizar, nos bastidores do Legislativo já se movimenta experimentos com célula-tronco. Cientistas brasileiros vêm trabalhando em conjunto com japoneses no desenvolvimento de diversas pesquisas. Desde setembro do ano passado, pesquisadores japoneses conseguem induzir células-tronco a se transformarem em espermatozóides e óvulos, o que ajudará a entender como as células reprodutivas se formam e como casais inférteis podem se beneficiar da descoberta.
O humanismo do lucro

Os avanços da ciência japonesa com as células-troco foram estudados no Brasil durante o II Simpósio de doença do Neurônio Motor, realizado em agosto do ano passado, quando discutiu-se sobre essa terapia em várias patologias como esclerose lateral amiotrófica (ELA), esclerose múltipla, infarto do miocárdio, lesão medular, síndrome de Parkinson e distrofia muscular de Ducheinne. Existem no país mais de 40.000 embriões congelados que poderiam estar contribuindo com o tratamento. Na guerra entre as corporações da indústria de cosméticos destinada a obter fatias sempre maiores do mercado, esses monopólios buscam promover a desqualificação do concorrente.
Grandes marcas como L`Oreal, Nívea e Natura mostram-se apreensivas. Ao contrário desses, a empresa inglesa The Body Shop vem fazendo sucesso com cosméticos que não são testados em animais.Na Europa, já foram baixadas proibições aos testes de cosméticos em animais. Há países que pretendem também banir a comercialização e importação de produtos que façam esse tipo de experimentação. Para os incautos, o problema é que no Brasil "não se dispõe de legislação reguladora da criação e do uso de animais para pesquisa e ensino". Mas "graças ao bom senso e à conscientização de parte dos pesquisadores e professores, já foram adotados alguns princípios éticos fundamentais e imprescindíveis".Como sempre, existe até um projeto de lei para regular a matéria, todavia, "em tramitação na Câmara dos Deputados". Mas a questão é, porque não a aprovam e, se a aprovarem, com que intuito a farão. Até lá, a única lei que pode ser considerada aplicável à prática da experimentação animal, de forma ainda bastante inadequada, é a que dispõe sobre os crimes ambientais (Lei nº 9.605/1998) que, como qualquer lei, é aplicada com rigor contra os pobres e com brandura para os ricos.No mais, os negócios numa semicolônia latino-americana como o Brasil, que lida diretamente com a ciência dos animais de laboratório há mais de 30 anos, não permitiram dispor ainda de uma única legislação nessa área. Ou, se existisse, à maneira de tantas, estaria devidamente desprovida de conteúdo e efeito prático.
Texto original publicado em: http://www.anovademocracia.com.br/index.php/FGTS-exploracao-e-desabrigo/index.php?option=com_content&task=view&id=761&Itemid=105

Como mudar o Brasil?

Paulo Freire e o MST

Noites de terror em Honduras

Cartoon de Latuff.
Por Angel Palacios (resistir.info)
A ditadura converteu Honduras numa imensa prisão onde as noites são aproveitadas por matilhas de polícias e militares que invadem, torturam e saqueiam.
À noite em Honduras o que percorre as ruas é o terror com botas, capacetes e uniformes. Veículos com militares e polícias encapuzados patrulham as ruas nas noites, disparando contra os bairros e as casas. Saem a toda velocidade dos comissariados para regressar em pouco tempo com as camionetas repletas de cidadãos golpeados, humilhados, sangrentos...
A noite com toque de recolher é o cenário preferido pelos sabujos. O toque de recolher, sem garantias constitucionais, sem câmaras de televisão, nem multidões nas ruas, é o momento que os cães da ditadura aproveitam para semear o terror. Na noite passada pudemos percorrer vários bairros e foi isto que vimos:
Avisam-nos que numa das escadas de um bairro um comando policial chegou de forma intempestiva e vão invadir uma vivenda. Trata-se da casa de uma pintora muito conhecida na vizinhança. Na volta de uma escada oito polícias, como gatos na escuridão, cercam a casa. A casa está pintada de rosa e tem um grafitti contra o golpe na fachada. Os polícias golpeavam a porta com paus. Partem os vidros da janela. Um dos polícias, com uma bomba lacrimogénea na mão, calcula o ângulo para lançá-la dentro da casa. O veículo identificado como Polícia Nacional aguarda-os na parte debaixo das escadas. O polícia que conduz dá o alerta de que um grupo de jornalistas estão a gravá-los. O chefe da operação (subcomissário García) tapa-nos a lente de uma das câmaras. Outros tapam-se o nome costurado nos seus coletes. Há vizinhos que abrem as suas portas e janelas confiados na presença da imprensa internacional e gritam-lhes, denunciam-nos. Os polícias tratam de retirar-se. O polícia identificado como García justifica-se argumentando que vive nessa vizinhança e que não suportava que a sua vizinha houvesse pintado na fachada: "GOLPISTAS: EL MUNDO LOS CONDENA", "VIVA MEL". Foi esse o argumento do funcionário para desencadear o terror contra uma mulher humilde. Membros de organizações de Direitos Humanos e da Frente de Advogados contra o Golpe fazem-se presente e os polícias fogem acossados pela denúncia. A mulher que, temerosa, por fim abriu a porta, também saiu do bairro. Foi dormir num lugar seguro, perante a ameaça de que voltassem à sua procura mais tarde.
Um jovem a aparentar 20 anos caminha por uma rua escura em plena noite. Tem o rosto banhado em sangue e uma ferida na fronte de uns 5 centímetros. Anda descalço. Explica-nos: estava na porta da sua casa quando uma camioneta da polícia apareceu na sua rua e sem meias palavras saíram e golpearam-no entre outros. Atiraram-no para cima da camioneta e arrancaram com ele. Enquanto davam voltas e o pateavam, revistaram-lhe os bolsos despojando-o de um telemóvel e do seu relógio. Continuava jogado no piso da camioneta enquanto escutava os polícias a discutirem sobre quem ficava com o relógio e quem com o celular. Deixaram-no estendido longe da sua casa. O jovem não quis fazer a denúncia. Não queria mais problemas com a polícia, estava aterrorizado. Só pedia que o levássemos à sua casa.
Outro jovem é detido na esquina do seu bairro. Antes de subi-lo para a camioneta, quatro polícias lhe dão uma sova. A seguir esvaziam uma lata de tinta em spray na sua cara. O jovem respira com dificuldade. Conta-nos no hospital, enquanto lhe limpam a tina dos olhos inflamados pelos golpes, que um dos polícias lhe dizia enquanto o golpeava: "Não é da resistência? Poi resiste!"
Numa ponte há um posto de controle. Detêm-nos e entabulamos conversação com os polícias qualquer assunto para poder seguir. Um veículo que passa por ali percebe o posto de controle e retrocede lentamente. Um dos polícias que nos mandou parar olha o carro a retroceder e convida-nos, divertido, a ver o que vai acontecer, mas obrigando-nos a manter as câmaras desligadas. Sob a ponte, pela rua que seguiu o carro que tentar evitar o posto de controle, há um grupo de polícias a caçar os que tentam evadir-se. Detêm-no. Na parte de cima da ponte não se vê mas ouve-se... ouve-se a porta que se abre... ouve-se a raiva e os insultos dos polícias, os golpes contra o carro... ouvem-se outros golpes e os gritos do condutor. Não ouvimos mais. O carro seguiu dali a pouco.
Ouvem-se disparo numa avenida paralela a um bairro popular. Uma camioneta cheia de polícias é a que dispara na noite, às cegas, contra as casas do bairro. Vão devagar. Nada os ameaça. Disparam repetidamente. Nem sequer apontam. Só semeiam o terror na sua passagem.
Num comissariado à meia-noite, os membros de organizações de direitos humanos, advogados e imprensa internacional perguntam pelos detidos, que acabámos de ver que desceram de uma pick-up patrulha (eram cerca de 10). Sarcasticamente, o oficial diz-nos que ali não têm ninguém preso. Mas os presos gritam que são da resistência. Gritam os seus nomes. O oficial continua a negar o que é evidente. A insistência dos advogados e dos defensores dos direitos humanos consegue que soltem a metade dos detidos e que um médico venha a essa hora constatar o estado físico do resto. Todos golpeados, sangrando. Pela manhã os advogados da resistência conseguiram que os soltassem.
Em outro comissariado, atrás de um portão negro, escutam-se as vozes de pelo menos uma vintena de pessoas a recitarem os seus nomes. Do lado de fora umas quantas mães e esposas tentam estabelecer contacto com o seu familiar, tentam reconhecer-lhes a voz. Os uniformizados riem diante da cena. Aproximam-se e golpeiam contra o portão... ...e contra os familiares.
Em outro bairro, nas alturas de Tegucigalpa, cerca de 40 uniformizados, entre policias e militares, avançam apontando fuzis de guerra às casas. Quando se pergunta quem é o comandante dessa operação todos os uniformizados assinalam-nos um militar. Este diz que é uma operação de rotina, porque "o governo não vai continuar a permitir desordens" e que "o que se passe a essa hora não é da sua responsabilidade porque há toque de recolher". As credenciais de imprensa internacional e de organizações humanitárias dificilmente conseguem abrir-nos passagem e continuar. Os uniformizados afastam-se. As luzes das casas no bairro se vão acendendo à medida que o esquadrão do terror se afasta. Ninguém sai, mas ouvem-se gritos: "Assassinos", "Urge Mel", "Viva a Resistência".
Estes são apenas alguns casos dos que pudemos ver numa noite. Todos os dias ocorre o mesmo. Não se sabe quantos detidos há a cada noite. Não se sabe quantos corpos são rompidos, maltratados, humilhados nas noites de Honduras. Não se sabe quantas mulheres são violadas. Não se sabe os nomes, as idades, não se conhecem os testemunhos... porque os toques de recolher são para isso. Para que a matilha de assassinos que sustentam esta ditadura semeie o terror sem que transpira aos media e para que as vítimas se imobilizem e não denunciem.
Nas noites de Honduras não brilham as estrelas. Só as luzes das patrulhas e o sangue dos que caem nas mãos da matilha uniformizada. Botas e mais botas nas ruas, nas costas, nos rostos dos hondurenhos. E apesar do terror que a cada noite semeia a ditadura, não há medo. A resistência continua.
Quando sai o sol, há marchas, tomadas de ruas, mobilizações pacíficas mas desafiantes e contundentes. Os que curam as suas feridas talvez não os vejamos durante alguns dias nos protestos, mas a notícia corre e a indignação pelo que se está a passar hoje em Honduras faz com que muitos mais se incorporem. Noventa dias de resistência. Corpos contra balas. Os organismos direitos humanos referem-se a mais de 600 detidos, dos que se tem conhecimento. Mas muitos são detidos e torturados na noite e não denunciam por medo. Honduras precisa que o mundo reaja mais rapidamente perante a terrível violação dos direitos humanos que se está a verificar. A diplomacia não basta. É urgente que o mundo actue, aqui em Honduras e agora.
PS: As organizações de direitos humanos e advogados solidários fazem um trabalho incansável para atender as vítimas, para acompanhar as denúncias, para efectuar registos. Mas não têm recursos. Não contam com o mínimo. Não têm como encher o reservatório de gasolina para se deslocarem aos lugares, não têm saldo nos telefones para efectuar as chamadas necessárias. E ainda assim fazem magia para defender os direitos dos seus compatriotas. Levam 90 dias fazendo magia e é muito o que conseguem. A sede da COFADEH está a toda hora cheia de gente que vai denunciar os atropelos vividos, e cheia também de gente que vai apoiar o seu trabalho. Muitos e muitas dirigentes destas organizações de direitos humanos foram perseguidos, encarcerados para tentar calá-los. Apesar das dificuldades continuam a ser o único lugar aonde acudir para buscar refúgio diante da repressão. É urgente a solidariedade povo a povo, que os organismos de direitos humanos de outros países, que os comités de solidariedade de outros países se ponham em contacto com eles e os apoiem, divulguem as suas denúncias, enviem apoio a essas organizações que em Honduras lutam contra o Terror da Ditadura.
No vídeo abaixo o fechamento de uma emisora de rádio não alinhada aos golpistas.

O COMPROMISSO DOS REVOLUCIONÁRIOS COM A CIVILIZAÇÃO

Ao surgirem, tanto o marxismo quanto o anarquismo prometiam conduzir a humanidade a um estágio superior de civilização. A proposta de ambos era a de um melhor aproveitamento do potencial produtivo existente, direcionando-o para a promoção da felicidade coletiva, ao invés de desperdiçá-lo em desigualdade e parasitismo. A hipótese anarquista nunca foi testada: não houve país em que cidadãos livres organizassem a economia e a sociedade sem a tutela do estado. A hipótese marxista não foi testada da forma como seus enunciadores previam: em países cujas forças produtivas estivessem plenamente desenvolvidas.
Nas duas nações que realmente contam, a revolução teve de cumprir uma etapa anterior, qual seja a de acumulação primitiva do capital, já que se tratava de países ainda desprovidos da infra-estrutura básica para uma economia moderna. Acabaram tendo de exigir esforços extremos dos trabalhadores; e, como eles não se dispunham livremente a isto, a URSS e a China, cedendo ao imperativo da sobrevivência, coagiram-nos a dar essa quota de sacrifício.
Ou seja, tornaram-se tiranias. Uma mais brutal e assassina, a stalinista. A outra mais messiânica e fanática, a maoísta. Sobreviveram exatamente até cumprirem a função por elas assumida, de trazer países atrasados até o século XX. A partir daí, entretanto, passaram a emperrar as forças produtivas, ao invés de as deslanchar.
O socialismo real da União Soviética e satélites caiu de podre na década de 1980, com as nações voltando ao capitalismo. O maoísmo tentou ainda resistir aos ventos de mudança com a revolução cultural, em vão. Depois de uma luta travada na cúpula, sobreveio o pior dos mundos possíveis, um amálgama de capitalismo de estado na economia e ditadura do partido único na política.
De 1989 para cá não surgiu uma proposta revolucionária alternativa, capaz de vingar nos países economicamente mais desenvolvidos - aqueles que, segundo Marx, traçam o caminho que depois é seguido por todos os outros.Inexiste hoje uma estratégia que contemple a concretização simultânea das três bandeiras principais do marxismo e do anarquismo: a promoção da justiça social, o estabelecimento da liberdade plena e o incremento da civilização.Unir essas três pontas soltas, na teoria e na prática, é nossa principal tarefa no século XXI.
FLERTANDO COM O APOCALÍPSE
Até lá, devemos esforçar-nos para, pelo menos, não nos tornarmos agentes da tirania e da barbárie. O capitalismo globalizado é tão decadente, putrefato e destrutivo quanto a escravidão nos estertores do Império Romano. Já não oferece valor positivo nenhum à sociedade, só os negativos. É mais um motivo para não nos comportarmos como a imagem invertida de nossos inimigos.Se a indústria cultural deles se tornou totalmente parcial e tendenciosa, não é justificativa para substituirmos a reflexão pela propaganda em nossos meios de comunicação, endeusando líderes, exagerando acertos e minimizando/escondendo erros.
A imprensa burguesa se desacredita e desmoraliza a olhos vistos. Temos de ocupar esse espaço vazio, mostrando-nos capazes de cumprir melhor as três funções do jornalismo: informar, formar e opinar. E não deixarmos que a função opinativa impregne tudo e determine o conteúdo das outras duas. Se eles nâo dispõem mais de credibilidade, só teremos a ganhar zelando religiosamente pela nossa.E não é qualquer forma de luta que nos serve, como serve para eles. Os EUA não hesitaram em fazer do povo japonês uma cobaia dos efeitos de petardos atômicos, detonando-os para, principalmente, servirem como efeito-demonstração: queriam intimidar Stalin. Para forçar a rendição japonesa, hoje está mais do que provado, os holocaustos de Hiroshima e Nagasaki não eram necessários.
Se houve uma verdadeira lição desses episódios terríveis, é a de que nunca mais as armas atômicas devem ser utilizadas, contra ninguém, absolutamente ninguém! Então, por piores que sejam as atrocidades cometidas por Israel, ainda assim não há hipótese em que verdadeiros revolucionários possam defender projetos nucleares, mesmo estando direcionados contra o estado judeu.Até porque, como será impossível evitar a retaliação, o que está em jogo é a destruição simultânea de dois países e seus povos, afora os efeitos devastadores sobre as nações vizinhas e seus povos.
Quanto ao equilíbrio do terror - a tese de que, se nações inimigas possuírem armas nucleares, nenhuma as ousará disparar -, foi exatamente a que quase levou à destruição da humanidade em 1962. Pois, por nela acreditarem, os cientistas responsáveis pela bomba estadunidense vazaram o know-how para os soviéticos.
Como consequência, na crise dos mísseis cubanos estivemos a um passo de uma guerra atômica que, provavelmente, teria extinto a espécie humana. Fomos buscar a salvação na bacia das almas.Nem meio século se passou e já admitimos flertar de novo com o apocalípse?!Ao invés do equilíbrio do terror, a opção mais sensata é limitarmos o ingresso de nações instáveis no clube atômico. Mesmo porque, quanto mais países dispuserem de armas nucleares, maiores as chances de que sejam utilizadas. Pensadores como Norman O. Brown veem o capitalismo, em última análise, como um instrumento cego da destruição da humanidade. Isto se torna bem plausível se considerarmos, p. ex., as alterações climáticas e a devastação de recursos naturais essenciais à nossa sobrevivência.Para nós, os empenhados na construção de um mundo melhor, o desafio é evitarmos que o enterro do capitalismo seja também o da espécie humana.

Em editorial, Folha decide apoiar os golpistas de Honduras


Na imprensa, os editoriais servem como declaração de tomada de posições. Revela como aquele veículo de comunicação irá se posicionar editorialmente em relação a determinado assunto. O editorial é o espaço esclarecedor que mostra com todas as letras o que os textos da cobertura jornalística mantém nas entrelinhas.
Nesse sentido, é esclarecedor o editorial desta terça-feira (29) da Folha de S. Paulo sobre a situação de Honduras.Ao invés de condenar os golpistas, como está fazendo toda a comunidade internacional, a Folha prefere criticar o governo brasileiro por dar abrigo ao presidente Manuel Zelaya. E pior: chega a elogiar os golpistas, dizendo que o "regime chefiado por Roberto Micheletti em Honduras ocupa categoria bem mais tênue de ilegitimidade democrática". A frase é praticamente uma releitura internacionalizada do termo "ditabranda" que tanto constrangimento causou ao jornal. (
leia aqui)
E mais: o editorial ainda afirma que o "governo interino (...) respeitou a linha sucessória constitucional, assegurou o poder em mãos civis e manteve o calendário das eleições presidenciais, marcadas para 29 de novembro".Ignorando as mais elementares noções de política externa, o jornal também "estranha" que o governo brasileiro não negocie com o "presidente" Micheletti, o que seria uma forma de reconhecer o governo golpista.
No editorial, não há palavra de condenação ao estado de sítio declarado pelo governo golpista, nem sobre os ataques à imprensa, ou sobre as ameaças à sede diplomática brasileira e as sucessivas violações aos direitos humanos perpetradas pelos gorilas hondurenhos.Após um editorial tão esclarecedor, não causará surpresa se a cobertura jornalística dos veículos de comunicação do grupo Folha começar a pender para o apoio aberto aos golpistas que assaltaram o poder em Honduras.Da redação,Cláudio Gonzalez
Veja abaixo a íntegra do editorial da Folha:
Um passo atrás
"Brasil se intromete mais do que deve em Honduras e toma atitude estranha de negar-se ao diálogo com governo de fatoO ENVOLVIMENTO do Brasil na crise hondurenha foi além do razoável, e provavelmente o Itamaraty já perdeu a capacidade de mediar o impasse. É preciso dar um passo atrás e recuperar a equidistância em relação seja à intransigência de um governo ilegítimo, seja a uma plataforma, dita bolivariana, descompromissada com a democracia.O Brasil perdeu o mando sobre sua embaixada em Tegucigalpa. A casa está ocupada por cerca de 60 militantes, que acompanham o presidente deposto, Manuel Zelaya. Devido à omissão do governo brasileiro, Zelaya e seu séquito transformaram uma representação diplomática estrangeira numa tribuna e num escritório político privilegiados.O salvo-conduto para o proselitismo chegou ao ápice no sábado. De dentro da embaixada brasileira, Zelaya conclamou a população do país à revolta. Se o Brasil considera o presidente deposto seu "hóspede", deve impor-lhe a regra fundamental da hospitalidade diplomática: calar-se sobre temas políticos internos. Do contrário, caracteriza-se intromissão de um país estrangeiro em assuntos domésticos hondurenhos.A propósito, terá o Itamaraty controle sobre todos os cidadãos alojados em sua representação? Sabe, de cada um, a nacionalidade e o motivo de estar ali? O abrigo deveria restringir-se a Zelaya e seus familiares próximos; todos os demais precisam ser retirados da embaixada. Não cabe ao Brasil hospedar a guarda pretoriana do presidente deposto.Outra posição cada vez mais estranha do Brasil é a recusa absoluta de negociar com o governo interino de Roberto Micheletti. Tal intransigência contraria a tradição diplomática do Itamaraty, não contribui para a dissolução do impasse e cai como uma luva para o objetivo do chavismo -interessado em prolongar a desestabilização política em Honduras.O presidente Lula negocia com a ditadura cubana e a favor dela interveio na Assembleia Geral da ONU. Em Nova York, afagou o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que acabava de reiterar a negação do Holocausto e ser flagrado em nova trapaça nuclear. Logo depois, na Venezuela, Lula se reuniu com golpistas africanos e ditadores homicidas do continente, como Robert Mugabe (Zimbábue) e Muammar Gaddafi (Líbia) -o líder sanguinário do Sudão não pôde comparecer porque poderia ser preso numa conexão aérea.O regime chefiado por Roberto Micheletti em Honduras ocupa categoria bem mais tênue de ilegitimidade democrática. Violou a Constituição ao expulsar do país um presidente eleito, quando a ordem da Corte Suprema era de prender Zelaya, por afronta a essa mesma Carta. O governo interino, contudo, respeitou a linha sucessória constitucional, assegurou o poder em mãos civis e manteve o calendário das eleições presidenciais, marcadas para 29 de novembro.O Brasil precisa recobrar a lucidez diplomática -e, com ela, a sua capacidade de mediação. Ajudar a dissolver o impasse é a melhor contribuição que o Itamaraty tem a oferecer no caso de Honduras".

Veemência de Lula forçou a ação da ONU

Poucas horas depois de seu veemente discurso (leia AQUI) na Assembléia Geral da ONU, o presidente Lula (foto AFP acima) já poderia fazer ontem um balanço surpreendentemente favorável do episódio do “abrigo” dado pela embaixada do Brasil em Tegucigalpa ao presidente constitucional de Honduras, Manuel Zelaya – expulso há três meses do palácio presidencial e do país pelo golpe que instalou Roberto Micheletti no poder.
A volta a Honduras do presidente legítimo criou um fato novo. O governo Obama – devido à diplomacia sinuosa conduzida pela secretária de Estado Hillary Clinton, antes ambígua e apoiada em personagens duvidosos herdados do governo Bush, como Hugo Llorens e Thomas Shannon – parecia disposto a fazer corpo mole até ser consumido todo o restante do mandato de Zelaya (leia AQUI, AQUI e AQUI) numa tática destinada a favorecer os objetivos golpistas.
O regime do golpe não conseguiu ser reconhecido por qualquer país, mas sabotou e fez fracassar a mediação do presidente costarriquenho Oscar Árias – uma idéia infeliz de Washington, marginalizando a OEA. Agora, ao contrário, o Brasil revigorou o processo, forçou compromisso do governo Obama com a democracia e mobilizou a OEA e em especial a ONU, que afinal tomou suas primeiras medidas concretas (o debate no Conselho de Segurança é previsto para amanhã).
O secretário geral Ban Ki-moon (foto ao lado) suspendeu temporariamente a assistência técnica atualmente dada pela ONU ao Supremo Tribunal Eleitoral de Honduras, por não acreditar que haja condições neste momento de se fazer eleições com um mínimo de credibilidade e capazes de devolver a paz e a estabilidade ao país. O regime do golpe tentava impingir a votação com os adversários acuados e a imprensa sob controle.

O fato novo que mudou tudo
O secretário geral citou a preocupação da ONU com as denúncias de violações dos direitos humanos (o regime também reprime a mídia contrária ao golpe, como acusou o grupo Repórteres Sem Fronteiras). Ao mesmo tempo, conclamou os golpistas a respeitarem os tratados e convenções internacionais ratificados por Honduras, inclusive – e principalmente – a inviolabilidade da missão diplomática do Brasil.
Convencido de que o fim da crise hondurenha exige acordo consensual, Ban Ki-moon apoiou as tentativas regionais de mediação e conclamou todos os atores políticos a redobrarem esforços nessa direção. Uniu-se ainda à OEA e aos líderes regionais e fez apelo em favor de um acordo, conclamando à busca ao diálogo – para o qual a ONU está pronta a colaborar (leia a cobertura da Reuters no New York Times
AQUI).
Nada disso aconteceria sem a cobrança enfática de Lula, ante o cerco dramático à embaixada brasileira, ao abrir a Assembléia Geral. Mas no Brasil isso é pretexto para a nova campanha da mídia golpista – para variar, contra o país mais do que contra o presidente. Às explícações claras e lúcidas do ministro do Exterior Celso Amorim sobre a chegada de Zelaya à embaixada de Tegucigalpa, ela prefere imaginar seus próprios complôs fantasiosos.

O que o ministro relatou na entrevista – em Nova York, duas horas e meia após a chegada de Zelaya à embaixada – a jornalistas brasileiros e estrangeiros desmente a versão intrigante da mídia golpista, que apóia o golpe de Honduras como em 1964 apoiava o do Brasil e, depois, os 20 anos de ditadura. Na visão distorcida dela, o governo Lula foi parte de uma trama da Venezuela de Hugo Chávez com Zelaya.

O alarme falso e a verdade
A embaixada soube da presença de Zelaya em Honduras, segundo Amorim, meia hora antes da chegada dele ao prédio. A primeira dama Xiomara Castro – que não deixara o país com o marido, preferindo manter-se ativa nos protestos de rua e na articulação contra os golpistas – pediu para ser recebida pelo encarregado de negócios do Brasil, ministro Francisco Catunda Resende, a quem informou que Zelaya estava nas cercanias e viria procurá-lo.
Antes tinha circulado a informação de que o presidente deposto estava em Honduras, mas na representação da ONU em Tegucigalpa – o que provocara ação repressiva contra manifestantes em frente ao prédio. Comprovada a falsidade de tal informação, o chefe do regime golpista, Roberto Micheletti, apareceu triunfante na TV para garantir que Zelaya, ao contrário, “continua desfrutar de sua suíte num hotel na Nicarágua”.
O ministro Catunda Resende, após ouvir Xiomara, comunicou a situação a seus superiores no Itamaraty e foi autorizado a receber Zelaya – informação passada depois a Amorim e ao presidente Lula. Nenhum contato foi feito com o governo golpista de Honduras porque o Brasil só reconhece como presidente o próprio Zelaya, eleito pelo voto nos termos da Constituição e derrubado pelo golpe militar.
Amorim explicitou ainda que Zelaya (foto ao lado), segundo a informação transmitida por ele próprio à embaixada, chegara “por meios próprios e pacíficos”. E não está ali na condição de asilado, já que o Brasil, como a comunidade internacional, a ONU, a OEA e demais governos, inclusive o dos EUA, continua a reconhecê-lo como presidente constitucional. Assim, é hóspede no prédio como “abrigado” – ou “refugiado”, palavra usada por Lula ao discursar na ONU.
Que governo cometeria a temeridade de negar “abrigo” – ou “refúgio” – em sua embaixada ao presidente que reconhece como constitucional e legítimo? Afinal, se o fizesse haveria o risco até de provocar sua captura – ou assassinato – pelo regime instalado no golpe de 28 de junho. Pelo relato de Amorim ficou claro que o Brasil se vira diante de um fato consumado, enquanto os golpistas passavam a exigir a entrega de Zelaya – para ser preso.
A irresponsabilidade sem limite
O quadro exposto por Amorim na primeira entrevista sobre o caso em Nova York (clique no YouTube ao fim deste post para ouví-lo) não deixava margem a dúvida. Mas a mídia golpista, habituada a fabricar estratégia para a oposição demo-tucana de virgílios, agripinos, maias & freires, anunciou nas horas seguintes outra de suas desastradas e pândegas investigações parlamentares – do tipo mensalão, dossiê fajuto, apagão aéreo, marolinha, Sarney, Petrobrás, etc.
Nada resultou de nenhuma, já que elas tinham em comum seu caráter destrutivo. Sistematicamente contra o Brasil e os brasileiros, só buscam prejudicar os interesses do país e comprometer sua imagem no mundo. Como o esforço (que ainda persiste) contra a Petrobrás no momento mesmo em que essa empresa, orgulho nacionl, faz sua maior e mais consagradora descoberta.

Comparem o relato de Amorim com as manchetes irresponsáveis de O Globo na terça-feira (“Brasil abre embaixada para Zelaya tentar retomar o poder em Honduras”) e na quarta (“Ação do Brasil acirra crise e tensão cresce em Honduras”). A “Folha”, ao menos, limitou as manchetes ao factual: terça, “Zelaya volta e se refugia na embaixada brasileira”; quarta, “Honduras sitia a Embaixada do Brasil”. De certa forma é também o caso do Estado de S.Paulo hoje, ao sugerir o que parece fazer sentido: Zelaya, por sugestão de Chávez, teria percebido ser a embaixada brasileira a que melhor serviria a seus propósitos (leia o texto na íntegra AQUI).
A obsessão golpista do império Globo gera jornalismo de esgoto. No jornal, TV e penduricalhos. Não há limite para a leviandade. Bom exemplo é a gravação de áudio ridículo no qual uma brasileira, Eliza Resende Vieira, vocifera contra Zelaya – e contra o Brasil, por defender a democracia e a vida dele, o que cria embaraços para gente como ela. Parecia comercial, repetido à exaustão pelos irmãos Marinho em diferentes programas, veículos e horários.


Vídeo youtube


Texto original publicado em: http://argemiroferreira.wordpress.com/2009/09/24/veemencia-de-lula-forcou-a-acao-da-onu

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O monopólio é a causa da fome no mundo

Por Archibaldo Figueira
Bastou Luiz Inácio anunciar que pretendia fazer do Brasil "a Arábia Saudita do Biocombustível" e informar que os pobres do mundo estão comendo mais, para o imperialismo, representado por Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, pedir um esforço global contra o flagelo da fome, que seguirá em escalada até 2015 devido à alta dos preços dos alimentos.
Responsabilizando os biocombustíveis pela disparada dos preços alimentícios, Zoellick, como Luiz Inácio, finge não saber que apenas 50 transnacionais controlam a produção agrícola mundial, detendo a terra, os cultivos, a industrialização e a comercialização.
Voracidade
A escandalosa alta de preços do arroz, feijão, milho, soja e outras commodities vai matar 100 milhões de pessoas, sendo 10 milhões na América Latina, segundo cálculos da CEPAL, visto que a irracionalidade da chamada "globalização neoliberal" atingiu grau tão elevado, que as leis de mercado funcionam ao contrário do que apregoam os economistas de aluguel: a maior oferta, junto com a menor capacidade de compra, não resulta em queda de preços, mas no contrário.
O mito do "livre mercado" produziu concentração e centralização de capitais e recursos em poucas mãos, ou seja, fortaleceram aqueles poucos donos do mundo que intensificam a exploração e impõem os preços que bem entendem para obter o lucro máximo. Na verdade, a "globalização" não intensificou a concorrência, mas facilitou a tomada de controle do mundo por meia dúzia de potências que dão as cartas no FMI e Banco Mundial e OMC.
Sem a menor preocupação em alimentar a humanidade, os Monos-pólios condicionam diariamente a vida de todos, criando guerras reais e de mercado, infiltrando-se nos governos e meios de comunicação, concentrando enorme poder de propaganda, comprando políticos e tribunais inteiros, e se apropriando dos mercados, desde a produção até a compra direta do consumidor.
Se é assim, em âmbito doméstico, pior ainda no plano internacional, no qual o preço de cada mercadoria internacionalizada é objeto de especulação. Não há mais uma relação direta do preço com o custo de produção, que é apenas uma referência. A manipulação maior dessas empresas sobre a produção nacional e comércio internacional é um instrumento para alcançar seus lucros.
A influência desse setor sobre a política econômica da gerência Luiz Inácio é por meio do Banco Central, que monitora as taxas de juros e câmbio. Numerosos especialistas estabelecem uma correlação direta entre o aumento do preço do arroz e outros gêneros e a desvalorização do dólar. Para eles, governos (como o chinês) e os fundos de risco, que representam capitais especulativos, estão aplicando grandes somas de seus dólares, antes que se depreciem, em terras e bolsas de artigos agrícolas, como o arroz.

Supermercado
O bicho-papão dos supermercados é o Wal-Mart, com 4.500 lojas em 14 países e faturamento maior do que o produto interno bruto da Arábia Saudita e da Áustria. Em seguida, vêm Carrefour, Home Depot, Metro e Royal Ahold, segundo pesquisas do Grupo ETC, Oligopoly Inc 2005, que monitora as atividades das corporações globais, especialmente na agricultura, alimentação e farmácia.
Maior rede varejista do mundo — tem quase 1,7 milhão de funcionários —, maior companhia ianque, mais poderosa cliente das indústrias de bens de consumo, o Wal-Mart passou de um empório a uma potência cujas vendas alcançam inacreditáveis 300 bilhões de dólares ao ano. Muitos dos grandes movimentos do capitalismo americano — como a recente fusão da Procter & Gamble com a Gillette — foram resultados da enorme pressão exercida pela rede.
As prateleiras do Wal-Mart e de todos os outros supermercados do Brasil estão abarrotadas de produtos da Bunge, como as margarinas Delícia, Primor, Soya, Cyclus; os óleos Soya, Primor, Salada e Cyclus; as maioneses Primor e Soya; e azeites Delícia e Andorinha. Muitos desses óleos são transgênicos e, por determinação judicial, deveriam ter um rótulo especial para alertar o consumidor. Nunca respeitaram esse dispositivo legal. A gerência Luíz Inácio prometeu quebrar este monopólio, mas até agora não adotou nenhuma providência.
Com a Cargill e a ADM, a Bunge controla 60% da produção de soja no Brasil, para alimentar o gado na Europa. O preço e o comércio das commodities, em geral, são manipulados ainda pela Dreyfus, Syngenta e Monsanto.
Para colocar cada vez mais produtos no mercado mundial, esse grupo promove o desmatamento ilegal, inclusive com trabalho escravo, grilagem de terras públicas e violência contra comunidades locais.
A especulação desses grupos é responsável pela elevação dos preços dos cereais, principalmente o arroz, artigo que não é utilizado na produção de biocombustíveis e cuja safra atingiu o recorde de 423 milhões de toneladas. Seu preço, entretanto, mais que duplicou em um ano, passando a tonelada de 360 para 760 dólares.
Laticínios
Na área de laticínios, o mercado é manipulado por apenas três: a Nestlé, a Parmalat e a Danone. A Nestlé domina também o setor de processamento de alimentos e vende o dobro ou o triplo dos demais componentes do monopólio: Archer Daniel Midlands, Altria, PepsiCo, Unilever, Tyson Foods, Cargill, Coca-Cola, Mars e Danone.
Há décadas a Nestlé é responsabilizada pela desnutrição e morte de crianças de idade tenra, devido à suspensão precoce das campanhas em prejuízo do aleitamento materno, para expandir as vendas dos seus produtos, principalmente o leite em pó, as sopinhas e papinhas que, muitas vezes, contém até alimentos transgênicos.

Há décadas a Nestlé é responsabilizada pela desnutrição e morte de crianças devido à suspensão das campanhas do aleitamento materno, para expandir (suas) vendas principalmente do leite em pó, das sopinhas e papinhas que até contém transgênicos
Cerca de 46 milhões de crianças frequentam as 170 mil escolas fundamentais mantidas pelo poder público no Brasil. Pelo menos 30% dessas crianças só podem frequentar os bancos escolares porque é servida uma refeição na escola. E a merenda escolar também é campo para toda sorte de corrupção por parte dos monopólios.
Recentemente, o Tribunal de Contas de São Paulo descobriu uma fraude na Prefeitura de São Paulo que promoveu uma licitação para a merenda escolar.
Examinando o processo, o Tribunal de Contas percebeu que o edital fora preparado para beneficiar a Nestlé-Maggi, corporação transnacional que se comprometia a atender todas as exigências dos nutricionistas, compreendendo 7 kg de carne, 2 kg de cenoura e 3 kg de "outras" hortaliças (por 100 kg de sopa desidratada a ser distribuída). Logo após a contratação, Kassab autorizou a Nestlé-Maggi a mudar a receita da sopa, que passou a ter apenas 0,5 kg de carne, 0,8 kg de cenoura e 1 kg de "outras" hortaliças. O preço do contrato, todavia, permaneceu o mesmo.
Constatou-se que a Nutri Plus, empresa terceirizada responsável pelo fornecimento da merenda escolar, oferece um bônus mensal de R$ 40 reais às merendeiras que reduzirem a quantidade do ali-mento dos estudantes das escolas municipais, entregando maçã aos alunos pela metade; misturando pedaços de frango a legumes não previstos no cardápio ou acrescentando bastante água ao molho de tomate para a refeição render mais.
Este crime foi denunciado por nove cozinheiros de escolas municipais, que, indignados com a medida, se recusaram a receber o abono. Nem a Câmara Municipal conseguiu instalar uma comissão parlamentar de inquérito para comprovar a fraude.

Sementes e Fertilizantes
Entre 2005 e 2007, as 10 maiores indústrias de sementes, que detinham um terço comércio global, passaram a controlar a metade, e a Monsanto, após a compra da empresa mexicana Seminis, passou a controlar 90% da venda, inclusive das transgênicas, seguida pela Dupont, Syngenta, Groupe Limagrain, KWS Ag, Land O'Lakes, Sakata, Bayer Crop Sciences, Taikii, DLF Trifolium e Delta and Pine Land.
Em agrotóxicos, as 10 principais concentram 84% das vendas globais e são: Bayer, Syngenta, BASF, Dow, Monsanto, Dupont, Koor, Sumitomo, Nufarm e Arista. Os analistas dizem que, com tal nível de concentração, em breve serão apenas três: Bayer, Syngenta e BASF.
No Brasil, as lavouras de soja (33%), de milho (17%), de cana-de-açúcar (15%), café (8%) e algodão herbáceo (5%) são as maiores consumidoras de fertilizantes, respondendo por 78% do consumo nacional. Esse mercado movimenta mundialmente cerca de US$ 60 bilhões anuais. O grupo Bunge, com sede no USA, faturou R$ 18,2 bilhões em 2006 no Brasil. Só a Bunge fertilizantes tem aqui 3.000 funcionários e 60 mil clientes.

Criança implora por comida
Ao atribuir a escalada mundial dos preços dos alimentos ao aumento de consumo das massas empobrecidas, o Califa do Etanol, Luiz Inácio varreu da memória a pesquisa realizada pelos Correios no último Natal, comprovando que as crianças pediam a Papai Noel uma cesta básica digna do nome, e não os tradicionais brinquedos.
O jornal francês Le Figaro analisou a pesquisa, batizada de "Operação Papai Noel", destacando que em Pernambuco, 60% das 11 mil cartas revelavam que as crianças pobres pediam geralmente uma cesta básica, mesmo que suas famílias fossem atingidas por um dos programas caritativos e compensatórios da gerência FMI-PT.
Para o jornal francês, as cartas "têm um efeito ainda mais chocante porque as lojas experimentaram a maior explosão de consumo nos últimos 11 anos no Brasil, onde se verifica um dos mais elevados índices de desigualdade do mundo. A Operação Papai Noel demonstra que o programa de subsídios sociais instaurado pelo governo Lula não é suficiente nem para reduzir os desvios estruturais, nem para erradicar a fome.

A escassez dos alimentos
Analisando os custos da alimentação, em 2007, todos os institutos de pesquisa constataram que o preço dos artigos básicos superou de longe o reajuste de 8,57% fixado para o salário mínimo em abril, com aumentos da cesta básica variando de 11,46% em Curitiba, 24,38% em Aracaju e 29,79% em Belo Horizonte. É preciso afirmar que entre os setores mais empobrecidos da população esses índices são consideravelmente ampliados.
Os repetidos discursos de todos os integrantes da gerência FMI-PT, estimulando cultivos vinculados à monocultura latifundiária para exportação e destinados à produção de biodiesel, como soja, cana, milho e outros artigos, provocou o abandono da produção de alimentos como o feijão, que registrou um aumento de preço de 200%, em média. O desvio de finalidade de alimentos para os biocombustíveis causou também o aumento dos preços nos supermercados, como o milho em grão (50,7%), e óleos combustíveis (33,27%).
A plantação total ocupou em 2007 uma área de 46,4 milhões de hectares, 0,3% maior que a do período anterior. Os produtos que mais apresentaram incremento na produção foram: o trigo com 71,5% (1.597,7 mil toneladas); o milho 1ª e 2ª safra com 3,9% (1.999,3 mil toneladas) e o arroz com 5,5% (625,7 mil toneladas). Porém isto não acompanha as reais necessidades da população.
Como consequência, o salário mínimo necessário para suprir as despesas (alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência) de uma família de quatro pessoas seria, em dezembro, de R$ 1.803,11, de acordo com o calculo do Dieese. Isto representa 4,75 vezes o valor do salário mínimo fixado pela gerência Luiz Inácio.
O economista Heron do Carmo, da Faculdade de Economia e Administração da USP, explica que o padrão de inflação registrado em 2007 foi mais intenso para os pobres, que, segundo ele, gastam mais da metade do que ganham com comida.
Ele diz que foi um padrão diferente do que acontecia em anos anteriores, em que a alta de preços era sentida pelas pessoas com renda maior.

Agora, o domínio da terra
Com a intensificação das grandes jogadas no mercado de alimentos e produção de biocombustíveis, bancos e especuladores estrangeiros passaram a comprar maciçamente terras no Brasil, único país a dispor de campos com área e clima favoráveis à expansão da agricultura para atender às exigências das grandes potências. Esse movimento tem provocado alta no preço das propriedades rurais. Entre 2001 e 2007, o valor médio subiu 131% em reais e 219% em dólar.
AIG Capital, fundo de investimentos que já teve participação na Gol Linhas Aéreas, no Frigorífico Mercosul e na Fertilizantes Heringer, está investindo US$ 65 milhões na compra de ações da Calix Agro, subsidiária da Louis Dreyfus Commodities, criada para adquirir terras e plantar no Brasil.
A Cargill construiu ilegalmente um porto às margens do Rio Tapajós, em Santarém, no Pará, de onde exporta soja para seu terminal em Liverpool, na Inglaterra. De lá, a soja vai até a produtora Sun Valley, também de propriedade da Cargill que, por sua vez, a utiliza para alimentar frangos para produzir os nuggets, distribuídos para as lanchonetes do Mcdonalds em toda a Europa.
Texto Original Postado em:
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